Anderson .Paak & The Free Nationals abrem a semana do Lolla com o pé na porta em São Paulo

O rapper californiano fez sua primeira apresentação no Brasil para público fiel que dançou e cantou junto com a sua banda, que não queria deixar o palco.

Foto: Costábile Salzano Junior
Foto: Costábile Salzano Junior

Podemos dizer que o Lollapalooza Brasil 2018 já começou oficialmente. E começou em alto nível: com o pé de Brandon Paak Anderson e seus amigos do The Free Nationals na porta do Cine Joia em São Paulo.

O primeiro dos Lolla Parties, os tradicionais side shows que antecedem o festival no fim de semana, rolou nessa última terça-feira de verão no hemisfério sul (20 de Março) e coincidiu com um dos dias mais chuvosos do ano até agora na capital paulista. Mas a tempestade tropical não afugentou o público paulistano, que esgotou os ingressos e mesmo com uma certa dificuldade para chegar até o local devido ao trânsito, lotou o tradicional (ex)cinema/casa de shows do bairro da Liberdade para a primeira apresentação do multi-étnico (afro-americano e descendente de coreanos) rapper e baterista, Anderson Paak.

Enquanto o público chegava aos poucos, um DJ se encarregou de esquentar os ânimos da festa com uma trilha que ia do hip-hop, funk e soul ao indie rock e emendou uma sequência maravilhosa e inusitada de “Dreams” do Fleetwood Mac“Lost” do Frank Ocean“Afrika” do Bambaataa“Chamber of Reflection” do Mac DeMarco e “Wildfire” do SBRTRKT minutos antes de Anderson pisar no palco.

Assim, após os avisos dos procedimentos de segurança da casa e com as luzes baixas, às 22h a empolgada plateia era convidada pelos músicos do The Free Nationals (Jose Rios na Guitarra, Ron Tnava nos teclados, Kelsey Gonzales, baixo e Callum Conor, DJ) a saudarem o anfitrião da noite: Anderson Paak, que entrou fazendo pose sobre uma enxurrada de aplausos e gritos empolgados. Sinal de que a festa seria boa para uma terça-feira a noite.

Foto: Costábile Salzano Junior

O rapper tem se tornado conhecido ao redor do mundo pelo seu excelente disco Malibu, que faz uma fusão impressionante de rap com R&B, Soul, Funk e traços de Jazz. O álbum é o seu segundo trabalho de estúdio sob o nome artístico de Anderson Paak (até 2012 ele atendia pelo pseudônimo Breezy Lovejoy), e foi com a dançante faixa “Come Down” do disco em questão que Paak decidiu abrir a noite, sempre instigando o público a fazer mais barulho e dançando muito enquanto corria de um lado ao outro do palco.

Anderson e sua banda eram só sorrisos com a reação da casa, o músico elogiou a beleza da plateia, agradeceu a presença de todos e disse que essa era sua primeira vez em São Paulo e pediu para que o público levasse as mãos ao céu e respondesse à pergunta “vocês estão prontos para enlouquecerem hoje?” antes de emendar um mash-up das músicas “The Waters” com “The Next Episode” “Still D.R.E.” (do Dr. Dre).

Foto: Costábile Salzano Junior

Paak manteve os ânimos acelerados antes da terceira música do set ao testar o quanto cada lado do palco conseguia pular, pedindo alternadamente para o canto direito, esquerdo e central da plateia para que pulassem com as mãos pra cima (“bounce! bounce! bounce!”). Essa foi a deixa para que o rapper mandasse “Glowed Up”, sua colaboração com o DJ KAYTRANADA.

Até esse momento do show, havia um kit de bateria montado no canto direito do palco que permanecia intocado, até que na metade da faixa “The Season / Carry Me” (uma ode de Anderson à sua mãe) Paak se dirigiu ao instrumento e mostrou a que veio de fato: o rapper é um virtuoso baterista e prova isso executando linhas precisas e quebradas de bateria ao mesmo tempo que canta suas rimas fazendo tudo parecer muito mais fácil do que é na realidade. Anderson pedia o tempo todo para ouvir o público presente cantar e devido ao tema da faixa, fez um pedido especial: “essa música é sobre a minha mãe. Façam barulho se vocês amam as suas mães!”

Foto: Costábile Salzano Junior

Daí pra frente o vocalista, já muito a vontade e dono da situação, se alternava entre dançar de forma bem leve e solta (chegou a usar o pedestal do microfone em uma tentativa de pole dancing) e descer até a pista para cantar com os fãs diretamente da grade com constantes retornos à bateria, que ficava posicionada de frente para a sua banda.

O instrumento era um ímã para Anderson, que não conseguia ficar muito tempo de pé longe dele e voltava cada vez mais empolgado para suas baquetas, que conseguiram escapar algumas vezes de suas mãos no meio de toda a energia com a qual ele tocava. Um dos pontos altos da sua performance na bateria veio com a faixa “Heart Don’t Stand a Chance”, uma música com muito groove onde a mistura de R&B com Funk se mostrou mais presente. O público respondeu aos pedidos de Anderson por vocais de apoio cantando a música mais alto que o vocalista em alguns trechos.

Foto: Costábile Salzano Junior

Algumas músicas depois, Paak testou uma faixa nova, chamada “Til It’s Over”, com uma estrutura mais lo-fi e eletrônica, intercalada com mais linhas impressionantes de bateria do rapper. Os músicos do The Free Nationals também se mostravam muito entrosados e felizes com a ocasião, constantemente brincando uns com os outros no palco. O tecladista Ron Tnava, figura extremamente carismática, puxou vocais em diversas canções com um efeito de talkbox que deixava sua voz similar à das tradicionais linhas vocais de músicas do Daft Punk. O músico inclusive iniciou a faixa “Room in Here” com um solo de teclado que lembrava linhas de piano mais puxadas para o jazz.

O fim da primeira parte do show veio com a tríade “Miss Right”, a belíssima “The Bird” “Suede”, uma faixa do seu projeto NxWorries em parceria com o produtor Knxwledge. Durante “The Bird” ficou evidente algo que incomodou durante o show: os graves gerados pelas faixas sampleadas e mixadas pelo DJ Callum Conor chegavam a estourar o som em alguns momentos, encobrindo todo o resto da banda. A própria bateria do Anderson não soava muito bem equalizada por toda a primeira parte do set, como se somente os microfones gerais e da caixa estivessem captando o que o músico executava, deixando os surdos, toms e o bumbo da bateria um pouco distantes (mas isso foi corrigido ao longo do show).

Foto: Costábile Salzano Junior

Após uma breve saída do palco, todo o grupo retornou para o primeiro e explosivo encore/bis, que contou com as músicas “Am I Wrong”“Lite Weight” “Luh You”. Nesse momento o público devia ter se dado conta de que o show estava se aproximando do fim e a entrega total aconteceu, com toda a banda e a audiência cantando, dançando e pulando em uma bela amostra de sincronia e reciprocidade. Durante a última música, “Luh You”, Paak fez toda a pista descer dançando até o chão, e como bons brasileiros que somos, mostramos que fazemos isso com profissionalismo.

Momentos depois, já de volta ao seu kit de bateria, Anderson estendeu o último refrão até não poder mais para que tanto ele quanto o público pudessem trocar juras de amor com as frases “I think I love you” e “I know I love you” sendo repetidas muitas vezes entre artista e fãs com muita honestidade, marcando assim mais um dos fins da excelente primeira vez de Anderson Paak no Brasil. Banda agradece, desce do palco pela segunda vez, luzes se apagam, parte do público esboça a reação de começar a tomar o rumo da saída do Cine Joia enquanto a maioria continua fazendo barulho.

Foto: Costábile Salzano Junior

Enganou-se quem achou que o show tinha acabado, pois o The Free Nationals retornou ao palco, pediu mais barulho ainda e começaram a tocar “The Dreamer”. Anderson puxou o 2º encore da noite, e no fim da música, com um sorriso de orelha a orelha agradeceu e se despediu enquanto seus amigos músicos ainda estavam tocando o fim da música em ritmo de festa. Aliás, festa que parecia teimar em não acabar, pois mesmo após os músicos já terem deixado os seus instrumentos no palco, todos foram para trás das pick-ups de Conor para continuarem curtindo o momento antes do fim (dessa vez pra valer) do show.

Muitos aplausos, muitas fotos tiradas pelos músicos de cima do palco com a plateia, um clima bom demais que fez lembrar por que sempre vale tanto a pena assistir música ao vivo, ainda mais com toda essa qualidade. Ah, se toda terça-feira chuvosa fosse assim.

Fica a nossa dica: O show do Anderson Paak & The Free Nationals é parada obrigatória às 16h10 desse sábado no palco Budweiser para quem for até o Autódromo de Interlagos curtir o Lollapalooza Brasil – você não vai querer perder a festa.

Repertório:

  1. Come Down
  2. The Next Episode / Still D.R.E. (Dr. Dre cover)
  3. The Waters
  4. Glowed Up / Ignition (Remix) (KAYTRANADA Cover)
  5. Bubblin’
  6. The Season / Carry Me
  7. Put Me Thru
  8. Heart Don’t Stand a Chance
  9. Get Bigger / Dang
  10. Room is Here
  11. Til It’s Over
  12. Miss Right
  13. The Bird
  14. Suede (NxWorries)

Encore 1:
15. Am I Wrong
16. Lite Weight
17. Luh You

Encore 2:
18. The Dreamer

Foto: Costábile Salzano Junior