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E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante e a arte de contar histórias com canções

Leia nossa resenha de "Fundação", o primeiro disco de estúdio da banda brasileira de post-rock E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante.

E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante - Fundação

Há alguns anos a banda paulistana E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante tem mostrado suas canções através de singles, EPs e apresentações ao vivo cheias de energia.

Com canções que foi compondo e gravando nesse tempo, deixou bem claro que bebe nas fontes do post-rock e de outros gêneros como o post-hardcore, e hoje está lançando seu primeiro disco cheio com Fundação, pela Balaclava Records.

No disco é possível ouvir as várias camadas de guitarras, os diferentes timbres, os mais diversos efeitos de pedais, a música eletrônica dando as caras e o baixo marcando presença de forma contundente, e a gente até poderia destacar esses encontros todos por aqui, mas Fundação fala mais alto quando você entende que o disco é um grande contador de histórias.

Talvez seja difícil imaginar que um disco instrumental possa servir para esse propósito, mas ao apertar o play no álbum você logo percebe que o EATNMPTD está aqui pra isso, para “falar” sobre hoje em dia, sobre as vidas de cada um, as andanças pelas quais todos passamos e a trajetória que cada um dos integrantes foi construindo através dessas faixas ao longo dos últimos anos em um processo de amadurecimento visível e louvável.

A não ser pelos títulos das faixas, cada canção dá margem para que cada ouvinte a interprete da maneira como as ondas sonoras melhor tocam seus corações. É claro que a urgência de “Karoshi” pode te levar para memórias mais difíceis e a incrível “Daiane” tem tanto o poder de nos transportar para um lugar belo quanto para outro de reflexão, mas a interpretação é aberta e não há regras, não há frases difíceis para interpretar, não há trocadilhos para desvendar e, ainda assim, muito para absorver.

Nas entrelinhas de cada riff, de cada quebra de ritmo, de cada linha de baixo batendo de frente com as guitarras como na caótica “Se Fosse Assim, Onde Iríamos Parar?” (que tem até um saxofone e antecede a quase emo “Já Não Ligo Se Tudo Der Errado”), é a energia e a paixão com que cada um dos integrantes toca seus instrumentos que ditam o ritmo de um álbum que te leva para vários lugares.

Ao final do álbum, na única música com vocais que repetem o título à exaustão, “Se A Resposta Gera Dúvida, Então Não É a Solução” pode ser um conselho, uma crítica, um tapinha nas costas ou uma fotografia do próprio disco, que como tudo nessa vida não tem uma resposta definitiva e muito provavelmente irá te deixar intrigado (ainda bem) mesmo após diversas ouvidas.

Fundação resume bem um dos principais papéis que a música tem e que muitas vezes é deixado de lado hoje em dia, o de contar histórias e de se identificar com o ouvinte, figura principal no processo todo. Como uma trilha sonora de um filme pessoal que pode ser o seu, o meu e o de qualquer um, o álbum pinta belos traços em uma tela que a cada vez que for vista por você, terá um novo significado.