Daniela Cucchiarelli (de cinza) fica atrás das câmeras durante gravação do clipe do projeto “I Charleston”
Texto: Raqueline Curvelo (colaboração Gabriela Mendonça)
Fotos: Raqueline Curvelo e Gabriela Mendonça
Aconteceu sábado (19/01) o Music Video Festival, primeira edição do festival de videoclipes idealizado pela Cinnamon Comunicação e produzido por Lia Vissotto e Fabiana Batistela. A ideia é exibir e homenagear esse gênero tão conhecido e adorado, mas que recebia pouco reconhecimento nos últimos tempos. Além da premiação que ocorreu no sábado, outros eventos paralelos continuam acontecendo, como a exposição Spectacle, uma homenagem ao videoclipe.
E qual é a melhor forma de começar uma premiação que reconhece o trabalho de diretores e produtores de videoclipes nacionais e internacionais? Gravando um novo clipe, certo? Foi assim o começo dos trabalhos na tarde de sábado, no Museu da Imagem e Som, com a gravação do clipe “Música” da cantora Blubell. A gravação faz parte da campanha “I Charleston the World”, que aparece pelo mundo todo e reúne pessoas para dançar o ritmo em músicas e ambientes diferentes. Veja mais aqui.
Durante a tarde também ocorreu a exibição dos 10 indicados nas categorias nacional e internacional. Entre os destaques, estavam “Mariô”, do Criolo, “Miss Me”, do Grandphone Vancouver, “Sambinha Bom”, da Mallu, “Não se perca por aí” do Garotas Suecas e “EuVoluindo” da Cone Crew Diretoria. Já entre os gringos, Jack White concorria com “Sixteen Saltines”, Major Lazer com “Get Free”, Die Antwoord com “Baby’s on Fire” e “Oblivion” do Grimes, entre outros.
Mas não foi só uma noite de premiação e o m-v-f trouxe convidados gabaritados quando o assunto é videoclipe. No primeiro painel do dia, “Unha & Carne: processos colaborativos”, subiram ao palco Fernando “Del” Reginato (“Mariô” – Criolo), Kahlil Joseph (“Black Up” – Shabazz Palaces), Daniela Cucchiarelli (“Pra Sonhar” – Marcelo Jeneci), Gandja Monteiro (“Eu tenho Poder” – Marcelo D2), Kátia Lund (“Minha Alma” – O Rappa) e Adriano Plotzki (“Metrô” – R. Pitta).
Todos eles falaram sobre o processo de criação dos vídeos, e como a colaboração com os artistas moldou o resultado final. Cada um dos clipes foi traduzido por seu idealizador com um pouco da arte que vinha das ideias e como foi a parceria com os cantores para produzí-los. Chamaram a atenção os clipes de “Mariô” em que, segundo Reginato, o cantor Criolo fez questão de “sofrer” com o personagem cada momento, pois “o povo brasileiro sofre muito mais diariamente” e “Minha Alma” em que Kátia Lund revelou ter sido procurada pela banda por causa do documentário que fazia na época, Notícias de Uma Guerra Particular. “A ideia da banda era criar alguma coisa que mostrasse uma ruptura, assim como o meu documentário. Eles queriam fazer algo que chocasse tanto quanto o filme, só que para a música”, revelou.
Convidados participam do painel “Unha e Carne”, sobre colaborações entre artistas e diretores
No painel seguinte, French Kiss, foi a vez dos franceses contarem sobre a evolução do videoclipe no país. Entre os convidados, Ophélie Beaurepaire, produtora do Protoclip, festival de clipes francês, Jules de Chateleux e a dupla Acid Washed que falaram sobre o mercado videográfico francês e a explosão de criatividade que aconteceu por lá nos anos 90, com vídeos que ficaram conhecidos no mundo inteiro. O destaque, porém, foi Alex Courtès, que já dirigiu “Seven Nation Army” do White Stripes e “Vertigo” do U2. Ele foi um dos percursores da chamada 2ª geração dos criadores de videoclipe, onde os diretores começaram a perceber que era possível fazer muitas coisas interessantes usando poucos recursos. Alex também falou sobre a ascensão da internet que, apesar de diminuir o lucro dos diretores e produtores, devolveu a liberdade criativa que a televisão muitas vezes censurava.
Alex Courtès (a esquerda), que fez o clipe “Seven Nation Army” do White Stripes, fala durante painel
Quem também falou das vantagens da internet para a liberdade do videoclipe foi Jerry Casale, do DEVO. Inicialmente confirmado no evento, Jerry não pode comparecer por problemas de saúde, mas fez questão de deixar seu recado. Casale falou em um vídeo que as emissoras que passavam videoclipes acabaram percebendo que poderiam ganhar mais dinheiro com outros tipos de programas e, nesse sentido, a internet foi bem-vinda. “Com a internet, o videoclipe voltou ao seu estado natural (sem as imposições da TV), feito pelas pessoas, utilizando apenas a criatividade”, completou. Alguns clipes do DEVO também foram exibidos como “Mongoloid” e “Peek a Boo”.