Ben Lovett e Ted Dwane são caras simpáticos. Antes de tocarem pela primeira vez no Rio com o Mumford & Sons, eles conversaram brevemente sobre o atual momento da banda. Não disfarçaram o cheiro de frango (“asinhas”, contou Ted) e se declararam empolgados com o Brasil – com a comida e, principalmente com os fãs.
Eles ainda estavam sob o impacto do show no Lollapalooza Brasil, que tinha acontecido apenas dois dias antes em São Paulo. Tanto Ben, responsável pelo piano da banda, quanto Ted, o contrabaixista, reafirmaram o que Marcus disse: aquele show foi especial. “Talvez por ser a primeira vez tocando tão longe de casa e ainda ver as pessoas cantando todas as músicas,” revelou Ben. Mas eles já estavam avisados: Ted lembrou que seus amigos de outras bandas diziam, “espere até você chegar no Brasil”.
Certamente, o Brasil esperou por eles. Em uma noite em que dividiam o palco com Florence + The Machine, o Mumford & Sons estreou no Rio com casa cheia. O show aconteceu no Metropolitan e abriu a noite para o espetáculo de Florence Welch e sua How Beautiful Tour, que dominou o público até o final com uma presença de palco quase mágica. Mas tudo começou com os primeiros acordes de “Snake Eyes”, uma das canções do disco novo, “Wilder Mind”.
Essa é apenas uma das canções que sustentam o título selvagem, em um álbum onde figuram lobos, bestas e monstros. Será que tem um padrão aí? “Eu digo que tem, porque você viu que tem. Na verdade, não existe interpretação errada e o nome do disco pode significar qualquer coisa. É muito interessante ver como cada pessoa chega pra gente com uma interpretação diferente. E cada um sai da experiência com algo próprio,” diz Ted.
Simbologias à parte, “Wilder Mind” pode ter muito mais a ver com esse novo momento da banda. O disco veio com uma sonoridade um pouco diferente dos álbuns anteriores, fortemente calcados no folk rock e nos dedilhados de violão que ajudaram a tornar suas canções verdadeiros hinos, cantados a plenos pulmões. E todos eles fizeram parte do show no Rio e marcaram picos do show, com os fãs atendendo à expectativa e entoando as letras de “I Will Wait”, “The Cave”, “Lover of the Light” e “Little Lion Man”, entre outros.
Mas o foco da noite foram as novas canções, que foram literalmente metade do repertório. Elas demarcaram um momento diferente do show, com uma intensidade bem recebida, apesar de não se comparar à receptividade aos hits dos álbuns Sigh No More e Babel. O próprio Ted troca o baixo acústico pelo elétrico, em uma dinâmica que movimentou os roadies o show inteiro, levou Marcus pra bateria e, inevitavelmente, para o meio do público, onde percorreu toda a pista VIP pulando e cantando com os fãs.
Essa intensidade foi apenas uma consequência do que começou Wilder Mind: uma vontade de fazer algo diferente. “Quando começamos a compor, decidimos fazer algo que não fosse apenas o que já vínhamos fazendo. Então nesse sentido, esse disco parece mesmo como um passo adiante para nós,” lembrou Ben.
O público não pareceu reclamar. Os momentos de cantoria foram intercalados por algumas das favoritas dos dois discos anteriores, pontos altos de Wilder Mind e até um cover de Springsteen. Foi o aquecimento perfeito para o culto quase religioso que viria a seguir: a grandiosidade de Florence + The Machine e, segundo a própria cantora, o maior coral que ela já teve. Parece um ótimo resumo do que foi a noite no Metropolitan.
Fotos: Julia Cavalcanti
Agradecimento: Universal Music Brasil