Mike Patton sempre foi um músico dinâmico, transita entre os mais variados gêneros musicais em seus inúmeros projetos paralelos, sendo considerado um dos nomes da vanguarda musical desde os anos 1990. Seja no experimentalíssimo Mr. Bungle, onde o rock se mesclava ao jazz com maestria, no progressivo Tomahawk, ou, entre outros, no hip-hop pop do Peeping Tom.
Para além de todos seus projetos, que não são poucos e ainda acompanham uma filmografia extensa, Patton e suas mil vozes sempre souberam que seu lugar de conforto, o Faith No More, estaria ao alcance das mãos.
É importante destacar Mike na banda pelo simples fato de que só após a sua entrada no grupo, em 1989 – oito anos após o inicio dos trabalhos e já com dois álbuns lançados – que o Faith No More se tornou a banda que é hoje, ou para os anos 1990, como alguns dirão.
Após uma estrondosa repercussão mundial, tiveram um hiato de 11 anos, de 1998 a 2009, tempo suficiente para que Mike e os demais integrantes se dedicassem a suas demais aspirações musicais: o tecladista Roddy Bottum seguiu com sua banda indie Imperial Teen; o baterista Mike Bordin foi tocar para Ozzy Osbourne e fez participações no Korn e no Alice In Chains; o baixista Billy Gould entrou para a polêmica banda mexicana de grindcore Brujeria; e o guitarrista Jim Martin se dedicou ao Milk and Blood, depois se mudou para o interior.
Em 2009 o quinteto retornou com uma turnê. Daí em diante foram mais seis anos após um novo disco. Sol Invictus, sétimo álbum, saiu no último dia 19, tem produção do baixista do grupo Billy Gould, e é envolto de expectativas da crítica e dos fãs. Em recente entrevista, Mike Patton disse que “nunca quis ser um cinquentão fazendo música para adolescentes” e que “não se importa com quem ouça” seu novo disco. Suas palavras se encaixam perfeitamente na tese que a banda vem trabalhando desde a era Angel Dust (1992): um sarcástico não-comercialismo.
Explico: quando uma banda lança um hino, a dificuldade de superá-lo é algo que pode colocar tudo a perder. “Epic” é de fato a maior música do Faith No More, responsável por angariar milhões de fãs ao redor do mundo, inclusive tendo no Brasil uma base considerável. No entanto, apesar de os admiradores da era The Real Thing – terceiro álbum, de 1989 – clamarem por algo parecido até hoje, o grupo não entrou nessa pilha e seguiu em frente.
Após isso, o trabalho mais consistente do Faith No More foi de fato Angel Dust, que trouxe um som mais pesado, deixando um pouco mais escamoteadas as misturas metaleiras com inesquecíveis teclados funk e rimas de hip hop, e apostando no peso mais sombrio. Dele vieram grandes músicas como “Midlife Crisis”, “A Small Victory”, “Everythings Ruined” e “Easy”, cover de The Commodores, que só foi incluída no disco tempos depois de seu lançamento em uma nova prensagem. A banda lançou a música depois de tocá-la em vários shows e dela ter virado, de fato, um hit.
Sol Invictus pode ser considerado um disco para fãs? Pode sim. E qual é o problema nisso? Nenhum. Mais uma vez temos lido críticas negativas, com essa briga entre passado e futuro: querem inovação, mas amam o velho. “Deixem os anos 1990 passar”, dizem por aí. Eles já passaram. Há, porém, quem ainda se importe, sempre haverá saudosismo. Então não há problema algum em achar Sol Invictus incrível (ele é mesmo). Até por que os fãs atentos da banda sabem que qualquer experimentalismo e busca por novas aspirações musicais estão nas entrelinhas, além dos projetos paralelos que a banda tem.
A lista de faixas do disco tem dez músicas, e todas carregam o clássico Fatih No More: teclados bem definidos com guitarras pesadas numa mescla de extremos que sempre funciona muito bem. Aqui vemos mais vocalizações próximas do gutural presentes, assim como vozes mais limpas e sombrias, mais uma vez brincando com os dois lados de uma mesma moeda. Os dois hits lançados, “Motherfucker” e “Superhero”, são bons exemplos da potência que a banda tem em trabalhar com pianos crescentes e sinistros aliados ao peso do metal, fórmula que os consagrou.
A trinca de músicas “Sunny Side Up”, “Separation Anxiety” e “Cone of Shame” no meio do disco traz um Faith No More raivoso e ainda inspirado nas composições.
Todas as letras têm a assinatura de Mike Patton, ora dividindo os créditos com outros integrantes, principalmente com Gould. Em “Separation Anxiety”, a explosão do meio pro final da música evidencia um dos melhores momentos do disco. O rótulo de canções mais fracas fica na conta da faixa título, que abre o disco com uma pegada morna e descompromissada; e em “From The Dead”, que encerra o álbum num clima parecido com o que começou, um meio termo sonoro que não combina muito com a banda.