(Texto em parceria com Nathália Pandeló)
Fotos: Nathália Pandeló (Lua, Ben Harper & Charlie Musselwhite) e Getty Images/Divulgação (Bon Jovi, Grace Potter e Donavan)
No “dia coxinha” do Rock in Rio, quem segurou as pontas da música foi o Palco Sunset.
Depois de uma maratona de shows e depois outra pra tentar se recuperar deles, sentar para refletir pode mudar muito o que se achou do dia 20 de setembro no Rock in Rio. Logo aquele que se apresentava de um modo incomum – afinal, dividia as opiniões de ser o pior dia do festival com o fato de ter sido o primeiro a esgotar seus ingressos. Mas ao chegar na Cidade do Rock, as camisas indicavam o motivo de quase todos ali: Bon Jovi.
Esse público que vocês insistem em chamar pejorativamente de “coxinhas” deu um show de receptividade ao novo, coisa que nos outros dias não pareceu tão simples.
Debaixo de um calor desumano, o público se acomodou na sombra e prestou atenção no medianíssimo show da Mallu Magalhães junto da maravilhosa Banda Ouro Negro. Gosto da Mallu, mas é fato que ela não possui muita presença de palco. Ela parecia desconfortável ali e a Banda, conhecida por interpretações grandiosas da obra de Moacir Santos, estava subaproveitada para se acomodar em arranjos mais minimalistas. Foi ousado, mas não colou tão bem. Ainda mais comparados com os shows seguintes.
Logo depois subiria ao palco Grace Potter & the Nocturnals junto de Donavan Frankenreiter. Com bons fãs e alguns hits, o bigodudo parecia ser o alvo do público, que foi surpreendido por uma performance espetacular de Grace Potter e sua banda. Misturando soul, rock e indie, o grupo parecia um Metric mais suingado. Quando Donavan foi chamado ao palco e tocou os hits “Free”, “It Don’t Matter” e “Move by yourself”, o público foi ao delírio, parecia um show épico… Mas logo ele saiu. Foram três canções com ele, e só. Desfilando sucessos, Donavon jogou seguro porque podia. Além de já conhecidas do público, suas canções parecem terem sido feitas para apresentações ao vivo, com todo mundo batendo palma e feliz. Quando saiu do palco, deixou um gostinho de quero mais que só foi satisfeito quando voltou para brincar com o restante dos Nocturnals na bateria. Grace não deixou a bola cair e conseguiu reter a plateia, impressionada com seu alcance vocal e ousadia em cantar não apenas músicas suas, mas também Rolling Stones e PJ Harvey. Grace Potter é uma das melhores frontwomans que vimos num palco em muito tempo, jogo ganho. Pena que a parceria proposta pelo Sunset não foi tão bem aproveitada.
Ao contrário disso, Ben Harper e Charlie Musselwhite estavam lá, lado o lado, o tempo todo. Charlie, um adorável gaitista de blues, logo ao subir no palco se espantou com o luar lindo. Ele parece ter sido o catalisador para que todo o lado bluesman de Harper explodisse em um show com uma sonzeira incrível, que reuniu e divertiu o público naquele início de noite. Além das músicas que o duo gravou em “Get up!”, já um dos melhores discos de 2013, teve até cover de “When the levee breaks”, de Led Zeppelin. Com calma na slide guitar boa parte do tempo, Ben abria espaço para Charlie brilhar, e foi o que ele fez. Aos 69 anos e com muita classe, Charlie se levantava e conquistava a plateia dobrando as notas na gaita como se o instrumento fosse parte dele, como se fosse ali, soprando e aspirando sons, que ele respirasse. Não teve “Diamonds on the inside” – e ninguém pareceu sentir falta.
No palco mundo, ao fim dos trabalhos no Sunset já se ouvia o Matchbox Twenty. A banda de pop rock vinha pela primeira vez ao Brasil, depois de um relativo sucesso anos atrás. Tinha um grupo de fãs, curtindo lá na frente, mas a sensação de “música ambiente” era geral. As pessoas conversavam, bebiam, comiam. Não que fosse um incômodo, o show tava legal… Só não tinha nada que atraiu a atenção, por mais que Rob Thomas tentasse com suas caras e bocas. “Unwell” parece ter sido a música que fez as pessoas lembrarem de onde conheciam aquela banda, apenas para cair novamente na parte final do show.
Nickelback veio logo depois. Pois é, nunca achamos que estaríamos num show deles. Eles não são a pior banda do mundo – apesar de terem o pior vocalista, fato – mas não tem como não pensar na piada. Tudo que temos para falar do show é que fomos para o outro lado da Cidade do Rock e tiramos fotos da lua. Olha só como ela estava linda.
Após esse showzaço da lua, Bon Jovi subiu ao palco para fechar a noite. Na verdade, era quase um show solo do Jon, que vinha sem o Sambora faz tempo e nesse show sem o baterista, com problemas de saúde. E ele fez uma apresentação para fãs, aqueles que sabem de todas as músicas, de todos os discos. Isso em um festival, com muito calor, em que tínhamos curtido shows desde cedo. Foi muito divertido cantar “You give love a bad name”, “It’s my life” ou “Runaway”, mas a sequência de músicas chatas somada ao cansaço foi o suficiente para que desistíssemos – junto de uma boa parte do público. Saímos quando ele cantava “Who says you can’t go home?”, só pra não sair de mal. Se ele tivesse usado os hits que deixou para o bis ou tantos outros conquistados durante seus 30 anos de carreira durante o show, é bem provável que a plateia não tivesse murchado.
Não vimos ele pegar a fã ou cantar “Livin’ on a prayer” e “Always”, mas vimos um público que, apesar de estar meio decepcionado com esse último show mediano, não parava de comentar os shows do Sunset. Ponto pra curadoria.