A internet (boa parte dela, pelo menos) entra em polvorosa quando o assunto é Frank Ocean. E não é pra menos: em 2012, o cantor deixou uma ótima impressão com seu impecável primeiro (oficialmente, digamos) álbum, channel ORANGE. Unanimemente elogiado por críticos e fãs, Ocean conseguiu estabelecer uma carreira de sucesso, se envolvendo com alguns dos maiores nomes da indústria da música.
Agora, com o possível lançamento do próximo álbum do cantor anunciado pelo New York Times, os holofotes voltaram para o cantor. Uma misteriosa stream que surgiu no site dele é mais um passo na promoção do famigerado Boys Don’t Cry que, ao que tudo indica, será lançado com exclusividade pela Apple Music nessa Sexta-feira.
E para entender um pouco todo o fuzuê que está acontecendo, aqui está uma pequena linha do tempo para refrescar sua memória nos acontecimentos dos últimos anos da carreira do cantor.
Origens
Nascido na Califórnia mas morando grande parte da sua vida em New Orleans, Ocean mal havia começado a faculdade quando o desastre causado pelo furacão Katrina acabou destruindo seu pequeno estúdio de gravações. Buscando mudar o seu estilo de vida e começar uma carreira na música, o cantor decidiu se mudar para Los Angeles por algum tempo.
Após conseguir estabelecer alguns contatos na indústria, o primeiro trabalho de Frank no mundo da música foi compor, no anonimato, letras para várias estrelas do pop como Justin Bieber, John Legend e Beyoncé. Isso não era o suficiente para o jovem compositor, que sonhava poder gravar suas próprias músicas e lançar um álbum. Em uma entrevista para a BBC há alguns anos, Ocean entrou em detalhes:
Teve um ponto onde eu estava compondo para outras pessoas, e poderia ser confortável continuar a fazer isso e aproveitar o dinheiro e a anonimidade. Mas não foi por isso que eu me distanciei dos estudos e da minha família.
Odd Future e o lançamento da primeira mixtape
Não demorou muito para o cantor ter sua primeira chance. Em 2010, Frank entrou para o grupo Odd Future, tanto para ajudar nas composições como também para contribuir com vocais. O relacionamento do cantor com o colega Tyler, the Creator acabou facilitando um acordo com a Def Jam Records, gravadora que tem nomes como Kanye West.
Não demorando muito, em 2011 foi lançada a mixtape nostalgia, ULTRA. Utilizando de vários samples e instrumentais de bandas como Radiohead, Coldplay e Eagles, o tom e as mensagens contidas nas composições de Ocean causaram um barulho na indústria e na mídia.
Sucesso inicial e o lançamento de channel ORANGE
O sucesso do trabalho eventualmente levou o cantor a colaborar com Kanye West e Jay-Z no álbum Watch the Throne, não só compondo como também contribuindo com vocais em duas faixas.
Com o hype a seu favor e após incessantes meses de trabalho, em 2012 foi lançado oficialmente, pela Def Jam, seu primeiro álbum de estúdio.
channel ORANGE conta com dezessete músicas concisas que misturam influências de R&B, psicodelia, pop-soul e jazz-funk com referências modernas e “instrumentos” não-convencionais, como samples de sons de videogames e gravações de filmes.
Uma equipe talentosíssima trabalhou com Frank para que o resultado fosse o mais impecável possível. John Mayer, André 3000 e Pharrell, entre outros, contribuíram na produção do disco, cada um deles deixando suas marcas (bem evidentes) ao longo do trabalho.
Algumas letras do disco apresentam com maestria narrativas sobre desilusões amorosas, sexo e amores não correspondidos, como em “Thinkin Bout You”. Outras também refletem sobre existencialismo e a parte decadente de um estilo de vida rico, como em “Super Rich Kids” (que contém uma ótima participação do rapper Earl Sweatshirt).
A narrativa composta por Frank Ocean tem frequentes referências históricas, reflexões sobre religião, passagens emocionais e histórias relacionáveis — e até mesmo provocantes, como é o caso das emocionais “Pyramids” e “Bad Religion”.
O álbum rendeu vários prêmios, incluindo um Grammy, e é até hoje considerado um dos melhores discos lançados dessa década, sendo reverenciado e lembrado com carinho pela crítica e pelos fãs até hoje.
O grande “hiato” e o “não-lançamento” de Boys Don’t Cry
Desde o fim da turnê do disco, Frank Ocean sumiu dos holofotes. Entre uma e outra colaboração, o músico resolveu tirar umas férias e focar na composição de um novo álbum.
Em 2015, no entanto, Frank postou em seu Tumblr uma foto com duas edições de uma nova revista. De acordo com ele, as revistas acompanhariam seu novo álbum de estúdio, Boys Don’t Cry, que seria lançado em Julho.
No que acabou se tornando uma das maiores decepções do ano, o álbum não só não foi lançado, como Frank Ocean não deu nenhuma explicação sobre o ocorrido (cancelando até sua apresentação no Firefly Festival marcada para aquele mês).
Novos rumores foram surgindo aqui e ali, mas nunca se concretizaram. O silêncio do cantor acabou ficando ainda mais doloroso quando foi revelado que ele havia contribuído no novo disco do cantor James Blake, e também havia colaborado com Kanye West em seu último álbum, The Life of Pablo.
A misteriosa stream e os novos rumores
A atenção do mundo da música voltou essa semana para Frank Ocean, depois que uma stream misteriosa surgiu no site do cantor (e na Apple Music).
No vídeo, o artista passa cerca de cinco horas por dia em uma espécie de oficina, cortando madeira, lixando metais e construindo algum tipo de objeto ainda não identificado.
Na última Segunda-feira, o New York Times afirmou que tudo isso (de algum modo) faz parte do famigerado lançamento do Boys Don’t Cry, que supostamente seria disponibilizado na Apple Music essa Sexta-feira.
Após tantas desilusões, os fãs do cantor estão otimistas, mas cautelosos — Frank já deu muitos motivos para ter sua confiança questionada. Mas parece que, finalmente, estamos próximos de conhecer o novo rumo da carreira do artista.
https://www.youtube.com/watch?v=TMfPJT4XjAI
Com as expectativas tão altas para um novo disco, é totalmente normal que o músico tenha tomado seu tempo. Nós chegamos a um ponto onde o hype é tão imenso, que se Boys Don’t Cry não for um trabalho impecável, é capaz de meio mundo ficar decepcionado.
Chega a ser injusto, mas a culpa não é totalmente nossa. Do começo ao fim, channel ORANGE é um álbum completamente relacionável, um retrato altamente emocional e reflexivo sobre amor e problemas sociais. Frank Ocean conseguiu, com somente um disco (e uma mixtape), que nos envolvêssemos tanto a ponto de estarmos satisfeitos, pelo menos por um tempo, por poder apenas assisti-lo cortar madeira por horas sem saber nem por qual motivo.
A impressão causada pelo músico foi forte e profunda. Poucos artistas por aí conseguem partir do anonimato para uma posição de headliner em menos de cinco anos e, por influenciar a minha vida e a de muitos por aí: obrigado, Frank.
Mas você bem que poderia lançar logo esse álbum, né?