Ah, o streaming! Herói e vilão em todas as discussões atuais sobre o futuro da indústria fonográfica, o streaming é, acima de qualquer dúvida, uma das formas mais práticas de se ouvir e descobrir música desde o advento da música gravada. Os algoritmos trabalham, a gente ouve um monte de coisa boa, paga a mensalidade tranquilo e fica todo mundo feliz.
O problema é que essa comodidade muitas vezes nos faz ignorar excelentes lançamentos que, por uma razão ou outra, ficaram de fora dos grandes serviços do nosso serviço de streaming escolhido. Existe toda uma discussão sobre isso, mas vamos deixar essa conversa para outro post; hoje é dia de indicar cinco grandes lançamentos que até a publicação deste post você não acha na aba de busca do seu Spotify:
King Gizzard & The Lizard Wizard – Nonagon Infinity
Fantástico, certamente um dos meus favoritos do ano. Nonagon Infinity é o oitavo álbum (em 6 anos de banda!) dos australianos do King Gizzard & The Lizard Wizard. Uma verdadeira avalanche frenética de psicodelia ácida. Frenética e infinita, porque as nove faixas do disco foram construídas com riffs e temas que conversam entre si, de forma que o fim de cada música seja uma conexão direta com o início da próxima. Assim, quando o álbum acaba em “Road Train”, ele recomeça na faixa de abertura, “Robot Stop”, e assim segue. É o “ouvir no repeat” literal.
Como ouvir: o disco toca em loop eterno no site http://www.nonagoninfinity.com, e pode ser adquirido em vários formatos na página da banda no Bandcamp.
Para ouvir com atenção: o single “Gamma Knife” (acima), com solo de bateria à la Gene Krupa, e o frenesi hard-roqueiro de “Evil Death Roll”. Só tiro.
Jamila Woods – HEAVN
Destaque já em 2016 pela participação marcante em Coloring Book (2016), última mixtape do Chance The Rapper, a cantora Jamila Woods estreia oficialmente como artista solo em HEAVN, lançado em julho. Elogiado em várias publicações internacionais, HEAVN dialoga com o universo pop e com a ressurreição do R&B sem soar genérico ou datado. Na verdade, é um belo spoiler da música negra americana que está por vir.
Como ouvir: o álbum está disponível para audição no Soundcloud da cantora, onde dá pra achar um link baixar o disco inteiro de graça.
Para ouvir com atenção: as letras pontuais de Jamila, que equilibram a angústia do debate racial norte-americano (“Blk Grl Soldier”) com momentos mais leves, como a citação a “Just Like Heaven”, do The Cure, no início de “HEAVN”.
CESRV – BR$L
Não é de hoje que o produtor paulistano Cesar Pierri atrai ouvidos atentos, tanto pela atuação um dos cabeças do Beatwise Recordings, um dos selos mais interessantes do país, como pela própria criação musical. Sob a alcunha CESRV, Cesar soma uma discografia que vai do hip-hop jazzeado de One Thousand Sleepless Nights (2013) até BR$L, EP recém-lançado onde o produtor se inspira no submundo da eletrônica inglesa para criar beats frenéticos e intensos, mas extremamente musicais.
Como ouvir: por enquanto, só mesmo no Soundcloud do CESRV, embedado acima.
Para ouvir com atenção: a agressividade incessante de “Gambé/Milícia/Comando” e os 3 minutos tensos de “Shootaz”.
Thee Oh Sees – A Weird Exits
Visitar a página do Thee Oh Sees no Spotify é como entrar em uma máquina do tempo. Desde 2013, quando a banda voltou a ser independente, o serviço foi completamente ignorado por decisão de John Dwyer, líder do grupo e um dos criadores do selo Castle Face Records, completamente ausente do Spotify. De lá pra cá, o Spotify não mostra, mas Dwyer reformulou totalmente o Thee Oh Sees e lançou quatro novos álbuns de estúdio com a banda.
A Weird Exits é o mais recente deles e é o primeiro a conseguir encapsular, mesmo que longe da perfeição, a energia do Thee Oh Sees em cima dos palcos. É um registro atemporal de um grupo furioso alimentado por duas baterias, ambas muito bem impulsionadas pelo ótimo trabalho de mixagem do disco.
Como ouvir: dá para ouvir o álbum em alguns sites gringos, mas não é possível saber por quanto tempo ele ficará disponível. Na dúvida, vale comprar o disco em LP no site da Castle Face, que oferece prensagens lindas e muito bem feitas. E tem o disco no YouTube, também.
Para ouvir com atenção: a garageira “Gelatinous Cube” e a abstração experimental de “Crawl Out From The Fall Out”, um contraste interessante ao frenesi do restante do disco.
Nik Bärtsch’s Mobile – Continuum
Continuum é a estreia de Mobile, o novo grupo do pianista suíço Nik Bärtsch. A diferença de Mobile para Ronin, o grupo anterior de Bärtsch, é a presença exclusiva de instrumentos acústicos no novo grupo, com espaço para um pequeno time de cordas e a adição de um segundo baterista e percussionista. O resultado é um disco refinado, sutil, criativo e dançante.
Como ouvir: a ECM Records, gravadora do álbum, é contra os serviços de streaming por considerar injusta a forma como os serviços pagam os selos e os artistas. Por isso, Continuum não está disponível para streaming em lugar nenhum. Há somente uma prévia no site da ECM, onde dá para comprar o disco em CD e LP duplo.
Para ouvir com atenção: o trabalho excepcional de Sha no clarinete baixo ao longo do disco, como nessa versão ao vivo de “MODUL 4”: