Marilyn Manson começou sua carreira ainda em 1989 sob a alcunha de Marilyn Manson & the Spooky Kids. Mas em 1991, depois de chamar a atenção de Trent Reznor, líder do Nine Inch Nails, o nome foi encurtado apenas para Marilyn Manson e o primeiro álbum, Portrait of an American Family, foi lançado em 1994.
Manson, enquanto banda, já foi considerado “o grupo mais doentio já promovido por uma gravadora do mainstream” por uma galera aí que não gostava muito dele, mas todas as críticas e as ameaças de morte (!), principalmente após as acusações injustas no caso de Columbine em 1999, não fizeram com que Manson desistisse da carreira. Como ele mesmo já disse em entrevista,
Minha música fez a América olhar para si mesma e ela não gostou do que viu.
Desde então já foram dez discos lançados, e ele ainda mostra por que é um dos artistas com a discografia mais variada dentro do rock, principalmente porque cada álbum vem com uma temática e estética própria, com influências de filosofia, literatura, filmes, ocultismo e cultura pop. Desde o rock industrial sujo do Antichrist Superstar até a influência do blues no The Pale Emperor, Manson teve seus altos e baixos do ponto de vista comercial, mas sua discografia pode ser considerada consistente, mesmo que, ao longos dos anos, os parceiros principais de composição tenham mudado.
Vem com a gente nesse ranking que vai mostrar quais os melhores e “piores” discos da carreira do cara.
10 – Born Villain (2012)
É difícil começar um ranking desse porque é difícil dizer que existe um “disco ruim” do Manson. Mas a gente tem que escolher, então eu coloco o Born Villain, lançado em 2012, em último nessa lista.
O disco é ruim? De maneira nenhuma. Há grandes músicas nele. Manson e Twiggy mostraram ali que ainda existe química entre os dois. Mas depois de anos ouvindo esse álbum e o comparando com os outros, eu cheguei à conclusão de que, se fosse pra escolher, Born Villain pode ser considerado o “pior” da banda.
O lance é que ele tem um potencial enorme, mas foi mal produzido e, no conjunto da obra, parece um álbum frio, sem alma. E quando foi lançado teve uma boa recepção de público e crítica, com algumas resenhas chegando a dizer que essa era a volta do Manson à velha forma, mas é isso, parece que não “envelheceu” (entre aspas porque é um disco relativamente recente) tão bem quanto deveria.
Destaques:
• “The Flowers of Evil”
• “Overneath the Path of Misery”
• “Slo-Mo-Tion”
9 – The Golden Age of Grotesque (2003)
The Golden Age of Grotesque saiu em 2003 e vinha com uma grande expectativa, tanto para saber como seria o sucessor do Holy Wood (mais pra frente no post vocês vão entender por quê), mas também porque seria o primeiro disco sem o Twiggy Ramirez desde 1996.
Comercialmente TGAOG foi muito bem, chegando ao topo da Billboard, e no quesito influências, estética e temática, o disco é um dos melhores da banda, sem dúvida alguma. Há influências da Disney, Berlim pré-segunda guerra, literatura, dadaísmo, enfim… é um disco riquíssimo nessa parte.
“Ah, mas por que ele está em penúltimo lugar, então?” Pois é. Individualmente todas as músicas são ótimas, destaque para a faixa título e “Spade“, o problema é quando elas se juntam. No conjunto é um disco que fica muito cansativo, principalmente da metade para o final.
O substituto do Twiggy na banda foi Tim Skold, um músico sueco que anteriormente já havia tocado com o KMFDM, influente banda de rock industrial alemã. Além de participar da maioria das composições, ele também foi o produtor. Sim, o Manson possui forte influência da música industrial, mas nesse disco ficou exagerado, a voz do Manson parecia muito artificial e o mesmo padrão de riffs seguiu durante todo o disco, por isso digo que é cansativo.
Com uma produção melhor, The Golden Age of Grotesque poderia ficar mais interessante.
Destaques:
• “Spade”
• “The Golden Age of Grotesque”
• “Doll-Dagga Buzz-Buzz Ziggtey-Zag”
8 – Eat Me, Drink Me (2007)
Eat Me, Drink Me foi lançado quatro anos depois de The Golden Age of Grotesque e é considerado pelo próprio Manson como o seu disco mais pessoal.
Isso se dá pelo fato de ter sido feito após seu divórcio com Dita Von Teese e uma depressão pesada, que fez Manson pensar em desistir da música e até em suicídio.
No entanto, felizmente ele seguiu firme e lançou o EMDM, que traz uma sonoridade completamente diferente do que vinha sendo feito até então, mais diferente ainda que o Mechanical Animals, e isso culminou em críticas mistas ao álbum pelos fãs e mídia.
O disco é repleto de solos de guitarra e tem uma vibe mais rock n’ roll. Tim Skold estava novamente à frente da produção e co-composição das músicas e, apesar da voz do Manson continuar soando artificial, o instrumental é muito bonito e, definitivamente, não maçante, por isso coloco à frente do TGAOG.
A temática e estética têm influências de Alice no País das Maravilhas, Vampirismo e o livro Lolita. As letras pela primeira vez falam sem metáforas sobre decepções amorosas e também sobre amar novamente alguém, já que na época Manson estava namorando a atriz Evan Rachel Wood e, segundo o próprio, ela foi uma das responsáveis por esse disco ter saído.
Destaques:
• “Evidence”
• “If I Was Your Vampire”
• “Eat Me, Drink Me”
7 – The High End of Low (2009)
The High End of Low também teve uma grande expectativa ao redor antes de ser lançado porque foi o primeiro disco que Manson e Twiggy gravaram juntos desde o Holy Wood, lançado em 2000.
E o disco é bem legal. Do ponto de vista comercial foi o mais fraco e esquecível, mas musicalmente é muito interessante. É bem mais cru e dá pra perceber o dedo do Twiggy ali, com músicas simples, mas cheias de feeling. E dentro dele há uma variedade interessante de estilos, com músicas influenciadas pelo country (“Four Rusted Horses“) indo até o metal industrial (“We’re from America“).
Embora o disco seja bom e até injustiçado, Manson não estava bem na época. Ele até disse em uma entrevista para a Kerrang! em 2017 que “esse foi quando eu surtei, de verdade. Acho que tive um surto psicótico fazendo esse disco.”
Ele foi escrito após o término com Evan Rachel Wood, então Manson usou o álbum como um desabafo desse período conturbado de sua vida.
The High End of Low marca também o último lançamento de Manson por uma grande gravadora, no caso a Interscope Records.
Destaques:
• “Four Rusted Horses”
• “I Want to Kill You Like They Do in the Movies”
• “Into the Fire”
6 – Portrait of an American Family (1994)
O disco de estreia do Manson chegou em 1994 com a produção de Trent Reznor. Como dissemos no início do post, o começo da banda aconteceu em 1989, então quando o POAAF saiu, já eram cinco anos de estrada e muitas demos com o Spooky Kids gravadas. Tanto é que o disco é repleto de versões retrabalhadas de músicas daquela época, como “Lunchbox“, “Dogma” e “Cake and Sodomy“, por exemplo.
Em 1994 o grunge estava explodindo, mas Manson não seguiu essa direção. Na real é até meio difícil rotular o som desse disco, porque tem influências de vários lugares. Dá para sentir um pouco de grunge, sim, mas também tem punk, metal e industrial. O principal parceiro de composição no álbum foi Daisy Berkowitz, guitarrista e co-fundador da banda, que nos deixou no ano passado aos 49 anos.
As letras giram em torno da hipocrisia da sociedade norte-americana (mas que acaba valendo para o mundo inteiro) e critica principalmente a moral cristã e como “as famílias tradicionais” se escondem atrás dessa máscara para fazer tudo o que eles julgam como imoral.
É um ótimo álbum e que só não entra no meu top 5 pela qualidade suprema dos discos a seguir.
Destaques:
• “Cake and Sodomy”
• “Get Your Gunn”
• “Dogma”
5 – Heaven Upside Down (2017)
Começando o top 5 está o Heaven Upside Down, que ainda vai completar um ano de lançamento em Outubro deste ano e mesmo assim já merece essa posição.
Assim como The Pale Emperor, o disco oi feito em parceria com Tyler Bates, que é um músico e compositor de trilhas sonoras de filmes grandes em Hollywood (Guardiões da Galáxia 1 e 2, John Wick, 300, Watchmen só pra citar alguns), e isso foi garantia de qualidade.
O blues do TPE foi deixado de lado e o peso voltou. Além do rock industrial, é possível ouvir pós-punk oitentista, como na surreal “Saturnalia” com oito minutos de duração, escrita como uma espécie de “homenagem” ao pai do Manson que faleceu no ano passado, até influências de trap, que podem ser ouvidas em “SAY10“.
Comercialmente o disco mandou bem e recebeu muitas críticas positivas entre os fãs e a mídia. E foi difícil decidir qual dos dois ficaria em quarto e quinto lugares, mas deixei o HUD em quinto pela sonoridade ser mais familiar com o que o Manson fez mais durante sua carreira, porque, em quesito de qualidade, ambos são fodas.
Destaques:
• “Saturnalia”
• “SAY10”
• “KILL4ME”
4 – The Pale Emperor (2015)
Se for pra definir o The Pale Emperor em uma palavra, essa palavra seria: absurdo.
Depois do Born Villain, os fãs ficaram um pouco confusos porque, mesmo o Twiggy estando na banda, aparentemente ele não estava participando das gravações do novo disco. Em entrevistas, Manson disse que estava escrevendo e gravando o The Pale Emperor com Tyler Bates. E o resultado foi um disco elogiadíssimo, quase uma unanimidade entre fãs e crítica, tanto que foi eleito o melhor pela Rolling Stone naquele ano na categoria metal (mesmo não sendo metal).
A parceria entre os dois não poderia vir em melhor hora, e isso ficou provado na sonoridade do disco, totalmente diferente do seu antecessor. Se Born Villain era mais voltado ao rock industrial, The Pale Emperor tem toda uma vibe blues incrível – um blues do jeito do Manson, claro, mas ainda assim é notável a influência -, coisa que ele ainda não havia explorado em sua carreira, e é por isso que esse disco fica em quarto lugar na lista.
Fora tudo isso, a produção, que também foi responsabilidade do Bates, é impecável.
Destaques:
• “Cupid Carries a Gun”
• “Deep Six”
• “The Mephistopheles of Los Angeles”
3 – Antichrist Superstar (1996)
Antichrist Superstar foi o disco que lançou o Manson ao estrelato. Também produzido por Trent Reznor, o álbum fez barulho no mundo todo, fazendo com que Manson fosse o artista mais controverso da época, de longe. Tanto que algumas cidades americanas simplesmente baniram a banda de se apresentar por achar tudo; música, imagem, show, uma grande blasfêmia.
Daisy Berkowitz participou de algumas composições, mas deixou a banda na metade do processo, com Twiggy Ramirez assumindo o posto de principal parceiro de composições ao lado do Manson.
Por ter sido produzido por Reznor, o disco mostrou o lado mais forte da influência da música industrial que Manson sempre teve, com barulhos, efeitos eletrônicos, guitarras sujas e pesadas. E tudo isso ajudou a criar o clima perfeito para a temática do álbum, que lida com a filosofia do satanismo e do Übermensch, de Nietzsche, que é de ser o seu próprio Deus – e isso fica muito claro na música “The Reflecting God“, em que Manson canta “I went to God just to see and I was looking at me” (“Eu fui até Deus só para ver e estava olhando para mim”). O disco é muito mais complexo que isso em sua temática, mas a base é essa.
Sucesso comercial, qualidade musical e temas interessantes fazem com que o Antichrist Superstar seja um clássico e um dos maiores e melhores discos lançados na década de 1990.
Destaques:
• “Dried Up, Tied and Dead to the World”
• “The Reflecting God”
• “Antichrist Superstar”
2 – Mechanical Animals (1998)
Outro clássico na discografia do Manson é Mechanical Animals, que agora em 2018 completa 20 anos de lançamento. A história do álbum é a de um alienígena que cai na Terra, vira um rockstar e mesmo assim se sente totalmente deslocado e não pertencente à sociedade.
Isso te lembrou alguma coisa? Pois é, podemos dizer que Mechanical Animals é a recriação de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars do David Bowie, um de seus maiores ídolos e influências. Até a sonoridade do álbum remete ao Ziggy, já que é um disco totalmente glam rock, o que foi um tremendo choque para todo mundo, principalmente porque na época os boatos davam conta de que o sucessor do Antichrist Superstar seria ainda mais pesado e obscuro. Mas aí Manson resolveu voltar com o cabelo bem mais curto, vermelho, usando roupa de lantejoula. Muitos fãs ficaram revoltados e até pararam de ouvir, mas ao mesmo tempo foi o auge comercial dele, que ali já se consolidava como um dos maiores artistas da década. Aqui, Twiggy também foi o principal compositor, dando continuidade à parceria mais adorada pelos fãs.
Se você costuma torcer o nariz pro Manson ou não gosta simplesmente porque acha que ele só faz música pesada, Mechanical Animals é um prato cheio porque, além da parte mais pesada do disco, aqui o Manson já mostra seu lado mais sentimental, que é igualmente incrível.
Destaques:
• “Great Big White World”
• “Disassociative”
• “User Friendly”
1 – Holy Wood (In the Shadow of the Valley of Death) (2000)
É até um pouco difícil começar a falar sobre o Holy Wood porque é o disco favorito dessa que voz fala desde a primeira vez que ouvi quando tinha 13 anos. Foi um impacto, e não só pela qualidade da música, mas pelas letras, o encarte do disco todo com cartas de tarô estilizadas com Manson e os integrantes da banda na época e, principalmente, quando fui atrás pra entender o porquê de tudo aquilo.
Muita gente não sabe, mas o trabalho do Manson é complexo e envolve muita coisa. E o auge da genialidade dele veio no Holy Wood. No ano seguinte ao lançamento do Mechanical Animals, em 1999, o mundo ficou em choque com o massacre que aconteceu no colégio Columbine, nos EUA, quando dois alunos entraram na escola e atiraram em colegas e professores, matando mais de 10 pessoas. Ambos cometeram suicídio em seguida.
Como dito antes, nessa época Manson estava em seu auge comercial, então, só pelo simples motivo dos meninos estarem vestidos de preto, toda a mídia começou a acusar o cara de ser o responsável pela tragédia, porque ambos só poderiam ser fãs de Manson, e “não existia outra possibilidade”.
https://www.youtube.com/watch?v=zs_NLL7WW_4
Indo contra a vontade da mídia sanguessuga, Manson sumiu, não deu nenhuma declaração, e sua resposta veio com Holy Wood, um disco que fala sobre o fascínio da sociedade americana por armas e pela morte e toda a hipocrisia que vem junto, como por exemplo, a capa ter sido banida em alguns lugares por ser muito explícita sendo que são essas mesmas pessoas que têm um crucifixo com um homem morto pendurado nas paredes de casa.
Mais uma vez o instrumental mudou e é bem mais cru se comparado ao Mechanical Animals. Esse disco foi a última participação do Twiggy como compositor, que deixou a banda em 2002 e voltou em 2008.
Não bastasse o tema principal, tem muita coisa ligada ao ocultismo, maçonaria, tarô e afins por trás. É uma obra completa que merece ser ouvida com atenção.
Destaques:
• “Target Audience (Narcissus Narcosis)”
• “A Place in the Dirt”
• “Coma Black A)Eden Eye B)The Apple of Discord”
Dicas
Smells Like Children, lançado em 1995, ficou de fora da lista por ser um EP com remixes e covers, mas que vale a pena dar uma sacada porque é o trabalho que tem “Sweet Dreams (Are Made of This)“.
Se ficou curioso sobre toda essa parte de influências que o Manson usa em seu trabalho, existe um site que documentou tudo isso. O Nachtkabarett reúne centenas de artigos que mostram tudo e por quê ele usou isso em seus trabalhos, todos com tradução em português.