Fotos por Pipa Dantas e Victor Ciríaco
Não há dúvidas que o MADA é um dos festivais mais importantes do nordeste, quiça do país inteiro. Nesses 15 anos de história já apresentou novos nomes e marcou a capital potiguar com alguns shows antológicos como o da Pitty, Cansei de Ser Sexy, The Walkmen, Pato Fu, Seu Jorge, Criolo, Titãs e muitos outros. Mesmo.
Na edição de 2014 o festival saiu mais uma vez de seu berço na Ribeira e aconteceu no pátio de eventos do Estádio Arena das Dunas e isso foi muito importante para o seu pleno sucesso. Uma estrutura admirável, acesso fácil tanto para quem ia de transporte público quanto de carro particular, praça de táxi na saída do evento (sim! Isso é importantíssimo, acredite), entrada rápida apesar da longa fila e música excelente, que no final é o que faz tudo valer a pena.
Talvez por um pequeno atraso na abertura dos portões, as primeiras bandas se favoreceram e já conseguiram tocar para um público considerável. Depois do DJ Magão e dos pernambucanos do Na Mente, foi a vez do Kung Fu Johnny. O trio vem da prolífica cena de rock de cidade, tem um EP chamado Too Drunk To Think e está agora preparando seu primeiro álbum. Tocando as músicas do registro e outras, os meninos mostram que já são rodados no palco e sabem bem como dominá-lo, mesmo que seja em um grande festival.
Depois foi a vez dos também potiguares da The Bop Hounds, que olham pro passado pra construir seu futuro. A banda de rockabilly é uma daquelas gratas surpresas que você tem em festivais (ou vocês não acham maravilhoso quando descobrem assim um grupo que pode se tornar seu favorito por um tempinho?). O tacirtuno porém muitíssimo competente vocalista Dastaev fez todo o público ensaiar passos com suas botas imaginárias e até inspirou um jovenzinho na plateia a gritar “toca Chuck Berry!”, o que é sempre um ótimo sinal.
Apenas confirmando sua fama de shows históricos, o MADA levou em seguida para seu palco duas gerações da black music nacional: Gilber T & Banda e Gerson King Combo. O Soul e funk brasileiro dos anos 70 e 90 se misturaram no Arena das Dunas e não teve uma pessoa que tenha ficado parada com o swing e musicalidade da mistura. Essa é uma daqueles encontros que enquanto estamos presenciando sabemos que vai ser falado durante muito tempo. A troca de influências e experiências resultou numa confluência perfeita. Sorte nossa.
Di Melo é mais um dos clássicos que o MADA traz à Natal. O músico fez sucesso cantando soul music nos anos 70 e parecia radiante com esse reconhecimento contemporâneo. No festival, não tinha uma pessoa que passasse por ele que não ouvisse um elogio, uma brincadeira amistosa e recebesse um sorriso gentil. Humildade e talento andando de mãos dadas em um show maravilhoso e que ainda contou com a participação de Emicida no clássico “Kilariô”.
Era uma grande responsabilidade comandar o público após a apresentação incrível de Di Melo, mas a Banda do Mar não decepcionou em nada. Provando que boa parte da audiência (quase adolescente, em sua grande maioria) estava ali pra ver o novo projeto de Mallu Magalhães e Marcelo Camelo, eles só tinham que chutar para o gol. Com repertório formado por faixas do primeiro cd da Banda, músicas da carreira solo dos dois líderes do grupo e dos Los Hermanos, todo mundo cantava tudo. Sim, era impressionante. O próprio Camelo chegou a ressaltar que o disco tinha saído há pouquíssimo tempo e mesmo assim a voz uníssona da plateia estava sempre com eles.
Apesar do tempo que já passou, não dá pra negar a relevância que o grupo que revelou Camelo ainda tem. Quando todos os outros integrantes deixaram o palco e só ele e sua guitarra nos presentearam com “Além do que se vê” aconteceu uma espécie de missa indie daquelas que só o Arcade Fire consegue nos proporcionar. Já com a Mallu a coisa é diferente. É fofa e meiga, assim como a cantora. “Olha só, moreno”, “Sambinha Bom” e “Velha e Louca” arrancaram algumas lágrimas (umas tímidas, outras nem tanto) do público. Coisa sempre bonita de se ver.
Pouco antes de finalizar com “Muitos Chocolates”, vem o grande momento do show: “Janta”, uma espécie de hino do Partido dos Corações Partidos. Mais lágrimas, mais risos e mais emoções que a arte só consegue inspirar quando é honesta.
O show de Emicida é um daqueles que não se vê sempre. Entrega total de todos os lados: artista, banda e público, que provou por a mais b que também estava ali para ver o rapper. Os coros em apoio à presidenta Dilma Rousseff puxados pela plateia foram destaque nos intervalos entre as musicas.
Faixas como “E.m.i.c.i.d.a”, “BANG!”, “Gueto” e o cover de “No Flow”, do Mc Guimê, com público sempre cantando em uníssono provou que esse show era muito esperado na cidade. O verdadeiro ápice veio quando ele cantou o hit “Hoje Cedo” e fez questão de ressaltar que “isso aqui é igreja, religião é isso aqui” e comandar o culto à rua, que tanto é necessário para todos nós.
Finalizando não só seu show como a excelente primeira noite do MADA, Emicida fez sua versão do sempre emocionante “Rap do Silva”, do Mc Marcinho, em seguida “Levanta e Anda” e por fim “Trem das Onze”, dos Demônios da Garoa. Uma bela maneira de se terminar uma linda noite. Vida longa à música, vida longa ao rap nacional, vida longa ao MADA!