2017 está sendo um ano de grandes celebrações para o Interpol.
Seu trabalho mais influente, o álbum de estreia Turn On The Bright Lights, completou 15 anos e seu terceiro disco, Our Love To Admire, chegou à marca dos 10. No entanto, quem virou notícia por agora foi o antigo baixista, Carlos Dengler.
O ex-Interpol acaba de publicar um artigo pela revista n+1. Neste, lembra a criação do álbum de estreia da banda e reflete sobre algumas controvérsias dos tempos de excessos. “Eu me sinto como um sobrevivente de estresse pós-traumático,” atesta Dengler.
Quando penso no som do primeiro disco da minha antiga banda e as condições nas quais ele foi gravado, eu não consigo deixar de pensar em Rumours [décimo primeiro álbum da banda Fleetwood Mac], cuja perfeita coleção de doces hinos e berrante triunfalismo contrastam com as indecentes circunstâncias de sua gravação (exceto, é claro, por aqueles poucos e dissonantes segundos de uma incursão no pós-punk). Turn On The Bright Lights é o completo oposto de Rumours. Mas assim como Rumours, decididamente não é um álbum de festa, e também está em desacordo com as circunstâncias de sua criação. (…) Turn On The Bright Lights não é um álbum de rock perfeito; ele é perfeitamente imperfeito, o que me parece uma excelente segunda colocação. Ainda como Rumours, o álbum precisava ser salvo de um certo abismo: um álbum não pode ser produzido apenas com cocaína e vodka.
Cabe lembrar que Dengler foi recrutado pelo guitarrista Daniel Kessler quando estudava filosofia e história na Universidade de Nova Iorque. O convite veio baseado no estilo das roupas que Carlos usava, mas a aposta logo provou-se certeira. O Interpol estava formado e o baixista (e eventual tecladista) — agora conhecido como Carlos D — havia ganhado um culto devido às suas extravagâncias na cena noturna de Manhattan. “O racionamento de camisinhas, [sua] dieta baseada em amido [e o] consumo diário de álcool e cocaína” são algumas das idiossincrasias da época. “Se alguém removesse todas as minhas atividades extracurriculares da história do início da banda, eu digo sem exageros que estaríamos lembrando da banda de uma forma um pouco diferente — talvez com um pouco menos de paixão.”
Longe dos holofotes, Carlos agora se diverte com as pequenas coisas. Sente-se como Clark Kent quando revela sua antiga identidade e vê as pessoas arregalarem os olhos. “Elas não se importam com os escândalos ou os mitos — elas deixam a conversa por conta da música.” Apesar de ainda se manter firme à decisão de ter deixado o Interpol, revelou-se surpreso e aborrecido por não ter sido procurado para nenhum assunto voltado ao aniversário do álbum. “Parece que estou assistindo à formatura dos meus filhos, mas não fui convidado para a cerimônia,” desabafa.