“Intrigante” é a palavra ideal para definir a mais recente passagem do New Order por São Paulo, na última quarta-feira (28).
A banda, que nasceu das cinzas do Joy Division após o suicídio do vocalista Ian Curtis em 1980, voltou ao Brasil neste ano para apresentar canções clássicas e mais recentes, incluindo de seu último disco Music Complete (2015). O show, entretanto, foi uma experiência curiosa de se assistir.
Enquanto o público ainda chegava ao Espaço das Américas — vale citar que os ingressos estavam esgotados –, DJs esquentavam o palco e o clima era de descontração. Normal, afinal essa parecia ser a intenção, de qualquer forma. Ah, e o set estava muito bom também. O que aconteceu, porém, é que grande parte da plateia parece não ter percebido que às 22h em ponto começou o show da atração principal daquela noite, pela qual a maioria pagou bem caro para ver. Para se ter uma ideia, o ingresso para o camarote open bar estava saindo pela bagatela de mil reais, sem direito a meia-entrada.
Dando uma volta pelos setores da casa — a credencial de imprensa costuma permitir esse tipo de regalia –, a atenção estava totalmente dispersa, a conversa alta, muitos pareciam estar colocando o papo em dia com amigos, os bares completamente lotados, como se os hits do New Order fossem mera música de fundo em uma festa. Os fãs mais apaixonados e de fato interessados pela apresentação estavam nas primeiras fileiras, de olhos grudados (e marejados) no grupo enquanto cantavam alto todas as canções.
A quase indiferença podia ser notada inclusive após o término de cada música, já que os gritos eram tímidos. Para alguém que já viu um show do Harry Styles repleto de adolescentes no mesmo lugar, as manifestações mais pareciam sussurros.
É certo dizer que cada um tem seu modo de curtir um show e o total direito de fazê-lo como bem entender, já que está pagando pelo ingresso. Mas não consigo não comparar a noite com uma confraternização de fim de ano de uma empresa, com uma banda tocando alguns covers no palco enquanto centenas de funcionários conversam sobre tudo, menos a apresentação em si. Ou, neste caso, mal prestam atenção nela.
E o New Order?
À frente de fãs e um público disperso, o New Order mostrou que está acomodado em uma zona de conforto difícil de quebrar. Sem muita conversa ou sorrisos, a banda passou quase que mecanicamente por seu setlist, muito bem ensaiado por sinal.
O frontman Bernard Sumner foi bastante simpático com seu público, apesar de estar mais concentrado em sua guitarra do que qualquer outra coisa. Algumas poucas dancinhas vieram do baixista Tom Chapman, o mais animado, mas nada muito exagerado. De qualquer forma, é preciso dizer também que o New Order não precisa de muito mais esforço. Com um set contendo canções como “Bizarre Love Triangle”, “Singularity”, “Age Of Consent”, “Ultraviolence” e “Blue Monday”, o show está feito.
Depois do bis, a banda ainda mandou os sucessos do Joy Division, “Disorder”, “Atmosphere” e “Love Will Tear Us Apart”, que encerrou a apresentação — agora sim arrancando gritos e aplausos bem mais expressivos da plateia.
Com 40 anos de carreira, o New Order se mostrou consolidado e confortável em sua posição, algo que ainda funciona estranhamente bem.