[Crítica] A Qualquer Custo (Hell or High Water)

A qualquer Custo, filme com Jeff Bridges que concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante em 2017, com Chris Pine e Ben Foster.

A Qualquer Custo

Hell or High Water (A Qualquer Custo)? Inferno ou Água Alta? Estranha a concepção da vida com escolhas ao se deparar com a possibilidade se serem essas duas as escolhas dadas. Escolhas que se baseiam em um dilema filosófico clássico. Uma ação em oposição à uma ideia. Um conceito. Com a água pelo pescoço você só precisa manter a postura e assim se manterá vivo. É uma vida baseada em sobrevivência, em matar o hoje para poupar o amanhã. O inferno será então a idealização da entrega. Aquele que vive no inferno já se entregou à sua incapacidade de manter-se sob a postura que salvará, pois sabe que ela nunca será eterna mesmo. A água não tem emoções suficientes para desistir.

Neste filme, Chris Pine e Ben Foster interpretam dois irmãos de concepções diferentes de mundo, mas que se encontram na desistência que se dispuseram a prestar ao mundo e suas ações. É a história de dois homens que se entregaram e optaram por partir rumo ao seu último suspiro. Com dívidas e vivendo numa cidade que não apresenta perspectiva alguma de vida, após a morte da mãe resolvem assaltar bancos para pagar a dívida da fazenda herdada. Montam seu plano, sua estratégia e vão atrás de desbancar o sistema financeiro que gerou esta e outras dívidas, e deixaram casas e terrenos tão desérticos quanto o coração dos habitantes daqueles lugares abandonados. Contra eles, o Xerife interpretado por Jeff Bridges, mais Jeff Bridges do que nunca, em seu tipo ideal de papel. Um homem que está sempre um passo à frente, mas que por assim ser, se coloca numa posição fatalista e debochada sobre a vida.

Tudo que se pensa saber ainda é mistério. Essa é a essência do western, o western da vida pode ser também. A questão é essa peregrinação de destino exploratório, sem regras bem definidas ou alinhadas com aquilo que se tem por necessidade, e ainda fazer disso algo que frequente o seu cerne e esteja de acordo com seus princípios, sejam eles bons ou maus.

E aquele terreno árido, seco e sem vida que jorra um sangue obscuro e sombrio que transforma as pessoas em males por si só. Males de si mesmos. Ganância.

E assim o terreno te moldará. Te tornará aquele sujeito estranho, no olhar ateu, no rosto de sal. Estranho como se já fosse possível chover sem molhar, como se não precisasse mais do Sol pra secar. O rosto e olhar quase petrificados pela preocupação, claros como a ruga, fortes como a marca de expressão.

Um sujeito estranho com uma história estranha em seu jeito James Dean meio cafona e normal, fumando um Marlboro e navegando doido coberto de areia e sal. Estranho como se fosse assim chuva de colibri.

Este é A Qualquer Custo. Um filme sobre a pressão, a resistência e desistir sabendo que a água sempre vence.

Um dos melhores filmes do ano de 2016, e em cartaz no Brasil.

https://www.youtube.com/watch?v=bFNcVACX7kM