Resenha: Fallujah - Dreamless

Fallujah mostra, com mais um disco bastante competente, que é um dos principais nomes do heavy metal atual.

Fallujah - Dreamless

De 2011 para cá, algumas coisas mudaram na sonoridade da banda norte-americana Fallujah. O conjunto que fez sua estreia com o pesado e denso The Harvest Wombs foi modelando seu som e alcançou uma identidade musical tão particular que logo nas primeiras notas de “Face of Death” – faixa que abre o novo disco de estúdio Dreamless – se percebe de quem estamos falando, e muito disso se deve ao seu antecessor, The Flesh Prevails, lançado em 2014.

Contando com Alex Hofmann (vocais), Scott Carstairs e Brian James (guitarras), Robert Morey (baixo) e Andrew Baird (bateria), a banda entrega aos ouvintes uma sequência natural e evolutiva do já citado The Flesh Prevails, com algumas doses a mais de ethereal/electronic music na sua já famosa fórmula, onde mescla com maestria seu technical death metal com elementos ambient, fazendo uma contraposição belíssima, onde a brutalidade se encontra com a sonoridade etérea, transportando o ouvinte para uma incrível viagem quase sensorial, onde nada, nada mesmo pode ser considerado previsível.

Dreamless abre com a já mencionada “Face of Death”, onde Andrew Baird dita os rumos da música, estraçalhando seu kit de bateria, enquanto Carstairs e James criam camadas de guitarras melódicas tão sofisticadas que poderiam ser ouvidas em uma casa de massagem, por exemplo. As reminiscências do passado black metal do Fallujah ainda são notadas pela vocalização de Alex Hoffman, que investe num gutural extremamente coeso.

“The Void Alone”, que conta com a participação da vocalista Tori Letzler (além dessa, ela contribui também em “The Prodigal Son” e “Wind of Wings”) intensifica o encontro cadavérico e ao mesmo tempo volátil da sonoridade da banda, e isso fica bem claro quando a cantora entra em ação, dividindo a música entre o angelical e o diabólico. “Abandon” – que foi lançada em videoclipe essa semana – conta com a participação da vocalista Katie Thompson e sua sonoridade somada à letra intensifica no ouvinte uma sensação de um pesadelo do qual não se pode acordar, enquanto o brilhante trabalho de guitarras de Carstairs e James te tranquilizam, dizendo que tudo aquilo é apenas um sonho.

“Scar Queen” foi o segundo teaser do álbum, e à época de seu lançamento já provou a que este disco veio. “Dreamless” – a faixa-homônima e primeira “quase-instrumental” – intensifica as veias ambient/ethereal da banda, como se soasse como um respiro entre uma pedrada e outra, além de contar com a participação mais do que especial de Tymon Kruidenier (Cynic, Exivious, Obscura etc), certamente uma influência e tanto para os norte-americanos, além das já citadas Katie Thompson e Tori Letzler formando aqui, um dos pontos altos do disco.

“The Prodigal Son” e “Amber Gaze” só enfatizam o que já foi dito anteriormente sobre a dupla de guitarristas ser uma das melhores da atualidade. “Fidelio”, a segunda “quase-instrumental” inova ao mostrar um Fallujah flertando com o eletrônico e o já conhecido ambient, mais um fôlego entre as porradas. “Wind of Wings” chega penetrante, com uma primeira estrofe que pessoalmente resume a sonoridade da banda: “Tortured by sorrow / For reasons I can’t follow / Can I give wind to your wings? / While you pretend to feel what’s real”.

Cabe mais uma vez aqui, a comparação da banda de protagonizar um sonho agonizante, onde o vocal de Hoffmann parece ser sua mente engalfinhada em labirintos aterrorizantes. A faixa conta com a participação de Mike Semesky (The HAARP Machine, Intervals etc) nos vocais e a já falada Tori Letzler. Les Silences faz a função de “outro” do disco, enfatizando de vez a veia electronic/ambient/ethereal do Fallujah, que experimenta sem medo da reação dos fãs mais radicais de death metal e tranquilo ao saber que há espaço para toda e qualquer junção de sonoridades, desde que bem executadas.

 

E assim, o conjunto norte-americano escreve mais uma página de sua história, entregando ao público um disco muitíssimo bem produzido, com várias participações especiais e a técnica e brutalidade já conhecidas de trabalhos anteriores. Se o Fallujah pode inovar ainda mais é uma questão que os próximos discos nos dirão, mas até aqui, a trajetória da banda é não menos que espetacular.