Resenha: Pinegrove - Cardinal

Cíclico, álbum de estreia do Pinegrove mistura country, indie, punk e emo sob uma intensa corrente de autorreflexão.

Resenha: Pinegrove - Cardinal

O disco de estreia da banda norte-americana Pinegrove não se apresenta majestoso à primeira vista, mas se desenrola como poucos. Com oito músicas, trinta minutos, nenhuma pressa e muita confiança no próprio instinto, Cardinal faz a memória puxar algumas das bandas mais marcantes do final do século passado, como a época de Oh, Inverted World do The Shins e os primeiros momentos do Wilco e do Death Cab For Cutie, além de leves acenos a Ryan Adams e The Weakerthans.

A voz do compositor Evan Stephens Hall imprime os estados do meio-sul, como o Tennessee e o Alabama, embora a banda seja do interior de New Jersey – às margens das metrópoles da costa leste, à beira da inquietude.

Não que este seja um disco propriamente country – não há menções a Jesus, ao dia da independência, ou ao cheiro do orvalho do campo caindo sob o capô do caminhão. A fibra punk de canções como “Visiting” e “Then Again” nos faz lembrar que esta é outra banda da Run For Cover (a ‘menina dos olhos’ da música alternativa no momento), enquanto as baladas “Aphasia” e “Waveform” cortam na pele sem pedir licença. Dá pra chamar de “alt-country” – tem banjo e bandolim, ora – ou até fingir que “emo-country” é uma coisa que existe, mas ao contrário dos hinos de festas regadas a cerveja e carros de som que cercam os chapéus de caubói, Cardinal foi feito de jovens para jovens, descrevendo problemas de jovens em uma grande celebração da vida do trabalhador emergente norte-americano.

As nuances do álbum só aparecem após diversas ouvidas atenciosas. Hall canta, através de combinações diferentes de palavras e metáforas, sua incapacidade de dizer as coisas como elas são. “Aphasia”, por exemplo, tecnicamente faz referência a uma condição médica que limita a compreensão linguística; essa definição, claro, é apenas uma faceta que esconde a dor e frustração do músico.

Cardinal é uma luta contra o insatisfatório estado atual das coisas. Na faixa de encerramento “New Friends”, Hall faz um comentário sobre “Old Friends”, o primeiro ato do disco. “Eu decidi fazer novos amigos / eu gostava dos antigos, mas fodi tudo / então vou começar de novo”. Como um dos favoritos a revelação da cena alternativa no ano, o Pinegrove veio pra afirmar que, igual à vida do indivíduo comum que se arrisca, erra e recomeça, tudo faz parte de um ciclo – e todo ciclo se renova.