Molho Negro é uma das atuais bandas brasileiras de rock que incluímos com orgulho na lista dos 50 melhores discos nacionais lançados no ano passado.
O segundo álbum do trio paraense, Não É Nada Disso Que Você Pensou leva a sério a proposta da banda de misturar caos, ironia, refrões grudentos, sarcasmo, barulho e falta de perspectiva. Tudo isso misturado em canções de rock fáceis de serem digeridas e que colocam em cheque o próprio papel do gênero nos dias de hoje.
Os refrões grudentos, aliás, podem ser considerados uma especialidade do trio, e a principal prova é a faixa “Souza Cruz“. Este é o novo single de trabalho e recentemente ganhou um clipe gravado nas ruas do centro de São Paulo.
O verso “o meu melhor amigo encontrou Jesus, e eu continuo dando lucro para a Souza Cruz”, além de ter uma melodia daquelas que te deixam cantarolando o dia inteiro sem saber o por quê, representa bem as dicotomias da vida adulta e os diferentes caminhos que pessoas que um dia foram grandes amigos (ou apenas conhecidos) tomam ao longo de suas jornadas pela vida.
Uma letra aparentemente simples, mas que tem muito a dizer, ainda mais quando a visão da banda sobre o rock entra em cena:
O tempo e a maturidade são os maiores inimigos do rock. É difícil envelhecer num ramo movido às crises existenciais que precedem a vida adulta. Como me disse certa vez um conhecido rockstar brasileiro: ‘eu comecei a me achar meio ridículo cantando sobre temas ‘juvenis’ com apartamento, grana no banco e carro na garagem’.
O trecho, de um comunicado do trio, faz sentido quando pensamos na ressignificação que um gênero como o rock tem que enfrentar para se tornar relevante em tempos atuais. O Molho Negro tenta encarar essa mudança de abordagem em Não É Nada Disso Que Você Pensou ao deixar de lado um pouco os temas juvenis para se preocupar em falar sobre como é viver em um país brutal e desigual, em uma época marcada pelo egoísmo, violência, narcisismo, tudo sem perder a irreverência e a ironia que os tempos pedem.
Segundo a banda, tanto a música “Souza Cruz” quanto o clipe convergem na seguinte mensagem:
Às vezes a pessoa quando põe um Corpse Paint na cara e sai pra ouvir um som não quer guerra com ninguém… Ultimamente meu pessimismo me faz acreditar que a gente caminha a passos largos em direção a um pais mais conservador, e isso é perigoso. No fundo acho que esse clipe é só sobre deixar os outros na Paz, seja ela a Pax de Christo ou não.
Assista ao clipe dos paraenses abaixo: