Resenha: Gabriel Araújo - Presente

O terceiro álbum da carreira solo do multi-instrumentista e produtor Gabriel Araújo é definitivamente um mergulho mais profundo do que os anteriores.

Gabriel Araújo - Presente

O terceiro álbum da carreira solo do multi-instrumentista e produtor Gabriel Araújo é definitivamente um mergulho mais profundo do que os anteriores. Com um amadurecimento crescente em sua obra, Gabriel ousa misturando texturas complexas à gravações caseiras, compondo um cenário musical único e rico.

A primeira faixa, “Saturno Canta”, é a primeira música com registro vocal em seus trabalhos. Recebeu como letra uma poesia de Eliza Araújo, sua irmã escritora. Foi Eliza também quem cantou na música que se tornou automaticamente um clássico na obra de Gabriel. Em entrevista para o site altnewspaper.com, Gabriel admite que esse trabalho pertence mais a Eliza do que a ele mesmo.

A música de Gabriel não é, definitivamente, para qualquer ouvido. É preciso ter uma sensibilidade musical apurada para mergulhar nesse mar sonoro. Um exemplo disso pode ser sentido em “Encanto”, segunda faixa do álbum. São quase dez minutos de instrumentos conversando, texturas, violões e percussões que são aqui utilizadas não para criar ritmo, mas para compor a cena desse momento musical.

“Irene & Raquel” abre com o que parecem ser instrumentos de sopro sendo afinados. Aos poucos, estes vão compondo a massa sonora onde vai se deitar a viola de 10 cordas que recebe golpes sonoros de pianos cada vez mais desconexos. A loucura passa a fazer sentido quando você se distancia um pouco de cada elemento para ter a “visão” do todo. E a música pausa a respiração numa contínua nota de sintetizador até retomar, com o saxofone, uma doce e milimétrica melodia.

“Encontro” abre com colagens de bateria acústica. Lentamente cada elemento que comporá o todo começa a aparecer de forma sutil e se vai, de repente, onde só resta um piano por alguns instantes. Se esse álbum fosse uma trilha sonora, “Encontro” seria a parte mais suave do filme. Complexa e bonita, a música evolui sem que percebamos o tempo.

O álbum fecha com “Saturno Dança”. Uma segunda tomada de “Saturno Canta” que abre o álbum, mas aqui com todas as camadas naturalmente encontradas nas composições de Gabriel. Harmônicos no baixo se fundem a uma colagem vocal que lembra um sintetizador. As melodias são crescentes até o som rasgado de um violino mixado de forma seca, quase uma rabeca. E novamente a poesia é cantada em cima disso tudo.

O terceiro álbum de Gabriel é o que apresenta o clima cinematográfico de forma mais forte. Começo, meio e fim se assemelham a um conto, uma viagem, que deixa saudade quando termina.

Não posso deixar de falar da belíssima capa, mais uma composição do já reconhecido artista Bruno Borges, que somada à música, fazem todo o sentido.

Definitivamente um trabalho de extrema complexidade e de profunda poesia sonora.