Rolou neste último final de semana (26 e 27) o Oxigênio Hardcore Fest em São Paulo, e se você é fã do gênero e não foi, podemos te dizer com certeza: perdeu!
Com dois dias de festa e muitas (muitas mesmo) bandas da cena, o público paulista pôde apreciar um ambiente diverso, cheio de coisa legal pra fazer e com uma organização muito boa por parte do evento durante o fim de semana.
Aliás, haja fôlego por parte da plateia: com dois palcos simultâneos que, ora sim ora não vinham a calhar durante o festival — e falamos mais pra frente sobre isso –, os fãs acompanharam uma programação ininterrupta de shows pesados e com muita energia.
Dia 1
Por Stephanie Hahne
O primeiro dia do festival começou um pouco lento, com um público pequeno e quieto que, do nada, pipocou ao longo da tarde lotando o Via Matarazzo, localizado na Zona Oeste de São Paulo.
Com abertura do Não Há Mais Volta no palco alternativo Side Stripe e do La Raza no principal Off The Wall, o sábado (26) deu partida com um som pesado e bandas dispostas a fazer um baita show por ali, mesmo que com o tempo apertado — o início da programação previsto para 14h15 acabou empurrado para as quase 15h.
Seguidos pelo Running Like Lions com um show mais contido e o Toyshop animado lá no palco principal, o pequeno problema da simultaneidade das apresentações começou a aparecer. Durante os shows do Plastic Fire e do Maguerbes — com uma apresentação incrível onde o vocalista deixou o palco durante todo o tempo para cantar com a plateia e saltar do mezanino –, o público começava a se aglomerar nas portas vai-e-vem do local (e algumas pessoas, eu inclusa, acabaram levando uma portada no nariz). Ficou uma certa confusão de qual show dar prioridade, e apesar do fácil acesso a cada ambiente até certa hora do dia, foi meio difícil acompanhar com vontade todos os shows — algo que não foi um problema para quem estava ali para curtir apenas uma lista seleta de bandas.
E isso ficou mais evidente ainda a partir dos shows do Sapobanjo com seu ska no Side Stripe e do Questions lá no Off The Wall, por volta das 17h. Com bastante gente acompanhando as apresentações e se animando para os famosos mosh pits, ficou mais difícil transitar pelo local. O pico do palco alternativo veio com o Hateen, trazendo seus hits dos anos 2000 para um público que cantava alto cada letra da banda. Lá no principal, o Chuva Negra pegou pesado e deu uma canseira (no bom sentido) na plateia.
Então, chegou o Pense logo em seguida trazendo muuuuita gente ao maior ambiente do Via Matarazzo e… não deixando muita coisa para os veteranos do Ponto Nulo no Céu, apesar dos fãs fiéis dando a maior força por ali. O Side Stripe só voltou a lotar para o show enérgico e conscientizado do Dance of Days, que fecharia a programação por ali.
A festa continuou no Off The Wall com o Cueio Limão, trazendo hits dos álbuns Quem Matou o Bozo? (2004), Ainda Sou um Rockstar (2006) e Paraguayo (2008). O público aglomerado ali não deixou o grupo decepcionado e, assim como veio fazendo durante todo o dia, cantou a plenos pulmões e se esbaldou no mosh pit.
Quem fechou o dia foi o grande headliner Dead Fish, trazendo sua turnê de 25 anos e hits como “Bem-Vindo ao Clube”, “Eleito por Ninguém”, “Selfegofactóide”, “Fragmento”, “Queda Livre” e encerrando com “Sonho Médio”. Durante a performance, o vocalista Rodrigo Lima aproveitou para abordar suas declarações com relação à canção “Lupita”, de 2014, seguindo o discurso que publicou nas redes da banda.
O sábado terminou animado e, pelo que deu para perceber, com um público prontíssimo para a segunda rodada no dia seguinte.
O relato do segundo dia continua após a galeria.
Dia 2
Por Laís Ribeiro
O segundo dia do festival foi iniciado pelas bandas Sallys Home, no palco secundário Side Stripe, e Never Too Late, no palco principal Off The Wall. O público ainda era pequeno e chegava se dividindo entre os dois palcos e a área externa.
Além dos shows simultâneos, o evento contou com diversas atividades como oficina de bottom, pista de skate, máquinas de fliperama e exposição de arte. Tinha sempre algo legal acontecendo e o difícil era conseguir acompanhar tudo.
Gostaria de ter visto o show completo da ótima Deb And The Mentals, que tem feito belas apresentações divulgando o disco Mess (2017), porém, no palco principal rolava Gritando HC e seus clássicos, que deram origem ao primeiro bate cabeça do dia. Pouco depois, quando Manual e Surra subiram ao palco, a movimentação pela casa já era maior. A circulação pelos ambientes era super tranquila, mas os fundos da área externa já começavam a encher. Era onde ficavam as barraquinhas de merch, com os integrantes de diversas bandas se revezando nas vendas e interagindo com amigos e fãs.
Dando sequência ao evento, a divertida apresentação do Fistt aconteceu no palco secundário, enquanto o Abraskadabra mandava seu ska-core no palco principal. Com música e cerveja, o clima era de festa –- e um pouco de tensão para os que tentavam acompanhar o que estava rolando no clássico Palmeiras x São Paulo, acontecendo logo ali no Allianz Parque. Com o entardecer, a galera presente já era grande. No palco Side Stripe, o DFC fazia geral entrar no mosh, sob o comando do vocalista Tulio, que incentivava com palavras e com seus pulos. Já no Off The Wall, era a vez do Bullet Bane, com um público fiel, que cantou junto e fez bonito, principalmente quando a banda anunciou que estava gravando o clipe de uma das faixas do disco Continental, previsto para sair em breve.
A simultaneidade dos palcos foi interessante por não deixar a música parar e a boa estrutura da casa permitia fácil acessibilidade tanto pela pista quanto pelo mezanino. Contudo, alguns shows que deveriam começar com cerca de 15 minutos de diferença acabaram começando exatamente juntos e, com o espaço já cheio, passou a ser quase impossível realmente assistir mais de uma banda em um espaço curto de tempo.
Da apresentação do Menores Atos pude notar que o grupo já tem um público bastante cativo, que conhece todas as músicas e se entrega mesmo. Alternando momentos de peso e rapidez com momentos mais lentos, o grupo prendeu a atenção também de quem ainda não os conhecia bem. O show ainda teve Reynaldo Cruz, vocalista do Plastic Fire, que havia se apresentado no dia anterior, durante a faixa “Tragédia Circular”. Enquanto isso, no palco principal, o Sugar Kane fez o último show da sua turnê comemorativa de 20 anos. Entre faixas mais recentes e antigas, o repertório contou com os maiores clássicos da banda, como “Medo”, “Velocidade” e “Janeiro”. Com mosh, roda e cantando muito alto, fãs aproveitaram cada momento da apresentação, finalizada com “A Máquina” e “Despedida”.
Para fechar as atividades do palco Side Stripe, o Garage Fuzz fez o espaço ficar pequeno. Recentemente, a banda gravou o DVD que celebra os 25 anos de banda e, fazendo um apanhado da carreira, se apresentou no Oxigênio com músicas de diversas fases do grupo. Pista lotada, fãs no palco e uma troca de energia muito grande! No palco Off The Wall, o encerramento foi com as duas bandas headliners do evento, Cueio Limão e Dead Fish, que estiveram presentes nos dois dias de festival.
Em hiato há alguns anos, o Cueio Limão faz apresentações esporádicas. Apesar do público ainda dividido entre os palcos, muita gente optou por assistir ao hardcore do mato. “Rockstar”, “Mario”, “Maçarico’s Love Song” e “Forrest Gump Girl” foram algumas das faixas presentes no setlist. Com muita participação nas rodas e nas deixas para cantarem sozinhos, os fãs puderam matar a saudade da banda em grande estilo. Rolou até a participação do ex-baterista André Mattera nas músicas “Se No Céu Não Tem Cerveja” e “Mauricinho”. Para finalizar, o clássico “Quem Matou O Bozo?”, “De Creta À Icária” e “Prego”.
E a última apresentação da noite ficou por conta do Dead Fish. Sem a concorrência de palcos, a pista principal ficou completamente lotada. “Asfalto” e “Jogojogo” abriram o show e deixaram o ambiente caótico como de costume. Stage dive, mosh, pulos e muito fôlego da plateia estiveram presentes do início ao fim. Os shows da banda são sempre uma catarse coletiva e, apesar de muitos estarem no festival há muitas horas, o cansaço não teve vez.
“Proprietários Do Terceiro Mundo”, “Queda Livre” e “Autonomia” também marcaram presença. Reynaldo, do Plastic Fire, mais uma vez fez uma participação na noite, dessa vez em “Tão Iguais”. A apresentação seguiu intensa, entre clássicos e canções do disco mais recente, Vitória. Como não poderia deixar de ser, um dos pontos altos foi em “Sonho Médio”, um dos grande hinos do hardcore nacional.
O Oxigênio Hardcore Fest chegou ao fim e o saldo foi muito positivo! Há muitos anos não era possível participar de um evento que reunisse tantas bandas do mesmo estilo de uma só vez. Espaço adequado, atividades diversas, muita música boa, facilidade de acesso aos bares e opção de comida vegana. Que a iniciativa de fazer o festival com essa nova proposta continue nas próximas edições.
Vida longa ao Oxigênio!