Conversamos com o Rey Pila sobre a carreira da banda e sua recente turnê na América do Sul

Entrevistamos o vocalista Diego Solórzano, que falou sobre as origens do Rey Pila, a recente turnê sul-americana e a situação de artistas latino-americanos.

Rey Pila
Foto: Divulgação/Youtube

Neste mês de Outubro, Julian Casablancas e sua nova gangue, o The Voidz, se juntaram a Rey Pila e Promiseland para uma inédita turnê na América do Sul, a Hollywood Bolívar Tour. O evento passou por cidades na Colômbia, Chile, Argentina, Uruguai e também no Brasil, com datas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Como já era de se esperar, grande parte do público se mobilizou devido à chance de ver de perto o vocalista dos Strokes. No entanto, quem compareceu aos shows também certamente se surpreendeu com as bandas de abertura, sobretudo com o encantador synth-pop do Rey Pila.

Formada na Cidade do México, a banda lançou seu álbum de estreia (Rey Pila, 2010) após uma temporada em Nova Iorque com o produtor Paul Mahajan (TV On The Radio, Yeah Yeah Yeahs, The National). O álbum, com canções tanto em inglês quanto em espanhol, teve uma boa recepção, sendo considerado pela Vice Magazine como pertencente a uma “longa linhagem das bandas mexicanas de garagem, do acid rock dos Los Ovnis às misturas beatlerescas dos Los Loco.”

Pouco depois, a banda já estava de volta a Nova Iorque para trabalhar em novas músicas com o produtor Chris Coady (Beach House, Smith Westerns, Wavves). Nesta mesma época, seu caminho curiosamente se cruzou com o de Casablancas, que logo os recrutou para a sua gravadora, a Cult Records. A jogada lhes emplacou um EP (Alexander, 2013), turnês na Europa e nas Américas do Norte e do Sul, um segundo disco (The Future Sugar, 2015) e seu mais novo lançamento, o EP Wall Of Goth (2017).

Após o término da Hollywood Bolívar Tour, batemos um papo com Diego Solórzano, o vocalista e fundador do Rey Pila. Conversamos sobre a banda, suas idas para Nova Iorque, Julian Casablancas, sua passagem no Brasil e a situação de artistas latino-americanos no cenário global.

Leia abaixo nossa entrevista exclusiva na íntegra.

TMDQA!: Antes do Rey Pila, você fazia parte de uma banda chamada Los Dynamite, mas vamos voltar um pouco mais. Quando você era um garoto, houve uma específica cena, banda ou música que lhe fez perceber que música era o que você queria fazer com sua vida?

Diego Solórzano: Eu estive em bandas desde que eu era bem novo, mas a magia aconteceu quando eu fui ver David Bowie tocar quando eu tinha 12 anos, daquele dia em diante eu estava convencido de que eu queria ser um compositor.

TMDQA!: Quando decidiu que assumiria o papel de vocalista numa banda?

Diego: Eu me tornei um cantor porque não tive outra opção, eu estava compondo músicas e o natural era que eu as cantasse. Foi um processo bem orgânico.

TMDQA!: Adiantando um pouco, logo após o término dos Los Dynamite em 2008, você inicialmente buscou uma carreira solo. O que lhe fez mudar de ideia e decidir formar uma banda? Não seria mais libertador ser uma artista solo e poder tomar todas as decisões sozinho?

Diego: Projetos solo muitas vezes não têm o mesmo impacto que bandas. A ajuda que eu recebo dos outros rapazes quando se trata de tomar decisões com as músicas não tem preço.

TMDQA!: E o nome Rey Pila, qual o significado por trás dele? Alguma história interessante de como vocês chegaram nele?

Diego: Rey Pila é uma frase de uma pintura colaborativa de Jean-Michel Basquiat [artista americano] e Francesco Clemente [pintor italiano]. A frase original escrita no quadro diz “King Battery”, eu só a mudei para o espanhol; Rey Pila.

TMDQA!: Depois de formar a banda, vocês lançaram seu primeiro disco, Rey Pila (2010), o qual você coproduziu com Paul Mahajan. Como foi a transição de trabalhar na Cidade do México para gravar o álbum em Nova Iorque?

Diego: Eu sempre gostei de Nova Iorque, então fez sentido mudar de cenário e voar para [lá] para gravar o álbum. Toda a experiência foi insana, porque eu esperava algo que o Paul não estava conseguindo transmitir, então eu fiquei um pouco frustrado e bebi feito um louco.

TMDQA!: Você acabou se mudando para os Estados Unidos ou foi apenas algo temporário durante o processo de gravação?

Diego: Todos nós moramos na Cidade do México, mas passamos bastante tempo em Nova Iorque.

TMDQA!: Algum tempo depois, vocês assinaram com a gravadora do Julian Casablancas, a Cult Records, quando ele supostamente ouviu a música “Alexander” tocando pela janela de seu escritório e saiu correndo às ruas para descobrir o que era. Como você recebeu a notícia?

Diego: Um amigo da banda foi nos assistir num vazio Mercury Lounge, em Nova Iorque, [e] depois do show ele me disse que Julian Casablancas havia escutado algumas de nossas músicas e o tinha enviado para filmar algumas das canções para mostrá-las a ele. Em um primeiro momento eu achei que ele estava brincando, mas depois de alguns meses ignorando os e-mails de Julian é que eu percebi que na verdade era ele mesmo! Eu entrei num voo para Nova Iorque na mesma hora.

TMDQA!: O que se passou pela sua cabeça no primeiro encontro que teve com Julian?

Diego: A primeira reunião foi ótima, nós rimos bastante, conversamos sobre músicas, filmes, etc… Ele é um cara bem legal.

TMDQA!: Como é poder trabalhar com alguém com tantas “credenciais musicais” como ele?

Diego: Eu não sei se “credenciais” é a palavra certa, mas isso definitivamente foi muito empolgante. O mais importante para mim é poder aprender de uma pessoa que você admira e foi isso que todos nós fizemos, nós aprendemos muito.

TMDQA!: E agora aqui estão vocês: acabaram de lançar um belo EP, Wall Of Goth (2017), e sua banda acabou de fazer uma turnê pela América do Sul com The Voidz e Promiseland no Hollywood Bolívar Tour. Como foi fazer todos esses shows para seus companheiros latino-americanos?

Diego: Cada show tem sua magia, seja num local pequeno ou grande. Mas tocar pela primeira vez na América do Sul foi verdadeiramente único. Nós certamente nos sentimos em casa.

TMDQA!: Vocês tiveram duas datas no Brasil: São Paulo (Cine Joia) e Rio de Janeiro (Sacadura 154) — os únicos lugares desta turnê em que a plateia fala uma língua diferente. Você acha que isso foi um problema? O público soou de alguma forma diferente para você?

Diego: Eu sempre senti que o México e o Brasil têm uma conexão especial entre si, então estar lá foi algo que nos fez sentir especialmente empolgados. A resposta do público foi surpreendentemente agradável, não acho que houve problema algum com a língua.

TMDQA!: Eu li que essa turnê foi como um período de férias para todos os envolvidos. Ao invés de tocar e ir embora, vocês tiveram a chance de sair e aproveitar um pouco das cidades, certo? Alguma memória favorita durante seu tempo aqui no Brasil?

Diego: Eu não esperava que São Paulo fosse tão legal! Nós fomos ao Museu de Arte de São Paulo [MASP] e andamos pela Avenida Paulista por horas. Ótimas vibes… Nós tivemos apenas um dia no Rio, então só fomos à Praia de Copacabana, o que foi ótimo.

TMDQA!: Em outro ponto, considerando que vocês são do México — um país normalmente vinculado à corrupção e problemas com drogas (como é o caso do Brasil e do resto da América do Sul) — e que a Cult Records e alguns de seus artistas têm visões políticas bem fortes, suponho que seja seguro afirmar que você também é uma pessoa interessada em política. Você acha que é importante que a música passe uma mensagem política ou na verdade ela não deveria discutir tais assuntos? Como o Rey Pila se encaixa nisto?

Diego: É claro! Tudo é político e não há como manter nossas bocas fechadas sobre o quão fodido o mundo está. Eu não gosto de ser extremamente literal em termos de compor letras sobre o quão irritado eu estou e sobre como o monopólio e a ganância controlam o México. Estar irritado e fazer algo a respeito é uma grande parte da mensagem que estamos tentando passar.

TMDQA!: Infelizmente, existe uma triste ideia de que os latino-americanos não podem levar sua música ou sua arte para países de língua inglesa. Mas o Rey Pila, uma banda da Cidade do México, provou que é de fato possível quebrar essas fronteiras e alcançar um público internacional. No início, como foi o processo para você? Em algum dado momento você teve que comprometer a sua música ou a si mesmo?

Diego: Nós realmente não temos o objetivo de conquistar o mundo; nós achamos que tudo vai acontecer gradualmente se continuarmos mantendo o foco na música e no trabalho duro. A atenção que conseguimos fora do México é porque tivemos a sorte de poder tocar com artistas dos Estados Unidos e do Reino Unido que nos ajudaram nos cinco anos em que estivemos juntos como uma banda.

TMDQA!: Que conselho você daria para jovens artistas latino-americanos que gostariam de ganhar a vida nos Estados Unidos?

Diego: Paciência é o nome do jogo e ele não é sobre velocidade; se trata de resistência.

TMDQA!: Logo vocês estarão voltando ao estúdio para a gravação de seu novo disco. Quem o produzirá desta vez e o que podemos esperar deste terceiro álbum?

Diego: Não temos um produtor ainda. Tudo o que posso dizer é que estamos compondo músicas como loucos e estamos planejando gravar o disco em breve.