Pouco mais de 15 anos depois do lançamento do seu disco de estreia, Admirável Chip Novo, Pitty segue se reinventando e dando novos passos na sua carreira.
Com um novo disco a ser lançado aos poucos, conforme o andamento da turnê Matriz, a cantora mais uma vez mostra sua habilidade de explorar sonoridades e buscar novas experiências musicais.
Seja através de discos de estúdio, trabalhos ao vivo ou documentários, Pitty nunca se acomodou ou deixou de buscar novos caminhos para o seu trabalho. Seus singles mais recentes trazem ritmos diversos, que se por um lado soam diferente do que fez até aqui, no fundo são uma viagem às suas principais influências. “É completamente coerente com minha formação musical, com o que eu gosto e escuto desde adolescente,” explica.
Abaixo você confere o nosso papo a respeito da nova turnê Matriz, que traz um novo conceito estético e musical, além da fase atual e suas novas parcerias.
TMDQA!: Com esse novo disco, você resolveu inovar — lançando as faixas durante a turnê em vez de fazer o caminho convencional de divulgar o álbum e só depois cair na estrada. Em que momento você teve essa ideia e quais os desafios desse processo?
Pitty: A ideia se mostrou à medida em que as coisas eram feitas. Na verdade só observamos que esse estava sendo o caminho natural e que era melhor adotá-lo como método do que brigar com ele. O grande desafio é que é um modelo novo. E até por isso ficamos reativos a princípio; porque não tem precedente, tem que inventar. E também com a cabeça aberta de que esse processo pode se modificar a qualquer momento.
TMDQA!: A turnê Matriz também vem trazendo novidades, como uma parte do set sendo acústica e com uma estética visual diferente. Como você trabalhou esse novo conceito dos seus shows e como tem sido a resposta do público nesse começo?
Pitty: Quando eu pensei em montar esse novo show, me veio à cabeça uma lista de coisas que ainda não tinha feito no palco. Pensei em tudo que ainda não tinha experimentado e que poderia caber agora, como esse lance da parte acústica. Sempre foi uma espécie de tabu muito grande, e eu tomei isso como desafio. Começou a surgir na minha cabeça esse conceito de pegar coisas muito rústicas do passado, da essência, e trazê-las para a contemporaneidade, com uma linguagem atual e conectada com o agora. Foi se fortalecendo essa ideia da Matriz. De usar o clássico “pano de fundo” como cenário, que é um símbolo estético do rock; de pensar no do it yourself, de trazer essa ideia de colagem do punk rock, mas interpretada em 2018; usando beats nas músicas, com desenhos de Eva Uviedo, usando pedal na voz, etc. O público tem pirado. A primeira vez que a gente fez o set acústico a casa caiu, fiquei emocionadíssima. Nem imaginava que ia ter esse efeito. Mas é porque ali eu mostro pras pessoas como aquelas canções foram feitas, é cru e verdadeiro, e quem curte o som se identifica de ver isso acontecer ali.
TMDQA!: Com os dois últimos singles lançados, já ficou clara a mudança de sonoridade musical. Se “Contramão” soa mais pop, “Te Conecta” traz elementos do dub/reggae. Quais foram suas principais influências, na música ou fora dela?
Pitty: Esses dois singles são bem diferentes entre si, e de tudo que já fiz antes. Tenho experimentado sonoridades e parcerias diferentes, e isso tem sido muito rico. Mas a coisa que mais me deu certeza de que estava tudo no lugar e de que a palavra MATRIZ faz todo sentido nesse momento, foi quando Rafa Ramos me mostrou uma demo de 2002 onde tinha eu tocando um reggae voz e violão, outra música eu rimando em cima de um beat, outra era meio Patti Smith, eu falando um texto numa base…. ou seja, essas coisas que as pessoas estão tomando conhecimento agora através desses singles já existem desde sempre. É completamente coerente com minha formação musical, com o que eu gosto e escuto desde adolescente.
TMDQA!: Outro destaque dessas faixas mais recentes é a parte colaborativa. Como é encarar a importância de dar mais espaço e visibilidade para as mulheres?
Pitty: Tem sido o caminho natural também. E uma escolha consciente de abrir esses espaços, de realmente exercer a igualdade de gênero que tanto queremos nos nossos espaços de trabalho, de convivência.
TMDQA!: Sobre explorar esses novos gêneros musicais, você percebe que ainda há uma resistência do público em “aceitar” algo menos voltado para o rock em si? Você mesma já falou sobre o rock ser muito mais sobre atitude e postura, mas acha que essa nova fase possa causar alguma estranheza em alguns fãs?
Pitty: Nos meus acho que não, porque eles me conhecem. Sabem da minha trajetória e que esses experimentos fazem parte. Sabem que desde sempre meu som dialoga com outros estilos, sabem que nunca foi uma coisa fechada. Tenho essa sensação, que meu público entende e se identifica com essa coisa fluida, com respeitar as vontades artísticas do momento, com não ser tão rígido; porque a arte não é assim, e a vida não é assim. Nesse disco novo é tudo rock, e tem muita coisa que será “rock” desse também de poder colocar esse rótulo (risos).
TMDQA!: Você já falou bastante a respeito da maternidade e do tempo em que ficou afastada dos palcos em função disso. Agora, com sua filha um pouco mais crescida, como tem sido conciliar tudo isso?
Pitty: Uma loucura. A coisa que me é mais cara hoje em dia é tempo. É o que custa mais. Tempo para estar com ela, para vê-la crescer e educá-la; e tempo para ser artista, criadora, escrever, compor; tempo para ser administradora e empresária, e cuidar dos negócios.
TMDQA!: Você sempre foi uma artista que se posicionou sobre temas políticos e sociais, e isso ficou ainda mais recorrente com o Saia Justa. Em que aspectos o atual momento do país mais te preocupa e como artistas com grande visibilidade podem fazer a diferença quanto a isso?
Pitty: Estamos à beira de uma eleição e me preocupa o fato de as pessoas estarem mais preocupadas com memes do que com propostas. Temos que pesquisar, ver as propostas concretas, escolher com base nisso. E não nessa polarização boba, nessa dicotomia que parece birra de quinta série. Acho que o lance é esse, compartilhar informação que ajude nesse processo de escolha.
TMDQA!: Você ainda acompanha a cena musical underground de Salvador?
Pitty: Tem uma cena massa hoje em Salvador, mas que tem muito a ver com soundsystem, com hip hop, eletrônico. Mas com uma pegada roqueira no sentido de atitude, discurso e postura. Que é o mais importante, na verdade.
TMDQA!: Para finalizar, como você define essa nova fase da sua carreira e o que os fãs podem esperar daqui pra frente?
Pitty: Essa nova fase minha é de muita vontade de aprofundar minhas pesquisas musicais, de escrever melhor, de encontrar assuntos e jeitos de falar que se comuniquem com muita gente.
A turnê Matriz estreia em São Paulo, na próxima sexta-feira, dia 21, no Audio Club. Os ingressos estão esgotados! Confira abaixo as próximas datas:
21/09 – Audio – São Paulo – SP
29/09 – Shopping Riomar Fortaleza – Fortaleza – CE
12/10 – M.A.D.A – Natal – RN
20/10 – Fundição Progresso – Rio de Janeiro – RJ
26/10 – City Hall – Belo Horizonte – MG
10/11 – Teatro Positivo – Curitiba – PR
24/11 – AFPSBC – São Bernardo – SP
01/12 – Fábrica Festival – Sorocaba – SP