Entrevistas

Vitrola Sintética e Marilina Bertoldi se entrevistam antes de celebração no palco

A banda brasileira Vitrola Sintética convidou a artista argentina Marilina Bertoldi para um EP e ambos tocarão juntos no SESC Belenzinho.

Vitrola Sintética e Marilina Bertoldi
Foto por Manoela Meyer

Foto por Manoela Meyer

A banda brasileira Vitrola Sintética irá comemorar os seus dez anos de existência em grande estilo.

O grupo fará um show no SESC Belenzinho na próxima Sexta-feira (27) às 21 horas e a noite contará com a participação especialíssima da artista argentina Marilina Bertoldi, que gravou um EP com o grupo onde aparecem as canções “Voz” e “Sexo Com Modelos”.

Quem também participará da noite será Helio Flanders, vocalista da banda Vanguart, e tudo celebrará uma parceria que começou no Grammy Latino de 2016, onde Vitrola e Marilina se conheceram.

Antes dessa noite bastante especial, os músicos brasileiros e a musicista argentina se entrevistaram com exclusividade para o TMDQA! e você pode ler o resultado do bate papo logo abaixo.

Divirta-se!

 

Marilina Bertoldi entrevista Vitrola Sintética

1. Vocês já estão compondo um novo disco? Como é o processo criativo da banda?
Sim, na verdade já avançamos um bom tanto com o disco. Estamos trabalhando com músicas a mais do que pretendemos lançar, e aos poucos vamos lapidando para entender o que será o disco. Mas já gravamos as bases todas, fomos para o interior, numa chácara com um salão vazio, e lá montamos os equipamentos. Foi ótimo poder fazer essa imersão, acho que fará muita diferença no resultado dos arranjos. Esse disco me parece estar um pouco mais fragmentado, com canções diferentes e complementares entre si.

2. O Vitrola Sintética fez uma canção falando sobre a voz da mulher, chamada “Voz”. Como vocês sentem o lugar do homem neste momento histórico da mulher?
Acreditamos que seja fundamental a compreensão de que a sociedade foi toda moldada, no que conhecemos como civilização, na lógica masculina, para servir ao masculino. Analisando o momento que estamos passando, e tudo que fizemos em nome de um tal “progresso”, nos parece que isso não deu muito certo. Claro que coisas interessantes aconteceram, sobretudo no campo científico, artístico, etc. Mas sempre do ponto de vista masculino. Eu, Felipe, tive a sorte de ter sido criado em um ambiente onde meu pai sempre foi bastante respeitoso e carinhoso com minha mãe, ele teve a sorte de ter sido criado por uma mulher muito forte e duas irmãs. Hoje meu irmão tem duas filhas pequenas, e é muito triste pensar que elas terão que se deparar com tudo isso. E que, na verdade, no imaginário, já se deparam; de um jeito inconsciente, através da cultura e da educação que temos.

Isso vem mudando, mas frequentemente enfrentamos retrocessos. Gosto muito da definição da Chimamanda, ela diz que ser feminista está longe de ser o oposto de machista, é simplesmente entender e aceitar que existem distorções nas questões de gênero e que devemos agir para corrigir.

Nesse sentido, todo ser humano DEVE ser feminista, e, pensando assim, acho que o nosso lugar é ao lado das mulheres – num primeiro momento, e principalmente, escutando, e na sequência brigando junto, mas sem assumir protagonismos. O Vitrola tem pensando assim, conversamos muito sobre isso com as mulheres e depois refletimos entre nós. Não acho que se omitir ou ficar em silêncio contribua para avançarmos, ainda que estejamos sujeitos a erros, a reproduzir cultura. Precisamos estar atentos e abertos a aprender. Tenho dito que, em relação a questões específicas e importantes, como raciais e de gênero, sendo eu, por exemplo, um homem branco, não me cabe estar à frente, mas sim ao lado, estudar, escutar e encorpar a discussão.

3. Como vocês conheceram a música argentina?
Nós tivemos o primeiro contato com alguns artistas argentinos através de parcerias de artistas brasileiros com artistas argentinos. Em 2013, fizemos uma tour de 4 shows na Argentina e tivemos oportunidade de conhecer alguns artistas mais de perto e trocar algumas referências.

4. Qual a visão da banda sobre a atual cena musical brasileira?
Essa pergunta automaticamente nos traz uma dupla visão sobre o assunto! Porque, ao mesmo tempo que são enormes as dificuldades de projetos independentes se firmarem financeiramente, muita coisa boa surge diariamente. As diferentes músicas do Brasil puderam se espalhar e ganhar proporção. E nos parece que, do tempo que estamos atuando na cena, esse é o de maior intercâmbio entre as gerações. Um número inimaginável de discos é lançado anualmente no país. Vários álbuns por dia.

De cabeça lembro de alguns lançados recentemente: André Abujamra, Juliano Gauche, Maria Beraldo, Arnaldo Antunes, Maurício Pereira, Laila Garin e a Roda, Marianna Perna, Erasmo Carlos, Edu Sereno, Guga Vasconcello, Corte, enfim, muitas coisas.

Temos ouvido muito alguns sons: Maurício Pereira, Maria Beraldo, Gilberto Gil, Oscar Brown Jr, Salloma Salomão, Jorge Drexler, Dirty Projectors, Don L, Ibeyi, Louis-Jean Cormier e Anderson Paak.

5. Quais são os próximos passos do Vitrola Sintética?
Estamos no processo da gravação do quarto disco, que será produzido por Tó Brandileone. Muito provavelmente o álbum sairá ano que vem, e estamos felizes com o caminho e o corpo que o som está tomando. Também vamos lançar em breve um clipe para a canção Voz, que será montado a partir da participação colaborativa dos usuários da Itsnoon, que é uma rede de colaboração criativa muito bacana.

Vitrola Sintética entrevista Marilina Bertoldi

1. Como você conheceu a música brasileira?
Meu primeiro contato com a música brasileira foi graças a Jorge Drexler, que fez uma canção para Maria Rita, chamada “Sem Aviso”. Após isso comecei a escutar artistas mais clássicos, como Astrud Gilberto, Elis Regina e Djavan entre outros.

2. Qual foi a sua motivação para você compor a canção “Sexo com modelos”?
“Sexo com modelos” é uma queixa bastante aberta. Não define muito de quem se queixa. Está presente nessa espera para que o destino siga e te diga o que fazer, nesta negativa de aceitar a mudança, nesses parados em que as pessoas estão quase adormecidas. Sinto que ela vem para despertar a todos e fazê-los pensar no que farão com seu tempo e sua vida. Esta é a reflexão que propomos.

3. Sua nova canção, “Racat”, traz um caminho diferente do disco Sexo com modelos. Seu disco novo vai para uma estética de um rock com mais grooves? E como anda o processo criativo?
Totalmente! Se há algo que descobri que gosto é o rock com grooves. O uso de guitarras elétricas, com bases tiradas para trás, muito ar, uma voz sensual e um baixo que sustenta tudo isso com muita simplicidade e soltura. Essa busca me faz muito bem no meu atual momento pessoal e artístico.

4. Você e sua irmã têm uma carreira musical importante no cenário do rock argentino. Como foi a formação musical de vocês? Há algum plano em produzir algo juntas?
Sempre pensamos que algum dia iremos fazer algo juntas, mas ainda não chegou o momento e não queremos forçá-lo. Temos ainda muitas coisas a compreender sobre nossos estilos pessoais, pois sempre que nos juntamos há uma certa pressão nossa para criar algo interessante. Creio que a única maneira de fazermos algo bacana é realmente conhecermos muito bem nossos estilos próprios.

5. O que você está ouvindo de música argentina neste momento?
Estou escutando muito o disco Stereo de Omar Apollo, além de toda a obra de Miles Davis!

6. A votação para a descriminalização do aborto acontecerá no dia 08 de agosto na
Argentina. Vocês, com um intenso e necessário movimento feminista (e a canção VOZ caminha um pouco nesse sentido), mesmo submetidas a um governo pendurado no neoliberalismo, conseguiram avançar consideravelmente nesses últimos tempos. A aprovação pelos deputados foi algo bastante repercutido e contribuiu para que o debate reacendesse no Brasil. Você acredita que avanços importantes acontecem em resposta a governos retrógrados?
O governo de Macri se resultou pior do que todos pensávamos. Nos mergulhou numa enorme crise econômica que não parece ter pausa. Houve um retrocesso enorme em relação a políticas públicas e os direitos humanos estão sendo pisoteados. O debate pela legalização do aborto se deu graças a um movimento feminista que vem pressionando o judiciário há muito tempo pela legalização. No mapa da nossa América Latina este parece ser um panorama comum mas tenho fé que isso irá mudar.