João Rock: conversamos com Supercombo, Raimundos e Gabriel O Pensador

Enquanto Supercombo e Raimundos falaram dos seus próximos lançamentos, Gabriel O Pensador explicou a experiência de passar mensagens políticas no festival.

Gabriel O Pensador no João Rock. Foto: Stephanie Hahne
Gabriel O Pensador no João Rock. Foto: Stephanie Hahne

No penúltimo final de semana aconteceu a 17ª edição do festival João Rock, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Com nomes de peso da música nacional, o evento contou com mais de 20 shows e um público de cerca de 60 mil pessoas. O TMDQA! esteve por lá, e você pode ver as fotos e a cobertura completa em nossa resenha.

Entre uma apresentação e outra, batemos um papo com Supercombo, Raimundos e Gabriel O Pensador, que você confere logo abaixo.

Supercombo no João Rock. Foto: Stephanie Hahne

Supercombo

Começamos falando sobre a segunda participação da banda no João Rock, que em 2016 tocou no palco Fortalecendo a Cena e agora retornou estreando no palco principal. O grupo explicou que, por ser um festival, a apresentação precisa ser um pouco mais curta do que a tradicional. “A gente tenta selecionar as músicas que têm mais impacto ao vivo, as mais pancadas. E pra gente é legal porque a emoção é diferente, é muita gente, a troca de energia é muito grande. A gente curte pra caramba!”, explicam.

Já sobre Session da Tarde, que teve a sua segunda temporada divulgada recentemente, os integrantes contam que o projeto surgiu da necessidade de fazer versões acústicas das músicas do Supercombo:

A gente tava vindo de um disco chamado Rogério, em que a gente tinha contado com várias participações e tava pilhando muito de fazer colaborações com outras bandas. Então a gente resolveu juntar as duas coisas – fazer versões acústicas com convidados, pra trazer uma pitada diferente de cada som, dar uma modificada nas músicas e reviver a nossa discografia toda. Tá sendo muito foda, tanto que a gente transformou isso em show e tá rodando o Brasil com esse formato acústico.

E, a respeito do próximo trabalho, tem muitas novidades interessantes para os fãs da banda, que já gravou o instrumental do novo disco e vai lançar também uma história em quadrinhos. “O disco é a trilha sonora dos quadrinhos. É um quadrinho autoral, uma história fictícia que a gente tá criando, meio que dando uma cara para a trilha sonora que a gente sempre faz e não tem imagem, digamos assim”, contam.

O lançamento da história em quadrinhos deve acontecer antes do disco, que sai em 2019. Em agosto, a banda irá liberar uma prévia e, até o final do ano, lançar dois singles.

Para finalizar, o grupo falou também sobre a cena musical para outras bandas da mesma geração do Supercombo:

Todas as gerações são muito boas, a geração que veio antes da gente fez toda a base pra que a gente pudesse estar aqui hoje, e a nossa geração trabalha muito. A gente veio de um sistema que não tem gravadora, então a gente meio que faz todo o trabalho. Isso é legal porque as bandas se uniram com isso, elas passam pelas mesmas coisas, constroem pelos mesmo caminhos, uma vai aprendendo e ensinando a outra. Há uma colaboração de experiências muito grande entre as bandas.

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Raimundos

O vocalista e guitarrista Digão e o baixista Canisso começaram a coletiva de imprensa prometendo um show especial no João Rock: “só as mais selecionadas possíveis porque o tempo é curto, então a gente vai tocar só os hits”.

Sem lançar um disco de inéditas desde 2014, com o Cantigas de Roda, o trabalho mais recente da banda é o acústico que saiu no ano passado. Sobre os últimos lançamentos e o próximo, Digão explica:

A gente fez o Cantigas por um crowdfunding e foi uma grande surpresa ver que os fãs estavam tão fortes com a gente e deram uma força tão grande. Lançamos o acústico no ano passado e ele ainda tá girando, então a gente não tá muito preocupado. Esse é um ano de Copa do Mundo, um ano de eleição, acho que lançar alguma coisa esse ano é meio que desperdício porque o foco é outro. Mas no ano que vem devem vir coisas inéditas, a gente ainda não sabe qual o formato, como vai ser, mas vai vir coisa.

Quando questionados sobre o fato de contarem com uma base de fãs antiga, mas ao mesmo tempo terem um público jovem que se renova, Canisso contou que não é tão fácil manter essa linearidade na carreira:

Quando a gente surgiu, falava de vários assuntos meio complexos, não tão fáceis de serem abordados, e hoje em dia a patrulha vem de outra forma, é outra coisa. E isso já vem no próprio processo de criação, você já se policia para não tocar nesses temas. Na época em que o Raimundos apareceu, era uma putaria só, a gente só falava merda, mas hoje em dia a gente precisa se policiar, senão… Não é uma questão de censura, mas uma questão meio de uma patrulha ideológica que rola.

Já em relação ao papel político de bandas de rock com grande visibilidade como o Raimundos, ambos disseram que não é a praia do grupo. Em 2013, por exemplo, eles lançaram “Politics”, com um videoclipe repleto de imagens de desigualdades sociais e protestos políticos, entretanto, Canisso diz que o papel da banda é divertir:

Se a música vem e puxa de volta aqueles assuntos que o cara tá querendo desencanar, ele não vai relaxar. Então a banda tem a obrigação de ser uma pausa nos compromissos do cotidiano. Uma banda muito engajada, muito politizada acaba ficando uma coisa, não digo chata, mas pesada – não é um assunto fácil de se abordar. Nós temos os nossos posicionamentos, mas na parte musical a gente gosta de passar longe porque a política muda muito e se você assume uma postura, acaba ficando datado e preso naquele momento. A gente quer trazer uma alternativa, alegria, animar as pessoas para que elas tenham uma pausa nas suas preocupações diárias. A gente dá a trilha sonora pra pessoa esquecer dos seus problemas, e não ficar lembrando ‘você tem isso aqui pra cuidar’. Não é a nossa pegada, a gente já tentou e não fica muito legal.

Gabriel O Pensador

Com cada veículo tendo direito a apenas uma pergunta para Gabriel O Pensador, escolhemos falar sobre a experiência de passar mensagens tão críticas através da música, em um festival com um público tão diverso como o João Rock.

“É sempre bom festival por isso mesmo, porque a gente sabe que é um público que curte de tudo, mas ao mesmo tempo tem os fãs que conhecem mais o trabalho, que tão aí pra nos ver, e também aqueles que vão ter a chance de conhecer um pouco mais o nosso trabalho porque estão vendo um show meu pela primeira vez”, conta Gabriel, que fala um pouco do conceito do seu show:

A gente veio trazendo um pouquinho de cada lado do meu som. Tem o lado do desabafo, da conscientização no começo do show, que foi um lado muito forte. Eu até me emocionei porque eu vi que as pessoas estão mesmo precisando expressar isso, desabafar, protestar de um certa forma, porque a música ajuda. E depois tem um lado mais alegre, mais divertido. E eu gosto muito também de fazer as pessoas sorrirem, de sorrir junto, de improvisar, de cantar músicas mais alegres, falar do surf, do playboy, às vezes até dentro do humor. Um exemplo é ‘Retrato De Um Playboy’, uma música engraçada, mas que também questiona algum assunto de comportamento, ou seja lá o que for. Mas a gente se diverte, se emociona e troca uma energia muito forte num palco desse tamanho, com tanta gente, e ainda pensando naqueles que estão vendo ao vivo pela internet, que hoje em dia é uma extensão de um festival como esse. É uma experiência que eu dou os parabéns pra quem organiza e pra quem vem de vários lugares do Brasil pra fazer isso acontecer.