Hoje na música: 10 fatos incríveis do dia 7 de Outubro

Veja dez incríveis histórias do mundo da música internacional que ocorreram ao longo dos anos, sempre no dia 7 de Outubro.

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Fotos: Wikimedia Commons

Mês de Outubro. Hoje chegamos ao 280º dia do ano. Faltam apenas 85 dias para o fim de 2017. Em homenagem a músicos como Chico Buarque, Gilberto Gil, Cazuza, Tom Jobim e Noel Rosa, comemoramos nesta data o dia do compositor brasileiro.

Além disto, o dia 7 de Outubro também está repleto de eventos incríveis: primeiro dia da Era Judaica (3761 a.C.); edição da primeira bula condenando a escravidão por Pio II (1462); morte do escritor Edgar Allan Poe (1849); fuga de Albert Einstein para os Estado Unidos para se livrar da perseguição nazista (1933); invasão do Tibete pela China (1950); estreia do primeiro filme feito para televisão (1964); nascimento do primeiro bebê de proveta no Brasil (1984); início da campanha militar de George Bush contra o Afeganistão (2001); eleição de Arnold Schwarzenegger como o novo governador da Califórnia (2003) e muitos mais.

O mundo da música não poderia ficar de fora e abaixo segue um apanhado cronológico de dez acontecimentos que vieram a marcar tal data na cultura pop internacional.

“Eu não estou tentando ser sexy. É só a minha forma de me expressar quando eu me mexo,” Elvis Presley

Em 1956, o jovem Elvis Presley lançou seu primeiro single, “Heartbreak Hotel”. A canção, composta por Tommy Durden e Mae Boren Axton, foi inspirada na notícia do suicídio de um homem solitário que pulou da janela de um hotel. Seu sucesso foi imediato: sete semanas no topo das paradas norte-americanas e o primeiro de muitos hits que o cantor lançaria em sua carreira.

No ano seguinte, Elvis já havia gravado três álbuns de estúdio (Elvis Presley, Elvis e Loving You), lançado vários singles de sucesso, um EP gospel (Peace In The Valley), trilhas sonoras e filmes. Agora, seus esforços estavam concentrados no estúdio Radio Recorders, em Hollywood, onde acontecia a gravação de seu quarto disco.

Inspirado no sucesso de Peace In The Valley, o produtor Steve Sholes percebeu um enorme potencial em atribuir o nome de Elvis a um lançamento natalino. Apesar da fama de rebelde do cantor e o fato de seu público ser predominantemente composto por adolescentes histéricas, a tarefa não foi tão complicada quanto parecia. Eles precisariam de apenas oito músicas novas, visto que as quatro canções do EP fechariam o lado B do disco. Fácil.

Assim, na primeira sessão de gravação, Elvis convidou Millie Kirkham, após ouvi-la em “Gone” de Ferlin Husky, e juntos gravaram “Blue Christmas”. Logo depois vieram “Silent Night”, “Here Comes Santa Claus”, “White Christmas” e outras, e em apenas três dias de gravação, o álbum estava finalizado.

No dia 7 de Outubro de 1957, o disco Elvis’ Christmas Album foi certificado em ouro antes mesmo de sair (sua pré-venda contou com mais de 500 mil cópias). Lançado apenas oito dias depois, o trabalho vendeu mais de 15 milhões de cópias ao redor do mundo, sendo considerado o melhor álbum de natal de todos os tempos.

“Se alguém pensa que paz e amor é um clichê esquecido nos anos 60, é problema seu. Paz e amor são eternos,” John Lennon

Três anos mais tarde, em Liverpool, surgiram os Beatles. “Nada havia me afetado até eu escutar Elvis. Se não fosse por Elvis, os Beatles nunca teriam existido,” garantiu John Lennon sobre o Rei do Rock. Sua influência nas músicas e atitude do jovem inglês eram evidentes e, assim como o ídolo, sua banda também se tornou um fenômeno, deixando um legado eterno. “Ele era como o nosso pequeno Elvis… todos nós admirávamos o John. Ele era o mais velho e basicamente era o nosso líder,” atestaria Paul McCartney anos mais tarde.

Por outro lado, logo veio a década de 70 e com ela o fim vários movimentos e entidades, dentre elas os Beatles. O sonho infelizmente havia acabado, embora não tenha sido o suficiente para privar seus integrantes de sua incrível genialidade ao longo dos anos que viriam. Logo em 1970, todos os quatro ex-Beatles iniciaram suas carreiras solo: John Lennon/Plastic Ono Band, McCartney, All Things Must Pass e Sentimental Journey foram os discos lançados por John, Paul, George e Ringo, respectivamente.

Quanto à Lennon, este acabou virando uma espécie de ativista e porta-voz de uma geração que tentava pôr um fim à guerra do Vietnam. Mudou-se para Nova Iorque com Yoko Ono e, com o impacto de hinos como “Give Peace a Chance” e “Happy Xmas (War Is Over)”, entrou na lista negra do então presidente Richard Nixon. Seu governo iniciou uma extensa investigação com auxílio do próprio FBI e fez o que pode para deportar o músico de volta à Inglaterra. Nixon acreditava que suas manifestações e envolvimento com outros líderes políticos poderiam lhe custar sua reeleição.

Assim, em Março de 1972, o Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos deu entrada no processo de deportação de Lennon. O ato alegava que o país não poderia admitir a estadia do músico em território americano em virtude de uma acusação de porte ilegal de maconha em Londres, de 1968. John então passou quase quatro anos em exaustivas audiências de imigração. Foi apenas no dia 7 de Outubro de 1975, pouco mais de um ano após Nixon renunciar ao cargo de presidente, que um tribunal barrou seu processo de deportação alegando que “não aceitaria uma deportação seletiva baseada em motivos políticos.” Lennon havia finalmente vencido a batalha contra o governo americano.

Seu green card foi emitido no ano seguinte, porém Lennon não teria muito tempo para usufruí-lo: foi sorrateiramente surpreendido por quatro tiros nas costas quando voltava ao seu apartamento em Manhattan. Os disparos foram feitos à queima roupa por um “fã”, que havia recebido, horas atrás, o autógrafo de Lennon em sua cópia do álbum Double Fantasy.

https://www.youtube.com/watch?v=tlKX-m17C7U

“Detroit acabou por ser o paraíso, mas também por ser o inferno,” Marvin Gaye

Enquanto a Inglaterra presenciava o nascimento dos Beatles, os Estados Unidos testemunhavam o surgimento da lendária Motown Records, em Detroit, que introduziu ao mundo seu próprio estilo musical dando uma nova cara ao soul music. E ela não parou por aí: introduziu os chamados “girl-groups” e até hoje é considerada o mais importante veículo de lançamento de artistas negros até o surgimento do hip hop. De toda esta onda, seu principal expoente foi o cantor, compositor, produtor e multi-instrumentalista Marvin Gaye.

Sua carreira na Motown teve início em 1961, quando foi contratado como baterista de estúdio. Resolveu adicionar a letra “e” ao final de seu sobrenome, numa homenagem ao seu ídolo, Sam Cooke, e como uma forma de se livrar de zombarias acerca de sua sexualidade. Lá, gravou com grupos como The Miracles, Martha and The Vandellas e The Marvelettes — embora seu verdadeiro desejo fosse de se tornar um dos artistas da Motown. Coincidentemente, sua namorada, a compositora Anna Gordy, era irmã do presidente da gravadora, Berry Gordy Jr., e conseguiu convencê-lo de que um contrato com Marvin poderia ser uma boa jogada.

Nos anos seguintes, a insistência de Anna rendeu belos frutos à gravadora. Embora seus primeiros lançamentos tenham fracassado e sua relação com a Motown sempre fora conflituosa e marcada por inúmeros atritos quanto à direção artística que deveria tomar, Marvin conseguiu alcançar o sucesso nos seus próprios termos. Emplacou diversos hits, como “How Sweet It Is (To Be Loved By You)”, “You Are A Wonderful One” e “If This World Were Mine”, e até mesmo casou-se com Anna, em Junho de 1963.

Na década de 70, enquanto Lennon alcançava seu tão sofrido direito de residência em território americano, Marvin Gaye, apesar de tudo o que havia conquistado até então, passava por maus bocados. Havia perdido sua principal parceira musical, Tammi Terrell, para um tumor cerebral; viu o fim de seu casamento com Anna após um cansativo processo de divórcio que levou quase dois anos para se concretizar; seu novo álbum, Here, My Dear, lançado com o intuito de ajuda-lo no pagamento da pensão alimentícia de seu filho, provou-se um fiasco de vendas; entrou numa terrível depressão; desenvolveu um profundo vício em cocaína; e estava com sérios problemas com a Receita Federal Americana.

No dia 7 de Outubro de 1978, a revista Billboard relatou que Gaye estava falido e com dívidas milionárias. O cantor então mudou-se Maui, no Havaí, mas logo foi obrigado a fugir para a Europa, numa tentativa de não ser jogado na cadeia por não pagar suas crescentes dívidas com a Receita. Tudo parecia perdido para Marvin, até que uma oportunidade lhe foi oferecida em Ostend, na Bélgica. Lá, o músico assinou um contrato com a Columbia Records e teve sua carreira reerguida com seu primeiro lançamento fora da Motown, “Sexual Healing”, em 1982, do álbum Midnight Love. A canção se tornou seu maior sucesso, porém não foi o suficiente para lhe garantir uma vida segura.

Em 1984, Marvin já não era mais o mesmo. Depressivo e paranóico pelos efeitos da cocaína, foi assassinado por seu próprio pai, o pastor evangélico Marvin Pentz Gaye Sr. Após uma calorosa discussão com os pais sobre a perda de documentos de negócios, o cantor recebeu um tiro na cabeça advindo da arma que, ironicamente, havia dado de presente ao seu pai.

“Eu posso não acreditar em mim mesmo, mas eu acredito no que eu estou fazendo,” Jimmy Page

Em Setembro de 1980, enquanto Marvin Gaye gravava o disco In Our Lifetime? em seu exílio europeu em Londres, morria John Bonham, o icônico baterista do Led Zeppelin. Sua morte ocorreu de forma acidental na casa de seu companheiro de banda, o guitarrista Jimmy Page — a Old Mill House, em Clewer, na Inglaterra. Após um dia inteiro de bebedeira, Bonham adormeceu e foi levado para a cama, apenas para ser encontrado morto na tarde seguinte. Segundo a autópsia, o baterista consumiu cerca de 1,4 litros de Vodka e acabou se afogando no próprio vômito enquanto dormia — menos de três meses antes de John Lennon ser assassinado.

Frente à perda do baterista e amigo, a banda optou por não buscar um substituto. Cancelou a turnê e decretou o seu fim por meio de um comunicado à imprensa no final do ano. “Queremos que se saiba que a perda do nosso querido amigo e do profundo sentimento de harmonia indivisível sentida por nós e nosso empresário nos levaram a decidir que não poderíamos continuar como éramos,” dizia o anúncio assinado simplesmente como “Led Zeppelin”.

Quanto ao ocorrido, Page ficou devastado. Inicialmente se recusou a voltar a tocar uma guitarra e para ele os anos 80 foram marcados por uma série de pequenas colaborações, reuniões e trabalhos individuais, como trilhas sonoras. Foi nessa época que também conseguiu finalmente se livrar do vício em heroína que estava prejudicando suas performances, embora não goste de admitir que tivesse problemas com a droga: “Eu não me arrependendo, porque quando eu precisava me focar, eu me focava. É isso. Ambos Presence e Through The Out Door foram gravados em três semanas: isso realmente significa algo. Você precisa estar por cima de tudo.”

Apesar de ter se livrado da heroína, outros velhos hábitos foram mais difíceis de serem deixados de lado, tanto que Jimmy acabou sendo preso por posse de cocaína. Para sua sorte, foi liberado no dia 7 de Outubro de 1982 em liberdade condicional por doze meses. Dois anos mais tarde, entretanto, seria novamente pego com cocaína, porém foi apenas multado. Na época, o juiz alegou que “se uma ordem de prisão fosse decretada, ela poderia impedi-lo de seguir com sua carreira e de ajudar outros.” Ele definitivamente era um fã.

https://www.youtube.com/watch?v=lJyZuiXXpfM

“Eu nunca perdi a perspectiva sobre quem eu sou. Bem, talvez brevemente, mas geralmente eu sou bem equilibrado,” Sting

Em 1977, um ano antes de Marvin Gaye fugir da Receita Federal Americana, Londres foi o berço de mais um grupo que marcaria gerações, o The Police. A banda, formada por Sting (vocais e baixo), Andy Summers (guitarra) e Stewart Copeland (bateria), buscou referências no punk, jazz e reggae e se tornou o primeiro grupo de new-wave a alcançar o sucesso, sendo considerada umas das mais influentes dos anos 80.

Seis anos mais tarde, a banda já havia lançado cinco álbuns, vários singles de sucesso, como “Message In A Bottle”, “Roxanne” e “Every Breath You Take”, e estava prestes a gravar o seu sexto disco. Contudo, após a performance do grupo no Shea Stadium em 1983 — descrita por Sting como “subir o Everest” —, o cantor resolveu que estava na hora de entrar numa carreira solo. Assim, com o término da turnê do álbum Synchronicity, o Police entrou em hiato e Sting pôde gravar e lançar seu primeiro disco solo, The Dream Of The Blue Turtles.

Foi apenas em 1986 que o trio se reuniu novamente para três shows beneficentes em nome da pequena turnê A Conspiracy Of Hope da organização não-governamental Anistia Internacional, que também contou com o apoio do U2, Bryan Adams, Lou Reed, Peter Gabriel, The Neville Brothers e Joan Baez. Empolgados com o reencontro, o Police entrou em estúdio no mês seguinte, com a intenção de retomar os trabalhos e gravar seu tão esperado sexto álbum.

Entretanto, um golpe de azar arruinaria os planos da banda. “A tentativa de gravar um novo álbum foi condenada desde o início. Na noite anterior ao dia de entrarmos em estúdio, Stewart quebrou sua clavícula ao cair de um cavalo e isso significou que havíamos perdido nossa última chance de recuperarmos um pouco da harmonia em tocar juntos. De qualquer forma, estava evidente que Sting não tinha nenhuma intenção de escrever novas músicas para o Police. Era um exercício vazio,” alegou Summers sobre o ocorrido.

Frente a esta curta e frustrada tentativa de gravar um material inédito, a banda anunciou seu fim — o único produto resultante desta sessão foi uma versão alternativa da música “Don’t Stand So Close To Me”. Assim, no dia 7 de Outubro de 1986 foi lançado o último single da banda, “Don’t Stand So Close To Me ‘86”. Sobre sua decisão em encerrar as atividades do Police, Sting disse que “Apesar da lógica dizer ‘Você está louco? Você está na maior banda do mundo, faça um sacrifício e ganhe uma grana,’ existia um instinto, contra a lógica, contra os bons conselhos, [que] me disse que eu deveria sair.”

https://www.youtube.com/watch?v=exXDrlI1B8A

“Mantenha a fé, não perca sua perseverança e sempre confie nos seus instintos” Paula Abdul

Pouco antes do The Police encerrar suas atividades, a jovem Paula Abdul ganhava a vida como dançarina e líder de torcida do time de basquete Los Angeles Lakers. Durante um dos jogos de seu time, alguns membros do então The Jackson 5 viram sua performance e ficaram hipnotizados com as habilidades e desenvoltura da garota de apenas 18 anos. Sem perder tempo, eles imediatamente a contrataram para cuidar da coreografia de seu novo singleTorture”.

Com o sucesso do vídeo, Abdul foi escolhida para ser a nova coreógrafa do grupo durante a turnê do álbum Victory. “Imagine eu ter que dizer para eles quais movimentos fazer. Eu era jovem e estava assustada. Eu não sei bem como eu consegui passar por aquilo,” comentou Paula sobre a experiência de trabalhar com a família Jackson. Após essa empreitada, passou os anos 80 cuidando da coreografia de clipes de diversos cantores e até trabalhou nas cenas de dança de filmes, como Quero Ser Grande, O Sobrevivente e Namorada de Aluguel. No entanto, dançar não era sua única paixão e ela não pretendia ficar para sempre nos bastidores.

Com isso em mente, em 1987 juntou todo o dinheiro que tinha e gravou uma fita demo para demonstrar suas habilidades como cantora — embora sua voz não fosse tão bem treinada e excepcional quanto sua dança. Ainda assim, sua imagem se ajustava perfeitamente aos parâmetros da música pop da época e com a ajuda de seus contatos na indústria musical, instrutores de canto e produtores, conseguiu um contrato de gravação e lançou seu álbum de estreia, Forever Your Girl, em Junho de 1988.

Sessenta e quatro semanas após o seu lançamento, no dia 7 de Outubro de 1989, o disco atingiu o primeiro lugar do Top 200 da Billboard (onde permaneceu por outras dez semanas). A proeza garantiu a Paula o recorde de maior trajetória de um disco ao topo das paradas. Além disto, ela também foi a primeira cantora a ter quatro singles número 1 de um álbum de estreia, com as músicas “Straight Up”, “Forever Your Girl”, “Cold Hearted” e “Opposites Attract”.

Apesar de um extraordinário início, a carreira de Abdul sofreu uma série de contratempos, tanto profissionais (processos judiciais e mudanças de planos por parte da gravadora), quanto pessoais (uma longa batalha contra a bulimia). Seu último lançamento foi o disco Head Over Heels, de 1995, e sua imagem só voltou aos holofotes após aceitar o papel de uma das juradas no programa American Idol, em 2002. “Eu recebi uma ligação para chegar e conhecer a Fox [canal de televisão] e o resto é história.”

“Eu ainda estou pensando sobre essas lembranças e eu vou viver com essas lembranças em meu coração e eu vou… amá-lo para sempre,” Eddie Vedder

Quatro meses após Paula Abdul apresentar seu primeiro disco ao mundo do pop, estava na hora de um pouco mais de peso e sujeira invadir as rádios. Assim, no Halloween de 1988 saiu o Ultramega OK, disco de estreia da banda de Seattle Soundgarden, que rendeu à banda um Grammy na categoria de “Melhor Performance de Metal” — apesar de seu líder e vocalista, Chris Cornell, dizer que havia cometido um “gigantesco erro” ao empregar um produtor indicado por sua então gravadora, a independente SST Records.

Durante a turnê deste álbum, o Soundgarden se apresentou no festival Gathering Of The Tribes, na Califórnia, no dia 7 de Outubro de 1990. O evento, organizado em prol dos povos indígenas pelo músico Ian Astbury (The Cult) e o produtor de eventos Bill Graham, mais tarde inclusive inspiraria Perry Farrell (Jane’s Addiction) a criar o Lollapalooza. O interessante é que, enquanto a banda se apresentava, na plateia estava o jovem Edward Louis Severson, que trabalhava como segurança numa empresa de petróleo em San Diego.

No mês anterior, este garoto recebeu uma fita com três músicas instrumentais gravada por um grupo de amigos de Seattle que estava desesperado atrás de um vocalista para sua banda. Edward ouviu atentamente à gravação e logo em seguida, enquanto surfava, as letras lhe vieram à cabeça em forma de uma “mini-ópera”: um garoto fica sabendo que foi enganado sobre a identidade de seu pai biológico e, ao descobrir que o mesmo está morto, transforma-se num serial killer e eventualmente é preso e sentenciado à morte. Após gravar seus vocais e enviar a fita de volta aos seus autores, estes gostaram tanto que convidaram o garoto, também conhecido como Eddie Vedder, para ir a Seattle — o que ele fez no dia seguinte ao festival.

Já em Seattle, Eddie conheceu não só os autores da fita, Stone Gossard, Jeff Ament e Mike McCready, mas também o próprio Chris Cornell, que era colega de quarto do recém-falecido Andrew Wood — antigo vocalista da banda que tinha com Gossart e Ament, a Mother Love Bone. Os músicos estavam reunidos para ensaiar algumas canções que Cornell havia composto em homenagem a Wood e que não se enquadrariam bem no Soundgarden e, portanto, fariam parte deste novo projeto, o Temple Of The Dog. Para Vedder, este despretensioso e inesperado ensaio acabou lhe rendendo um dueto na música “Hunger Strike” com o próprio Cornell, que mais tarde diria que Eddie “cantou metade da canção sem mesmo saber que eu queria aquela parte lá e instintivamente a cantou exatamente da forma que eu estava pensando em cantá-la.” A música tornou-se um triunfante single do álbum Temple Of The Dog (1990) e a primeira gravação de Vedder num disco.

Após a inesperada, porém promissora empreitada com Cornell, Eddie Vedder acabou ganhando amigos para a vida toda e formando o Mookie Blaylock (em homenagem ao jogador de basquete do New Jersey Nets) com Gossard, Ament, McCready e Dave Krusen — embora mais tarde foram obrigados a mudar o nome da banda devido a direitos autorais, optando por Pearl Jam. Quanto às três despretensiosas gravações daquela fita demo, estas vieram a se tornar “Alive”, “Once” e “Footsteps”.

“Para mim, uma vida sem expectativas resulta numa vida com inspiração,” Alanis Morissette

Em Abril de 1991, enquanto o Temple Of The Dog lançava seu primeiro e único álbum, a canadense Alanis Morissette lançava, com apenas 16 anos, seu primeiro disco de dance-pop, intitulado Alanis. Distribuído apenas no Canadá, o álbum continha dez canções escritas por Alanis e seu produtor, Leslie Howe, e apesar de críticas mistas, alcançou o status de platina. Mesmo bem sucedida, a experiência marcou a garota para sempre, visto a enorme pressão que sofreu dos executivos de sua gravadora, MCA Records, para perder peso antes do lançamento do álbum. “Eu tento me lembrar, o que quer que meu corpo seja, ele é perfeito do jeito que é,” refletiria ela sobre o que posteriormente aprendeu em sessões de terapia.

No ano seguinte, gravou junto de Howe e o tecladista Serge Côté o disco Now Is The Time, o qual contou com mais baladas, letras envolventes e uma produção menos ostensiva. Porém, apesar dos esforços em mostrar um conjunto de músicas mais maduras, suas vendas não foram tão satisfatórias quanto o anterior e a MCA Records o considerou um fracasso comercial — não se entristecendo tanto com o término de suas obrigações contratuais com a cantora. Morissette, por sua vez, terminou o ensino médio e se mudou da casa de seus pais em Ottawa para Toronto em busca de novas parcerias musicais e uma brecha para entrar de vez no mercado fonográfico internacional.

Lá, foi apresentada a diversas pessoas, dentre elas o produtor e compositor Glen Ballard, que havia sido um dos oito produtores do álbum Forever Your Girl, de Paula Abdul. Ambos foram introduzidos durante uma de suas diversas viagens à Califórnia e a conexão entre ambos foi instantânea. Após trinta minutos de conversa, já estavam experimentando diferentes sons no estúdio de Ballard em Los Angeles. “’Uau, você só tem 19 anos?’ Ela era tão inteligente e pronta para se arriscar em algo que poderia não ter valor comercial algum,” lembra Glen sobre o encontro com Alanis. Juntos, a dupla compôs vinte músicas, sendo que treze formariam o terceiro álbum da cantora.

Jagged Little Pill saiu em Junho de 1995 pela Maverick Records (fundada por Madonna) — “a única gravadora que nos aceitou”, segundo o empresário de Alanis. O disco foi o primeiro lançamento internacional da cantora e um grande desvio do até então estilo dance-pop que estava acostumada, sendo rotulado pela imprensa musical como rock alternativo. Praticamente todas as suas canções foram sucessos imediatos e o álbum rendeu seis singles, “You Oughta Know”, “Hand In My Pocket”, “Ironic”, “You Learn”, “Head Over Feet” e “All I Really Want”.

A confirmação de seu sucesso veio quinze semanas após seu lançamento, no dia 7 de Outubro de 1995, quando o álbum chegou ao topo das paradas norte-americanas. O fato garantiu a Alanis o título de quarta mulher a ter um disco de estreia nos Estados Unidos a chegar ao número 1 nos anos 90 — posição que compartilha com Paula Abdul, Mariah Carey e Toni Braxton.

“À medida que você envelhece, você não tem mais desculpas para ser estúpido, para ficar no escuro,” Deryck Whibley

Um ano após Alanis Morissette iniciar sua carreira internacional, outra banda canadense estava sendo formada. Em Ontário, o jovem Deryck Whibley conseguiu convencer os melhores músicos de diferentes bandas locais a se juntarem à sua banda. Assumindo os vocais e a guitarra base, colocou Steve Jocz na bateria, Dave “Brownsound” Baksh na guitarra solo e Jason “Cone” McCaslin no baixo. Estava formada a Kaspir, que logo mudaria seu nome para Sum 41.

Entre os anos de 1996 e 2000, a banda fez diversas apresentações, vídeos caseiros (que mais tarde apareceriam nos DVDs Introduction To Destruction e Cross The T’s and Gouge Your I’s) e gravou seu primeiro EP, Half Hour Of Power. Lançado em Junho de 2000 pela Big Rig Records, o EP foi um sucesso. Atingiu o certificado de ouro no Canadá e colocou a banda no radar das grandes gravadoras, especialmente da Island Records, que lançou o primeiro álbum de estúdio do Sum 41, All Killer No Filler, em Maio de 2001. Apesar de críticas mistas, foi certificado em platina nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

Nos anos seguintes, o Sum 41 lançou mais quatro álbuns: Does This Look Infected? (2002), Chuck (2004), Underclass Hero (2007) e Screaming Bloody Murder (2011). Assim como seus álbuns (que exibiram uma constante dualidade entre o pop punk e elementos mais pesados), Deryck, o líder e principal compositor da banda, também passou por vários altos e baixos. Visitou a República Democrática do Congo (onde teria morrido caso não tivesse sido resgatado pelo soldado da ONU, Charles “Chuck” Pelletier); casou-se com a compatriota Avril Lavigne em 2006; viu a saída de Dave Baksh e Steve Jocz da banda; foi ameaçado com um processo de deportação pelas letras de “March Of The Dogs” (na qual metaforicamente “assassina o presidente”); separou-se em 2009 (embora seu divórcio tenha sido concluído apenas em 2010); e foi severamente espancando por três desconhecidos num bar no Japão, fraturando a coluna no processo.

Somados à intensa rotina alcóolica do músico, que se intensificou após os últimos eventos (“meu corpo tremia se eu passasse algumas horas sem beber”), todos estes fatores levaram o seu corpo a um colapso — embora ele tenha demorado para enxergar o alcoolismo como um problema: “Eu sempre pensei ‘Bem, eu trabalho tão duro que eu tenho permissão para farrear da mesma forma, porque é minha maneira de me aliviar’”. Infelizmente, em Abril de 2013, Whibley desmaiou na cozinha de sua casa e foi levado às pressas ao hospital por sua noiva, a modelo Ariana Cooper. Lá, foi colocado num coma induzido, visto que seus rins e fígado estavam por um fio.

Durante sua dolorosa recuperação, Deryck sofreu para se manter sóbrio, teve que reaprender a tocar guitarra e viu uma maré de “amigos” se afastar devido ao novo estilo de vida que levava — “Eles ficaram ao meu lado durante toda a minha carreira. Um deles era até um familiar. No momento em que eu fui para o hospital, eles sumiram. Então eu descobri que eles estavam me roubando há anos”. Tudo isso serviu de inspiração para a composição do que se tornaria 13 Voices, o sexto disco de estúdio do Sum 41. Lançado no dia 7 de Outubro de 2016 (assim como Revolution Radio, do Green Day), o álbum narra a trajetória de sua recuperação, evidenciando toda a fúria (“Murder Of Crows”), agonia (“There Will Be Blood”) e epifania que o processo lhe trouxe (“Twisted By Design”).

“Eu tocaria com Bob [Dylan] em qualquer lugar. Eu tocaria com Bob no céu ou no inferno,” Keith Richards

Na mesma época em que o Sum 41 fazia os retoques finais de 13 Voices, Paul Tollet, o co-fundador dos festivais Coachella e Stagecoach, estava ocupado organizando seu mais novo evento, o tão esperado Desert Trip.  Assim como seus predecessores, este também estava programado para acontecer no Empire Polo Club, em Indio, na Califórnia, e acabou sendo taxado pela imprensa como “Oldchella”, devido às suas atrações, que em média tinham 72 anos de idade: The Rolling Stones, Bob Dylan, Paul McCartney, Neil Young, Roger Waters e The Who. “É o Coachella para gente velha,” brincou Mick Jagger sobre o público basicamente composto pela geração Woodstock.

Independente disso, o festival foi um dos mais aguardados do ano. Com um line up de dar inveja e repleto de artistas que nunca estiveram no mesmo lugar juntos, seus ingressos chegaram a preços astronômicos e se esgotaram em incríveis três horas. Arrecadou cerca de 160 milhões de dólares nos seus seis dias de duração, tornando-se o mais lucrativo evento musical de todos os tempos.

Em sua noite inaugural, no dia 7 de Outubro de 2016, o festival teve início com “Rainy Day Women #12 & #35”, de Bob Dylan, além de uma chuva de hits, como “Don’t Think Twice, It’s All Right”, “Highway 61 Revisited”, “Tangled Up In Blue”, “Desolation Row” e “Masters Of War”. Infelizmente, apesar de os Rolling Stones serem os próximos a subir ao palco, não houve a tão esperada dobradinha com “Like A Rolling Stone” — deixando alguns dos fãs mais assíduos relativamente desapontados. Em todo o caso, os Stones logo chegaram com “Start Me Up” para o delírio dos 60 mil presentes. Tocaram vinte músicas, dentre elas um cover de “Come Together”, dos Beatles.

Em suma, o festival foi um sucesso. Muito se falou sobre uma segunda edição, com rumores sobre a participação de Fleetwood Mac e uma possível reunião do Led Zeppelin. No entanto, Paul Tollet foi categórico ao afirmar que não haverá uma nova edição, embora no futuro talvez faça “algo similar novamente.”