Texto por Frank Aleixo
Sabem aquele artista que você começou ouvido uma música ou outra e quando foi ver já conhecia todos os lançamentos e aguardava ansiosamente por todos os novos trabalhos? Essa sempre foi minha relação com a Sky Ferreira. Conheci a música da cantora há quatro anos. Acompanhei a fase de demos vazando, de promessas sempre adiadas do álbum de estreia, e de EPs cuja sonoridade mudava e evoluía junto com a artista.
Não era de se admirar que minha primeira atitude ao saber do show da cantora tenha sido correr para os sites de promoções de passagem e garantir minha saída de Natal – RN para São Paulo, especialmente para o show da cantora.
E minha primeira lição ao chegar no Cine Joia no dia 11/06 foi: não sou único fan boy/girl da Sky Ferreira. Ainda cedo, cerca de 3h antes do início do show, a fila já estava grande. Fãs ansiosos cantavam várias músicas juntos, usavam camisetas customizavadas, e empunhavam encartes das cópias físicas do álbum mais recente da cantora, o aclamado pela crítica Night Time My Time. Isso sem contar com os papeis com mensagens, bandeiras do Brasil e presentinhos prontos para serem jogados ao palco.
Pode parecer espantoso que a Sky Ferreira, apenas em seu debut, possua uma fan base tão dedicada (acredite, até pra mim foi). Mas essa paixão é facilmente compreendida se conhecermos a trajetória da cantora.
Descoberta aos 16 anos no MySpace, Sky não tardou a chamar a atenção de produtores como Bloodshy & Avanti (responsáveis por hits como “Toxic”, da Britney, e componentes do projeto Miike Snow) e de grandes gravadoras americanas. E depois de conquistar olhares dos críticos com faixas como “One”, e tentar se lançar no mercado mainstream com “17” e “Obsessions”, os fãs passaram a acompanhar a eterna saga do primeiro álbum. Ora adiado, ora sendo transformado em simples EPs, os fãs puderam acompanhar de perto a evolução pessoal e artística da cantora. A Sky passou a experimentar mais, e a compor músicas mais pessoais. Saiu o pop chiclete, entraram músicas mais autorais. A sonoridade pessoal, soturna, e surpreendente do álbum de estreia da cantora arrebatou os fãs mais antigos e conquistou milhares de novos seguidores.
Apesar de todo meu entusiasmo, confesso que tinha algumas ressalvas quanto a performance ao vivo dela. Em suas apresentações na TV, Ferreira está sempre bastante distante com seus óculos escuros, com ares que beiram o blasé, e uma timidez que deixa sua performance tão contida que quase faz com que você estapeie a tela do seu computador dizendo “Garota, você está no David Latterman, divulgue seu trabalho direito!”. Mas mal sabia eu que estando em frente aquele palco estava prestes a ser absolutamente arrebatado pela surpresa.
A Sky chega com sua música como quem não quer nada, com ar cool e sonoridade que lembra os anos 80 e do nada conquista você com letras diretas, e que tocam aquele seu lado fracassado que precisa se expressar. As letras são sobre reputação manchada e a constatação de que aquele cara não é o ideal, o que fazem a Sky se tornar aquela amiga para qual você conta todas as suas ansiedades.
A performance da Sky também é sorrateira. Ela também apareceu pela primeira vez no Cine Joia lotado como quem não quer nada, óculos escuros, ombros curvados, totalmente tímida. Mas foi só anunciar a primeira música, “24h”, que começou a minha surpresa (e meus arrepios!).
Foto extraída da fanpage Sky Ferreira Brasil
Do nada, o ar blasé vira pura hipnose de uma artista que canta sua verdade, e que a compartilha com fãs fieis e de ótima memória para letras de música. A sensação é de que, mesmo com óculos escuros, a Sky está olhando cada um da plateia diretamente nos olhos e usando-os como confessionário. E o sentimento é recíproco. A plenos pulmões, a plateia também se confessou com a Sky. Cantou cada uma das letras, desejou que as 24 horas nunca terminassem assim como ela, declarou que “It Ain’t Your Right, but I don’t care” e que “Nobody Asked Me If I was ok”.
Em uma plateia formada por fãs fieis, havia aquela ansiedade de saber se seriam também cantadas músicas antigas, de seus primeiros EPs, como “Ghosts“. A dúvida foi tirada ainda na segunda metade do show, quando Sky interpretou “Lost In My Bedroom“, mas a espera por uma música específica levou ao momento mais bonito do show. “Sad Dream” é uma das músicas mais queridas pela fã base de Ferreira, e já contou com performances ao vivo muito bonitas. Logo não foi surpresa quando, na metade final da apresentação, gritos pela canção fossem ouvidos e encobrissem a voz da cantora, que tentava anunciar “Radio”, a próxima música a ser apresentada.
A cantora afirmou no palco que, por problemas na voz, ela havia retirado a música de sua setlist. Mas os gritos não paravam. Sky parou, retirou os óculos, contemplou a plateia, e finalmente sedeu. Ela iria cantar “Sad Dream”, e os gritos tomaram conta do lugar.
Os primeiros acordes começaram e pra surpresa de todos, Sky esqueceu a letra. Muito honesta, a cantora riu, saiu do palco, falou com alguém da equipe e voltou. Daí pra frente começou o momento mais emocionante. Sky, com olhar de quem iria chorar a qualquer momento, cantou “Sad Dream”. E mesmo que esquecesse a letra novamente, ela tinha um coro emocionado que a acompanhava e entoava cada letra da música.
Me surpreendeu bastante o contato da cantora com os fãs. Para quem no dia anterior mal conseguiu dar uma entrevista ao Danilo Gentili de tão tímida, a Sky me deixou de boca aberta com suas constantes idas até a borda do palco para tocar mãos, assinar encartes, segurando as canetas, que insistiam em falhar, e o microfone ao mesmo tempo.
Uma vez li uma frase que diz que “músicas são como rio, e as palavras são navios que nos ajudam a navegar por ele”. Na performance ao vivo da Sky, sua timidez conhecida e seu jeito recatado são botes que te levam até dentro de seu universo, e que ganham você imediatamente. A cantora pareceu impressionada, ora dando tchaus tímidos, ora sem jeito com os gritos de “Nós amamos você!”. No bis, o Cine Joia inteiro cantou “Everything Is Embarrasing“; e depois de dizer “Baby if you let me be your lover…” com a Sky e a multidão pela última vez, saí do local arrepiado, e com a certeza de que cada km viajado valeu a pena.