Se você mora em São Paulo deve saber que a Casa do Mancha se tornou um dos locais de shows mais importantes para a música alternativa e independente.
Se não mora, pode confiar na gente e acreditar quando dizemos que o local é um dos mais influentes em todo o Brasil e por lá passam bandas que estão fazendo trabalhos dos mais interessantes e, se ainda não conquistaram fãs país afora, o farão em breve.
No ano passado a Casa do Mancha celebrou 8 anos de existência em grande estilo, com o festival Fora da Casinha, e após o sucesso do evento esse ano ele volta a acontecer, não para celebrar uma data, mas sim para se firmar como mais um festival de música no Brasil.
Conversamos com Mancha Leonel, idealizador e diretor do Fora da Casinha, sobre o evento que esse ano acontece em 07 de Agosto, Domingo próximo, e também música no Brasil, a Casa do Mancha e mais.
O TMDQA! estará no Fora da Casinha no Domingo e espera todos vocês por lá! Os ingressos podem ser encontrados por aqui.
TMDQA!: A Casa do Mancha é um dos locais de shows mais influentes de São Paulo e, por consequência, do Brasil. O festival Fora da Casinha surgiu como forma de celebrar 8 anos da Casa e teve uma primeira edição de enorme sucesso. Como foram esses 8 anos até a idealização do festival e como o sucesso da primeira edição fez você pensar na segunda?
Mancha: O festival surgiu da soma de vários fatores, principalmente da necessidade de expandir os limites físicos da casa e da relevância de todo trabalho que fizemos ao longo dos 8 primeiros anos. Costumo pensar que até o quinto ano estávamos encontrando nosso lugar, depois desse período já existe um início de trajetória um pouco mais sólida. Isso foi fundamental pra acreditar que tínhamos algo a contar, não era um festival charlatão, tinha um conteúdo construído ao longo dos anos e era o momento de começar a apresentar isso prum público maior.
Na ocasião, aproveitamos o aniversário da casa para lançar o festival, que teve curadoria baseada na história desses 8 anos, com artistas que representam bem o que fizemos ao longo do tempo. Nossa história é marcada pela imensa parceria que existe entre os artistas e a casa, pela relação próxima com o público, sem intermediários, ali no cara a cara. E acredito que isso se refletiu no festival.
O saldo final foi uma confraternização linda, com artistas e público enxergando o evento como todo festival deveria ser: uma grande celebração em torno da música. Isso trouxe uma sensação de pertencimento, de acolhimento, de sentir que não estamos sozinhos nessa jornada. E esse é o principal combustível para continuarmos adiante.
TMDQA!: Prestes a acontecer novamente, a ideia é que o Fora da Casinha se torne um festival frequente, sem ligação com alguma data como foi a primeira edição. A ideia também é que ele seja auto sustentável, sem patrocínio ou dinheiro do governo. Como vocês chegaram à conclusão de que um festival assim é viável e que ele pode ser feito por conta própria?
Mancha: Acredito que estamos num processo e esse resultado final será consequência de uma caminhada talvez mais longa do que gostaríamos. Mas uso como base minha experiência com a Casa do Mancha, que encontrou seu jeito de existir sem passar por patrocínios ou editais, sem depender da mídia conservadora, correndo em paralelo.
O que trouxe essa solidez é a continuidade do trabalho. Não existe uma fórmula que funcione pra todo mundo mas conforme se produz e estuda o que está sendo feito, a evolução começa a surgir.
Talvez há 15 anos atrás ser independente era sinônimo de amadorismo, hoje não é mais. As produções independentes têm a mesma qualidade técnica das comerciais, porém tem um conteúdo muito mais instigante. O público percebe isso e torna possível a existência tanto da Casa do Mancha quanto do Fora da Casinha.
TMDQA!: Em 2016 o Fora da Casinha terá nomes influentes da música brasileira como Ventre, Jaloo, As Bahias e a Cozinha Mineira, Hurtmold, Cidadão Instigado e mais. Quem é responsável pela curadoria do festival e qual a ligação das bandas que se apresentam lá com a Casa do Mancha? A ideia é retratar o que acontece durante o ano todo nos shows do local?
Mancha: Eu sou o responsável pela curadoria da casa e do festival. Claro que ouço opiniões, mas eu que fecho toda programação. Nas duas edições do festival, todos os artistas já tocaram na casa, são artistas que além de um trabalho relevante, também têm uma boa relação com nosso trabalho. Como o que fazemos tem um conceito muito forte e arraigado, sempre buscarei artistas que dialogam com isso. Tanto na casa quanto no festival.
Mas o festival não tem a obrigação de ser um recorte da casa. A casa já tem a sua história, o festival está começando a dele.
TMDQA!: Falando da Casa, quem vai pela primeira vez a um show por lá se impressiona pelo fato de que realmente é uma casa e o ambiente, compacto, permite que você fique literalmente ao lado do artista em uma janela, por exemplo. Como surgiu a ideia de organizar os shows por lá e o que você acha que foi determinante para que o local ganhasse fama e se tornasse um dos pontos mais procurados por bandas, artistas e público de música independente em SP?
Mancha: Sempre considerei a casa um laboratório musical, muito mais do que uma casa de shows. Gravamos discos, produzimos vídeos, fotos, eventos externos, pré produções, uma infinidade de trabalhos com música. Os shows naturalmente são a maior vitrine porque é o contato direto com o público, mas vieram derivados desses outros trabalhos que fazemos.
Acho que a honestidade de nosso discurso e nossa postura trouxe uma coerência ao longo dos anos que solidificou a casa. E a consequência disso é a reverberação que a casa tem, angariando um respeito que eu admiro demais.
TMDQA!: Quais são os planos para o futuro da Casa do Mancha e do festival? Vocês estiveram recentemente em um palco com curadoria própria no festival Bananada; como foi a experiência? É algo que pretendem repetir em outros eventos?
Mancha: Sendo um laboratório, estamos em constante movimento. Os shows dentro da casa continuarão muito similar ao que já são, apenas buscamos sempre melhorar algo no sentido de qualidade de som.
Pro ano que vem planejo dar uma atenção especial às gravações realizadas na casa. Paralelo a isso existem as experiências de fora, como o Bananada, que foi incrível. Já estamos confirmados novamente com um palco na edição do ano que vem e pretendo circular o máximo que conseguir.
TMDQA!: Como parte viva da atual cena da música brasileira, você vê vários artistas surgindo no underground e ganhando espaço em dias onde a cena independente brasileira é fortíssima mas carece de nomes no mainstream. O que acha do tempo em que vivemos na música por aqui e como enxerga o futuro da indústria da música trabalhando com artistas que todos nós reconhecemos?
Mancha: Acho que por muito tempo ainda existirá a “indústria da música” no sentido comercial da coisa. Produtos sem preocupação estética continuarão tendo espaço na mídia, o entretenimento continuará se sobrepondo à qualidade artística… isso não vai mudar.
Mas nosso trajeto é outro, passa por outro lado. Não buscamos os mesmos resultados que a indústria.
Enxergo que estamos conquistando um espaço novo, menos predatório e mais plural. Optamos por fazer 1mil eventos de 100 pessoas ao invés de 1 evento de 100 mil pessoas.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Depois de colocar 1mil pessoas celebrando a música independente sem patrocínio, sem incentivo público, enfrentando todas as adversidades e ainda assim sair com um sorriso no rosto? Não.. tenho muito mais amigos.