
Que privilégio existir no mesmo tempo que a lenda viva Gilberto Gil! O músico proporcionou uma noite histórica com a estreia de sua última grande turnê, Tempo Rei, realizada na Arena Fonte Nova, em Salvador, no sábado (15).
No espetáculo que contou com cerca de 53 mil pessoas na plateia, o artista revisitou grandes clássicos de sua carreira que foram celebrados pelos fãs do início ao fim da apresentação, provando que não existe Bahia sem Gil e que, muito provavelmente, não existiriam alguns de seus maiores sucessos sem a inspiração de sua terra natal.
Após um atraso de aproximadamente meia hora, fogos de artifício foram lançados no ar e Gil iniciou sua aguardada performance com “Palco”, acompanhada pelo coro dos fãs, seguindo com “Banda Um” e a faixa que dá nome à turnê, “Tempo Rei”.
Ao falar com o público pela primeira vez, o cantor baiano definiu a excursão como a “despedida dos grandes espetáculos que venho fazendo nesses 60 anos”. “Estarmos aqui juntos é o sentido profundo de eu ter me dedicado a essa carreira”, disse Gil antes de entoar um trecho de sua profunda canção “Aqui e Agora”.
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Aos 82 anos de idade, Gil mostrou que não lhe falta energia para celebrar sua carreira e se despedir adequadamente dos grandes palcos. O artista passou a maior parte do tempo em pé e não lhe faltou animação para comandar seu belíssimo show.
Com novos arranjos para boa parte das 29 canções que integraram o setlist, Gil apresentou suas músicas seguindo uma ordem cronológica, que incluiu basicamente o período de 1965 a 1984.
O músico deu continuidade à performance com a composição de Dominguinhos, “Eu Só Quero um Xodó”, que ele popularizou nos anos 1980, e seguiu com “Eu vim da Bahia”, composição dele que se tornou um sucesso na voz de João Gilberto nos anos 1970 e que foi fortemente influenciada pelo samba baiano de Dorival Caymmi, que apareceu nas imagens do telão enquanto Gil a interpretava. As próximas canções foram “Procissão” e “Domingo no parque”.
Um dos momentos mais marcantes da noite foi a lembrança do período da ditadura militar, introduzida por um depoimento de Chico Buarque, outra lenda da MPB, que fez uma breve explicação sobre a música “Cálice”, composta por ele e Gil. “Falava de censura e foi censurada. Desligaram o meu microfone e, depois, o microfone de Gil”, disse Chico, fazendo referência ao AI-5. Após essa fala, o público iniciou gritos de “sem anistia” e, por conta do barulho, não foi possível ouvir o restante do depoimento de Chico.
Com o fim do relato, Gil arrancou suspiros profundos e lágrimas da multidão com uma performance poderosa de “Cálice”. No telão, foram exibidas imagens de vítimas da ditadura, incluindo uma foto do deputado Rubens Paiva – que recentemente teve sua história retratada no filme vencedor do Oscar Ainda Estou Aqui – e do jornalista Vladimir Herzog, que também faleceu durante o regime. Também foram incluídas fotos do próprio Gil e de Caetano Veloso, que foram presos e expulsos do país pelos militares.
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Seguindo a trajetória escolhida para o show, Gil relembrou seu retorno ao Brasil com “Back in Bahia” e, antes de “Refazenda” e “Refavela”, apontou que uma viagem à Nigéria, nos anos 1970, serviu de influência para este período.
O próximo passo do músico no show foi um resgate da sua celebração ao reggae, ao apresentar uma sequência sensacional de “Não Chore Mais”, “Extra”, “Vamos Fugir” e “A Novidade”, todas cantadas com muita força pelo público presente no show em Salvador.
Antes de iniciar o momento “Rock and Roll”, como foi descrito por Gil, com as performances de “Punk da Periferia” e “Extra II”, o músico fez todo mundo vibrar com a dançante “Realce”, que contou com pirotecnia no refrão e continuou com músicas daquele mesmo período tocando “A Gente Precisa ver o Luar”.
Gil também preparou um momento mais intimista, e foi aí que ele finalmente se sentou em uma cadeira para tocar seu violão e interpretar uma impactante sequência que contou com “Se eu quiser falar com Deus”, “Drão”, “Estrela” e “Esotérico”.
Gilberto Gil dedicou show à filha Preta Gil e recebeu convidados
Antes de “Drão”, que emocionou o público mais uma vez, Gil dedicou o show à sua filha Preta Gil, que está lutando contra um câncer e havia deixado o hospital horas antes da apresentação, que ela foi acompanhar diretamente da Arena Fonte Nova. Esta canção foi escrita pelo artista para sua ex-mulher, Sandra Gadelha, mãe de Preta. Ao ouvir a homenagem de Gil, o público puxou um coro do nome da cantora.
Chegando quase na reta final de seu primeiro show da turnê Tempo Rei, Gilberto Gil tratou de voltar às canções mais animadas e fez todo mundo soltar a voz com os sucessos “Expresso 2222” e “Andar com Fé”. Após dar início a “Emoriô”, o público foi surpreendido com a participação especial de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, com quem Gil já havia feito um pot-pourri que reúne sua música e a canção do Baiana “Dia da Caça”.
Em seguida, enquanto surgiam os acordes de “Toda Menina Baiana”, Russo buscou nos bastidores ninguém menos que Margareth Menezes, proporcionando um encontro super especial dos Ministros da Cultura para que os veteranos apresentassem o sucesso. A performance, claro, fez todo mundo sair do chão ao som do “Ah, ah, ah, ah, que Deus deu / Oh, uoh, que Deus dá”.
A banda de Gilberto Gil
Durante toda a sua performance, Gil foi acompanhado por uma talentosíssima banda. O destaque ficou para Mestrinho, que comandou brilhantemente o acordeon e assinou alguns arranjos do show. Além disso, familiares do cantor estavam ao seu lado, como o neto João, seus filhos, Nara, Bem e José e sua nora Mariá.
O impactante show de cerca de 2h30 foi encerrado com o xote romântico “Esperando na Janela” e com o hino “Aquele Abraço”, que ainda foi complementado com um trecho de “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso, antecipando a saída de Gil – o cantor aproveitou para mostrar alguns passos de samba enquanto acenava e andava em direção aos bastidores.
Com a estreia de sua turnê de despedida, Gilberto Gil nos prova que definitivamente o melhor lugar do mundo é aqui e agora, ouvindo seus clássicos que ganharam novas interpretações e vendo sua felicidade e sua resistência em continuar nos palcos depois de tantos anos nos presenteando com o que tem de melhor na música brasileira.
A turnê Tempo Rei segue por uma temporada no Brasil e você pode ver todos os detalhes aqui. Abaixo, confira o repertório completo da apresentação!
Setlist da turnê Tempo Rei, de Gilberto Gil
1. Palco
2. Banda Um
3. Tempo Rei
4. Eu só quero um xodó
5. Em vim da Bahia
6. Procissão
7. Domingo no parque
8. Cálice
9. Back in Bahia
10. Refazenda
11. Refavela
12. Não chore mais
13. Extra
14. Vamos fugir
15. A novidade
16. Realce
17. A gente precisa ver o luar
18. Punk da periferia
19. Rock do segurança
20. Se eu quiser falar com Deus
21. Drão
22. Estrela
23. Esotérico
24. Expresso 2222
25. Andar com fé
26. Emoriô
27. Toda menina baiana
28. Esperando na janela
29. Aquele abraço
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