Entrevistas

Conversamos com Julien Barbagallo, que esteve no Brasil recentemente apresentando novo disco

Julien Barbagallo, baterista do Tame Impala nos shows da banda, tem uma carreira solo e veio ao Brasil para uma série de shows. Leia entrevista exclusiva.

Barbagallo, baterista do Tame Impala, anuncia shows no Brasil
Foto: Divulgação

Julien Barbagallo é um músico francês bastante talentoso que desde 2012 acompanha Kevin Parker como baterista do Tame Impala nos shows da banda.

No meio tempo, ele tem uma carreira solo prolífica onde mostra canções voltadas ao folk, indie e música psicodélica, cantando tudo em Francês e criando atmosferas das mais belas em discos como Danse dans les ailleurs, lançado em 2018.

Recentemente o músico esteve no Brasil para tocar em shows e festivais e nós conversamos com ele a respeito da carreira, política, processo criativo, Tame Impala e mais.

Leia nossa entrevista exclusiva logo abaixo.

 

TMDQA!: Olá Julien! Obrigado por nos receber. Seu último disco solo, Danse dans les ailleurs saiu esse ano e mostra uma mistura de folk e música psicodélica. Quais foram as principais inspirações por trás do disco?

Julien Barbagallo: Nesse disco eu acho que a inspiração veio das músicas que eu ouvia quando era mais novo, quando era um jovem adulto. Bandas como Flaming Lips, Super Furry Animals e Belle And Sebastian tiveram uma grande influência na forma como eu penso em música. Elas são bastante melódicas e inventivas quando o assunto gira em torno dos arranjos e da produção.

 

TMDQA!: Você tem tocado como baterista do Tame Impala nos shows já há algum tempo e a banda foi de um grupo de seguidores menor, que a viam com status de “cult”, até grandes públicos ao redor do mundo. Qual foi a influência dessas experiências nas suas novas músicas? Você acha que a sua carreira solo tomaria um rumo diferente se não fosse por esse outro lado da sua vida como músico?

Barbagallo: As duas carreiras estão conectadas e interagem uma com a outra o tempo todo. Trabalhar com os caras do Tame Impala é muito inspirador porque eles compõem e gravam o tempo todo, têm várias ideias e são muito proativos. Nesse tipo de situação você não tem outra opção a não se tornar proativo também. É uma energia muito positiva.

Desenvolver a minha carreira solo também é uma boa maneira de equilibrar as coisas. No Tame Impala eu não tenho muito input criativo então é importante que eu tenha um espaço onde eu possa desenvolver as minhas próprias ideias e minha própria criatividade para que eu me sinta recompensado como artista.

TMDQA!: Nós vimos você tocando no Festival Se Rasgum em Belém e foi muito legal a forma como você fez questão de explicar sobre o que cada canção fala, em Inglês, já que as letras são todas em Francês. Como é se comunicar com o mundo através da sua língua? Você já pensou em compor em Inglês?

Barbagallo: Eu costumava compor em Inglês mas eu só tocava para plateias francesas e depois de um tempo eu pensei, “isso é idiota”. Então comecei a compor em Francês. E agora eu toco para plateias ao redor do mundo! É bastante irônico. Ao final das contas a conexão acontece não importa que língua você use porque a música é uma linguagem universal. Quando eu era jovem eu chorava ouvindo músicas em Inglês cujas letras eu não entendia nem um pouco. Algo acontecia no meu coração de qualquer forma.

 

TMDQA!: Também no Se Rasgum você falou sobre as recentes eleições no Brasil e como o mundo todo está tomando um caminho pela direita, e comentou sobre como todos estamos juntos e deveríamos ser resistência, já que esses políticos muito provavelmente irão governar a favor de grandes corporações e são vistos como inimigos das minorias. Qual você acha que é o papel da música em tempos sombrios como os que vivemos? Po rque você acha que tantos países ao redor do globo, com diferentes culturas, línguas e pessoas, escolheram o mesmo caminho?

Barbagallo: Eu não tenho as ferramentas para entender tecnicamente o que está acontecendo no mundo hoje em dia. É mais um sentimento do que uma análise. Eu acho que estamos em uma encruzilhada crucial na história humana e precisamos encontrar novas formas de vivermos juntos para criarmos igualdade. Tudo que eu sei é que precisamos de mais compaixão e tolerância do que nunca. O sistema em que vivemos espalha medo, pobreza e desigualdade em todo planeta.

A música é uma grande forma de nos sentirmos conectados novamente e sentirmos que somos uma coisa só.

TMDQA!: Quando ouvimos falar a respeito de projetos paralelos envolvendo bateristas em bandas conhecidas, eles normalmente tocam outros instumentos como guitarra ou baixo enquanto cantam. Você continua tocando bateria e canta ao mesmo tempo, o que pode ser bem desafiador. Foi uma decisão natural continuar tocando bateria como artista solo?

Barbagallo: Eu escrevo todas as minhas músicas na guitarra e gravo todos os instrumentos em estúdio. No palco eu poderia tocar guitarra (já fiz isso no passado) mas achei que seria uma coisa mais interessante para as pessoas assistirem a um baterista que canta ou um vocalista que toca bateria. É bem raro. Para mim é natural porque é o instrumento que eu aprendi quando criança e eu não preciso incomodar outro baterista ou outra baterista falando como se tocam as canções.

 

TMDQA!: Se você pudesse deixar uma mensagem a respeito de suas músicas e seu último álbum, tentando resumi-lo para as pessoas que não falam Francês, qual seria?

Barbagallo: Eu amo melodias então tento criar músicas que você pode aproveitar mesmo que não entenda Francês. Sobre as letras, elas são bastante abertas, às vezes até abstratas. Eu quero que as pessoas sigam seu próprio caminho quando ouvem as minhas músicas. Para resumir eu diria que a minha música é para todos. Não importa se a plateia fala Francês ou não, eu sei que nos divertiremos juntos!