Por Patrício Lima
“Cáustico, debochado, e nem um pouco solar”. Essa é a auto definição de Jay Vaquer, cantor e compositor carioca que na contramão da indústria fonográfica está prestes a lançar dois discos simultâneos, um deles autoral – continuação do Umbigobunker (2011) – e Antes da Chuva Chegar que homenageia Guilherme Arantes, álbum que inicia seu novo projeto “Transversões”, e tem show de lançamento marcado para 17/09 no RJ. A cada disco, o projeto fará um mergulho na obra de outros compositores brasileiros.
O TMDQA! aproveitou para bater um papo com Jay Vaquer antes de seu show em Fortaleza, realizado no último sábado (17), junto com sua banda: Caio Barreto (guitarra), Fernanda Horvath (baixo) e Kelder Paiva (bateria). O músico carioca falou dos novos discos e o novo formato de distribuição, sua incursão no teatro, entre outros assuntos, como o polêmico convite para participar do The Voice Brasil.
TMDQA!: Como funciona essa nova forma de vendas dos seus novos discos?
Jay Vaquer: O disco já está pronto e em pré-venda. O interessado (a) entra no site e lá pode solicitar o seu disco! Fiz um cadastro para ter uma média do lote que eu preciso fazer. Um deles é o autoral que é a sequência do Umbigobunker lançado em 2011, e outro álbum que homenageio Guilherme Arantes, que faz parte de um projeto que terá outras releituras de outros artistas. Eu estimulo a pessoa a querer o primeiro lote com benefícios, entre eles acompanhamento de ensaios, ingressos pra shows, o disco em formato de vinil e outros souvenirs.
TMDQA!: Por que começar o projeto “Transversões” com Guilherme Arantes?
Jay Vaquer: Porque eu acho que ele é um compositor subestimado por uma grande parcela da geração mais nova que não pegou o auge do Guilherme nos anos 70 e 80, e não tem a menor noção do seu acervo. E ele foi durante muito tempo um dos principais compositores das novelas nessa época. O grande trabalho nesse exercício é imprimir minha essência no trabalho dele.
TMDQA!: E o disco autoral, vem muita mudança por aí comparado ao último trabalho?
Jay Vaquer: Ele tá um pouco mais pesado que o Umbigobunker. A grande novidade é uma incursão mais determinada na direção da música eletrônica, mas que continua com a mesma essência dos últimos trabalhos. Ele foi gravado e mixado em Los Angeles-CA, assim como seu antecessor, pelo premiado Moogie Canázio.
TMDQA!: Como foi a decisão de lançar dois discos simultâneos?
Jay: Foi tranquila. São projetos diferentes que já estavam viabilizados, e não tinha nem um motivo para esperar um para lançar o outro. O pessoal fala “Ah Jay, você vai lançar dois discos de uma vez?”. Mas o que tem? Se eu tive a oportunidade para isso, porque não?
http://www.youtube.com/watch?v=bPqo2H6IaVQ
TMDQA!: As constantes perguntas sobre qual seria a definição do seu estilo te incomoda?
Jay: De jeito nenhum. Eu sempre respondo que faço “música”. Confesso que tenho uma certa dificuldade em definir se faço rock, pop, mpb ou qualquer outro estilo. Eu sei o que eu não faço. Adoro Stevie Wonder, por exemplo, mas meu trabalho não tem nada a ver. O que posso dizer é que meu trabalho não é solar, nem festivo. Nunca foi, e dificilmente será!
TMDQA!: Qual sua formação como músico?
Jay: Estudei violão clássico e popular dos 9 aos 16 anos intensamente. Depois parei de estudar e digo mais, eu tocava muito mais que hoje. A música sempre esteve presente na vinha vida, principalmente por causa dos meus pais que viviam da música. Os outros instrumentos eu prefiro não me arriscar. Tem gente muito melhor pra fazer isso (risos).
TMDQA!: Houve algum tipo de pressão por você ser filho de músicos conhecidos (Jane Duboc e Jay Anthony Vaquer, ex-parceiro de Raul Seixas)? Alguma lembrança de Raulzito em sua infância?
Jay: Tudo foi muito natural. Eles nunca me forçaram a nada! A música pra mim veio como necessidade independente de ser filho de quem sou, ou qualquer outra coisa do tipo como acontece muito por aí. Sobre o Raul, tenho poucas lembranças. Apenas quando era pequeno e não consigo visualizar bem. Apesar de admirá-lo como artista, não consigo identificar o Raul como uma influência.
TMDQA!: Você tem acompanhado essas polêmicas em torno do “Fora do Eixo”. Tem alguma opinião formada sobre o assunto?
Jay: Qualquer coisa que eu dissesse eu estaria sendo leviano, porque não me aprofundei para ter uma noção. Se o Capilé disse realmente o que está sendo divulgado pela mídia, ele realmente é um imbecil. Eu vi a entrevista dele no “Roda Viva”, e achei um cara bem articulado. Mas vi gente também dando depoimento que estava dentro do projeto, e dizendo que “se libertaram”. O problema é que as pessoas saem de lá, com aquele ideal coletivo, mas e depois? Nêgo sai de lá sem nada, currículo, portfólio, ou qualquer outra coisa que credite seu trampo.
TMDQA!: Quais bandas fizeram parte da sua formação musical? Você se arriscaria a dizer seu disco(s) preferido(s)?
Jay: É clichê, mas é bem difícil dizer. Acho que todo mundo tem aquelas bandas que fazem parte daquele cimento fresco. Pra mim Paul McCartney, Jeff Buckley, Peter Gabriel, Renato Russo, Caetano Veloso, Chico Buarque e muitos outros que ficaram marcados na minha cabeça. Eu levei algumas porradas pontuais quando se fala em discos preferidos. Entre elas o Achtung Baby (1991) do U2 com uma sonoridade que me chocou, depois o Nevermind (1991) do Nirvana que foi uma pancada que me deixou abismado. Outro que não posso esquecer é o Jagged Little Pill (1995), da Alanis Morissette. E claro, os antológicos Revolver (1966) e White Album (1968) dos Beatles.
TMDQA!: Qual sua relação com os musicais?
Jay: Estou resgatando essa coisa que eu adoro, que é o universo dos musicais. Antes eu já tinha me aventurado como performer, ator, cantor, bailarino, etc. Mas hoje quero trabalhar mais a parte por trás do show, como direção musical, textos e tudo mais. E agora estou com um grande projeto que se chamará “Sinder’s Opera Rock”, inspirado na obra do Charles Pierrot.
TMDQA!: É verdade que te convidaram para participar do The Voice?
Jay: Sim. Me chamaram e muito! De produtores a diretores do programa. Me deram várias condições, algumas bizarras, como tocar só músicas minhas ou em playback. Respeito quem está lá, mas acho totalmente incoerente aceitar uma proposta como essa, depois de mais de 8 discos lançados. Ouvi boatos que outros artistas também receberam esse convite, como o talentosíssimo Tiago Iorc. Não estou aqui para julgar ninguém, mas espero que isso não aconteça.
TMDQA!: Você fez parcerias com diversos artistas de diferentes gêneros. Essa relação é sempre saudável?
Jay: Na maioria das vezes sim. Dificilmente eu vá esculachar qualquer convite que venham me fazer independente do artista ou estilo. Se eu conseguir fazer algo em que eu possa ser eu mesmo, não tenho problema nenhum em aceitar. Foi o que aconteceu com a pessoal do Cine, que me mandou um email convidando para colaborar com eles em música, e fiz com o maior prazer.
http://www.youtube.com/watch?v=HcndYLf5gP0
TMDQA!: Alguns artistas e bandas brasileiras se arriscam nas composições em inglês. Você tem essa pretensão?
Jay: Regravando ok, como já fiz na em uma versão de “Boys Dont Cry”, mas compondo eu não saberia me expressar. Eu sei me comunicar, mas eu perco todas as idiossincrasias que refletem toda minha personalidade. E isso determina a minha comunicação contigo. Apesar de ter morado durante muito tempo nos EUA na infância e até depois, eu não tenho a menor pretensão de conquistar um mercado lá fora. O que eu me importo é realmente em sempre me desafiar, aprender, evoluir, nunca me achar o máximo, respeitar o público, e nunca subestima-los. Não é qualquer coisa que eu vá gravar, que eles vão gostar.
TMDQA!: Você sente alguma frustração de apesar de grandes feitos, como conquistar Prêmio Multishow e liderar ranking da MTV, não ter se consolidado no mainstream nacional?
Jay: De maneira alguma. Que sorte eu tenho na vida por ter uma carreira totalmente independente de estar no mainstream, fora da paralela, e ainda assim conseguir respirar e sobreviver. Sou um artista anônimo que consegue lotar uma casa de show. Eu não olho mais para o mercado. Eu ficava deprimido com isso! “Que chato, eu não consigo ir ao Altas Horas ou ao Planeta Atlântida.” Talvez eu errei em alguns momentos por ser muito ingênuo e franco no início da carreira. Eu não tinha a noção do alcance das minhas palavras, principalmente no meu antigo blog “Fuzarca”, Isso acabou fechando algumas portas. Mas quer saber, no final das contas isso não mudou muita coisa.