
O rapper Teto sempre foi um artista que desafiou expectativas. Revelado pelo fenômeno das “prévias”, onde faixas não finalizadas viralizavam antes mesmo de seu lançamento oficial, o artista de Jacobina, Bahia, viu sua trajetória se desenhar de forma meteórica.
Agora, anos depois, ele decide assumir as rédeas de sua arte com Maior Que o Tempo, um disco que não só marca uma virada em sua carreira, mas também um manifesto contra as pressões do mercado.
O álbum, lançado na noite desta quinta-feira (27), apresenta 11 faixas inéditas em que o artista explora a dualidade entre suas raízes no trap e um novo horizonte sonoro. A obra é uma ruptura com o passado e, ao mesmo tempo, um reencontro consigo mesmo.
Como o próprio Teto define, é um trabalho que busca o equilíbrio entre atender às expectativas do público e libertar sua criatividade. “Esse álbum é a introdução do que quero mostrar daqui pra frente. É o momento em que me desprendo das amarras do mercado e libero esse meu outro lado artístico”, afirma.
O artista e suas batalhas internas
A entrevista concedida por Teto revela o quão profunda foi a jornada até este lançamento. Para ele, o rap sempre ocupou um espaço terapêutico. “O rap entrou na minha vida como uma identificação. Era um espaço de desabafo, uma sessão de descarrego”, reflete ao TMDQA!. Essa relação visceral com a música se manteve mesmo quando sua ascensão aconteceu de forma abrupta, tornando-o um dos nomes mais promissores da nova geração do trap nacional.
Mas o estrelato precoce trouxe desafios. “Isso é um desafio até hoje, porque a ficha ainda não caiu sobre tudo o que conquistei”, confessa. Seu desejo de evoluir não se limita à parte artística: ele quer compreender os bastidores do negócio e estar mais envolvido na indústria. “Esse novo disco vai ser um divisor de águas pra minha carreira. É agora que vou ter várias respostas que preciso. Eu ainda sou um aprendiz”, acrescenta.
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A dualidade como narrativa
Maior Que o Tempo se desenrola a partir da metáfora da calculadora apresentada na faixa “Yes or No”. O conceito reflete as escolhas e caminhos que moldaram sua história, desde os erros do passado até a liberdade artística que ele busca agora.
Essa narrativa se reflete na estrutura do álbum, que divide-se em duas partes. A primeira metade resgata uma sonoridade mais clássica, remetendo ao jovem sonhador que ainda precisa provar seu valor. Já a segunda parte rompe com as amarras e abraça a experimentação.
“Eu gosto de explorar o desconhecido dentro da minha arte”, revela Teto. Nesse novo projeto, ele se permite transitar por sonoridades que vão além do trap tradicional. Há influências do afrobeat, MPB e electro-R&B dos anos 2000, elementos que se somam à sua identidade e ampliam seu repertório criativo. “Consegui ser experimental e trazer novas sonoridades, mas sem perder minha essência”, destaca.
Desafios e críticas à indústria
A decisão de passar seis anos sem lançar um álbum completo também faz parte dessa busca pela liberdade. Enquanto o mercado exigia lançamentos constantes e singles virais, Teto escolheu o silêncio. “Fui contra tudo e todos. As plataformas e o algoritmo exigem um formato de música para dar resultado e dinheiro. Mas, pra mim, o que importa é o que minha arte significará no futuro”, declara.
Esse período sabático foi essencial para a concepção de Maior Que o Tempo. “Durante esses anos de hiato, eu defini o que seria o álbum, o caminho que eu seguiria”, explica. O projeto, portanto, não é apenas uma coleção de músicas, mas um risco no chão contra as demandas da indústria.
As colaborações e a construção de um legado
O álbum conta com participações estratégicas que ajudam a costurar a narrativa proposta por Teto. WIU, parceiro de longa data, aparece na faixa “Pretty Little Girl”, onde ambos refletem sobre relacionamentos a partir de perspectivas distintas.
Já “Mulher Secreta”, que traz Matuê e WIU, resgata um sample de “Boa Sorte“, de Vanessa da Mata, conectando a nova geração a uma sonoridade nostálgica e sofisticada. “Essa foi a terceira música que criamos juntos desde o começo da 30. Eu guardei ela por muitos anos, porque sabia do seu potencial”, revela.
A faixa-título, Maior Que o Tempo, encerra o disco com um tom de gratidão. Para Teto, o álbum não é apenas sobre sua trajetória, mas sobre deixar um legado. “Ainda não sei onde posso chegar, mas quero ir além”, afirma.
O rapper sabe que este projeto é um ponto de inflexão em sua carreira. Se antes ele era refém do imediatismo das redes e das exigências mercadológicas, agora ele assume o controle. “Coloquei os dois pés na porta para mostrar que não vou seguir as demandas do mercado e vou me libertar.”
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