Este post é o segundo de uma série que a banda Labirinto fará no TMDQA enquanto viajam em turnê pela Europa durante o mês de maio e junho. A banda paulista de post-rock/metal instrumental fará 13 shows passando pela Alemanha, Bélgica, França, Portugal, Espanha, Itália, Romênia, República Checa e Eslováquia.
Leia aqui a primeira parte dos bastidores da turnê
É a terceira vez do grupo na Europa e eles irão contar os bastidores da viagem nesta série de quatro posts. Este foi escrito por Marcos Felinto, que entrou na banda temporariamente para substituir o guitarrista Luis Naressi durante a turnê.
A programação do dia é… Tomar banho!
18 de Maio, Dia 8 Em uma tour de banda independente as coisas devem ser bastante planejadas e algumas decisões simples, como fazer mercado, envolvem o deslocamento ou a concordância de todos, há questões de grana que são compartilhadas e há mediações com a banda local, o booker, quem nos hospeda, etc.
Hoje a programação foi TOMAR BANHO na casa de Renné do Kokomo, ainda em Duisburg. Antes, todxs fomos até Colônia (algo como ir do centro de São Paulo até Jundiaí), pegamos a guitarra na Music Store e tivemos o alívio de ouvi-la soar bem novamente. Guel (funcionário baiano que trabalha na loja) foi um salvador! A guitarra voltou trastejando um pouco, mas Kiko que é um pouco luthier fez os reparos finais antes da apresentação de Aalst, na Bélgica.
Às vezes as coisas parecem que tomarão menos tempo do realmente tomam quando acontecem de fato. Entre sair do estúdio do Kokomo, ir até Colônia e tomar banho levamos entre 10 da manhã e 21h! Feito isso, fomos visitar o maravilhoso Café de Dênnis, da banda Magma Waves, lugar mega aconchegante criado por ele e sua esposa, num beco que qualquer um poderia bem “passar batido”. Comemos e bebemos e como unanimidade consentimos que temos neste cara um maravilhoso novo amigo.
Descobrindo a Bélgica
19 de Maio, Dia 9 Acordar cedo acaba virando rotina. Partimos de Duisburg, na Alemanha, para a Gent e depois Aalst, Bélgica, uma viagem de 1h30. Assim que chegamos em Gent passamos na Consouling Store, demos um alô para o pessoal que já é parceiro da banda há um tempo, alguns comparam discos, outros foram descobrir a cidade. De lá fomos para Aalst e encontramos Martin, dono do Cirque Mystic, onde tocamos. O local é bem legal, localizado numa pequena viela frequentada por um mar de jovens bebendo cerveja.
Montamos tudo, encontramos o pessoal da banda Pray for Sound, de Boston. Eles perderam a apresentação de Bordeaux assim como nós (o festival foi cancelado em cima da hora). Neste rolê também trombamos Joris, colaborador do Dunk Festival e Mathieu Vandekerckhove da banda Amem Ra, que já foi para SP com seu projeto Sindrome, apoiado pela Dissenso Records.
Pray for Sound abriu a noite com post rock, uma estética bem parecida com a de filmes teen norte americanos, vários riffs bons e um apelo meio emo. A felicidade dos caras nesta primeira turnê que fazem é tanta que não há como não se empolgar com eles.
Então foi nossa vez: fizemos um ótimo show e contamos um técnico atencioso, preocupado com a banda. Som alto e público pequeno, mas bastante empolgado com o que apresentamos. Às vezes sinto que as apresentações do Labirinto são algo como ir ver um filme de ficção fantástica no cinema. Acabado tudo fomos para um hotel, e tivemos banho – pelo segundo dia seguido!
Tocando no Rio Sena… E sem nenhum lugar para dormir
20 de Maio, Dia 10 Em relação ao trânsito cada local tem sua peculiaridade. Em algumas cidades é difícil estacionar para fazer coisas simples como comer. Em outras é difícil dialogar com a sinalização. Em Paris, o trânsito é simplesmente impossível. Fizemos o trajeto da Bélgica para Paris em mais ou menos 3 horas. Estávamos com o tanque cheio e pagamos uma pedrada no pedágio, 25 euros.
Por outro lado, a surpresa foi grande quando vimos que tocaríamos literalmente dentro do rio Sena, em um barco de três andares, no topo um salão de festas com vista para o rio.
Tenho a impressão de que encontrei o melhor staff técnico de som da minha vida. O som que chegou nas PAs era absurdamente cheio, quente e vivo. A equipe percebia tudo nos mínimos detalhes e quando percebíamos que precisávamos fazer algo, eles já haviam se antecipado. Parece que um deles faz técnica para o Hellfest.
Na noite, que só escureceu depois das 22h tivemos novamente o Pray for Sound, que vieram de uma noitada de curtição em Aalst. Lost in Kiev, que fez uma boa apresentação bem calcada em riffs próximos de um Cult of Luna, um pouco menos expressivo, mas com uma pegada bem imagética e bonita também, sintetizadores com timbres incríveis, e nós, Labirinto.
Sei que disse isso no post anterior, mas na real a melhor apresentação ocorreu hoje em Paris. A casa estava cheia, o som estava denso, pesado e bem equilibrado a ponto de causar arrepios em nós mesmo. O engraçado de tocar em um barco é que ele balança, isso gerou situações engraçadas de desequilíbrio para pisar em um pedal ou outro, ou enquanto bangueavamos, tonturas e até alguma ânsia de vômito…
Acabado o show, descobrimos que recebemos um furo da pessoa que ficou responsável por nos garantir estadia. Terminamos pagando pela noite em um hotel, com cara de hospital e uso como motel na periferia de Paris. Chegando no quarto não tínhamos muito o que jantar a não ser bolachas doces, maionese, calabresa vegetariana e cup noodles para fazer na água da pia.
Este foi o terceiro dia seguido com chuveiro a disposição.
No travesseiro de Kiko tinham marcas de batom deixadas por outros visitantes…
O show que não aconteceu
21 de Maio, Dia 11 Este seria o dia de Bordeaux, no sul da França. Acordamos no hotel/hospital no subúrbio de Paris, que bem lembrava a região da Paulista em São Paulo. Fizemos mercado, encontramos alguns falantes de português empolgados com nossa presença e com a possibilidade de arriscar um pouco em nossa língua.
Tomamos café na van e partimos para o sul. No fim das contas não ter a apresentação de Bordeaux foi um tanto providencial, pois foram 10 horas de estrada, paisagem bucólica e sons agradáveis como Sumach e Old Man Gloom. O som na van é algo muito importante de cuidar.
Até agora gastamos um pouco mais de dois tanques de diesel, e hoje fizemos mais ou menos 600 quilômetros e passamos por três pedágios de arrancar o couro. O sistema de cobrança das estradas daqui cobram de acordo com o quanto rodam os carros e ao todo gastamos 123 euros!
Muriel encontrou abrigo na hora certa. Um bom contato nos fez parar em uma pequena vila chamada Lemon Dulce, habitada por 500 habitantes. A vila realmente tinha um cheiro inacreditavelmente agradável de flores cítricas, uma Mantiqueira no sul da França, com os alpes de um lado e o mar da Espanha do outro. Estávamos com o tanque já na reserva pouco antes de chegarmos no destino, com medo de ficar encalhado na estrada, mas chegamos e fomos recebidos com animação por nosso anfitrião Jerome.
A casa era um sonho e nunca imaginaríamos uma pausa em um lugar tão revigorante. Uns foram dormir, outros tomaram cervejas do local, outrxs organizar coisas para a saída no dia seguinte.
Da França à Portugal: 10 horas na estrada
22 de Maio, Dia 12 Acordamos cedo e fomos recepcionados por Jerome com um café cinematográfico. Jerome estava empolgado e nos contava sobre sua entrada em uma banda, sua primeira banda na vida, suas primeiras apresentações, pesquisas estéticas, etc. Sua banda, Way for Nothing, faz algo post entre o rock e o metal e em sua formação contam com um tecladista negro, ele não pode esconder sua empolgação em notar a semelhança com esta formação do Labirinto para a tour.
Nos despedimos e partimos para mais 10 horas de estrada em direção a Lisboa, em Portugal, mais pedágios caros, paisagens maravilhosas e muito bom humor.
A viagem parecia que nunca acabaria, mas cá já estamos em Lisboa, rindo das pequenas situações relacionadas aos desencontros entre nossa língua portuguesa e a daqui.