Lançamentos

Comemorando seu aniversário, Baco Exu do Blues lança seu álbum no RJ

Casa lotada, rodinhas e um público que sabia todas as letras de cor foram a visão de Baco Exu do Blues para sua apresentação no Circo Voador.

Baco Exu do Blues no Circo Voador
Foto: Fernanda Tiné

Não é exagero algum falar que Baco Exu do Blues é um dos nomes mais relevantes da atual cena do rap nacional.

Em dois anos seguidos, o rapper baiano fez lançamentos que ganharam destaque na cena musical brasileira. Não à toa, ele apareceu entre os 10 melhores nas nossas listas de fim de ano, tanto na de 2017 quanto na do ano passado.

Na última sexta (11/01), Baco subiu no palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro, para apresentar aos cariocas a experiência ao vivo de seu aclamado novo álbum, Bluesman, justamente no dia em que completou 23 anos de idade.

Estivemos lá e vamos contar como foi. Spoiler: a apresentação teve rodinhas animadas e frenéticas e uma troca de energia surreal entre o artista e seu público.

 

O álbum na íntegra

Bluesman é um álbum completo em termos de conceito e mensagem. Na apresentação, foi notável a preocupação de não apenas entreter o público com os beats dançantes propostos pelas músicas. A mensagem tinha que ficar bem clara.

Isso já ficou perceptível desde o início da apresentação. O telão, que teve muita importância para a parte visual do show, começou com trechos do filme oficial lançado por Baco em seu canal do YouTube. A curta exibição terminou em casamento perfeito com o ápice da euforia do público ao ouvir as notas de “Mannish Boy“, originalmente gravadas por Muddy Waters. Era a introdução da faixa-título, que previsivelmente seria responsável pela abertura do show.

A narrativa proposta pelo álbum foi mantida e transposta para a apresentação de uma maneira que ninguém colocasse defeito. Baco não fez isso sozinho, já que o telão e os músicos de apoio deram grande profundidade às canções.

Por falar em narrativa e em músicos de apoio, um grande destaque vai para Ricardo Caian, que foi responsável pela guitarra. Para o contexto de Bluesman, importante a presença de um guitarrista no palco. Lá estava ele, um homem com sua guitarra afastado no canto esquerdo, simbolizando os solitários homens do blues. Caian ganhou destaque como o único instrumentista no palco, a exemplo do solo da música “Flamingos“, em que arrancou aplausos do público.

Baco Exu do Blues no Circo Voador
Ricardo Caian. Foto: Fernanda Tiné

 

“Facção Carinhosa” “EI, EI”

Parece meio óbvio sinalizar isso, mas nenhum show fica bom se o público não responder bem. É justamente a troca de energias que faz uma apresentação ganhar destaque. Foi o que aconteceu no Circo na última sexta.

Baco, por exemplo, não precisou cantar alguns dos versos iniciais da faixa-título. Eles estavam na ponta da língua de seus fãs, que cantaram de cor. Cantaram tudo, todas as músicas. Desde as mais recentes, como “Minotauro de Borges” até canções de seu primeiro álbum que tiveram mais tempo para serem decoradas, como “Abre Caminho“.

Baco não foi muito de parar para conversar com o público. Aliás, a intensidade da apresentação não permitiu isso. Grande parte do diálogo com seu público se deu através do grito “Facção Carinhosa”, assinatura que o rapper faz em quase todas as suas músicas. O público, eufórico, complementava com um “ei, ei”, que nunca perdia a potência ou o volume.

A energia era tanta que o corpo precisava extravasá-la. Não tinha como ficar quieto ou parado. Mesmo que não soubesse a letra, você era consumido pela energia, pelos beats, pelo carisma de Baco ou pelo público eufórico.

Baco Exu do Blues no Circo Voador
Foto: Fernanda Tiné

Melhores momentos

Baco entende a profundidade das próprias músicas e captou o que as pessoas do Circo queriam. Já na segunda metade da setlist, o rapper soube que a energia acumulada pelo público, depois de performances de faixas como “Esú” e “Girassóis de Van Gogh“, precisava ser extravasada.

Foi a deixa para que ele mesmo incentivasse uma explosão do público, durante a reconhecível introdução de “Abre Caminho”. Diante dele, abriu-se uma rodinha gigante que ficou ativa até o final do show.

Como já dito antes, o público ganhou destaque por seu protagonismo em meio ao show. Para parabenizar o aniversário de Baco, foi cantada a cantiga popular “Parabéns Para Você“, antes mesmo do início do show, e outra vez após a performance de “Queima Minha Pele“.

As participações também merecem destaque. 1LUM3, tal como no álbum, participou da performance da incrível “Me Desculpa Jay-Z“. Mas a surpresa que levou o público ao delírio foi a de “Flamingos“, que seguiu a gravação original ao contar com a participação de Lio e Lay Soares, da banda Tuyo. Uma participação que fez falta foi a de Tim Bernardes em “Queima Minha Pele“, mas os vocais do refrão foram muito bem substituídos por Caian.

 

“Já acabou?”

Não podemos omitir o único problema do show: a duração. Mas não é uma crítica, já que era um show da turnê de um novo álbum que tem exatos 30 minutos de duração.

Músicas do álbum Esú foram tocadas para ampliar a setlist, que somaram em um total de pouco mais de uma hora de show. Foram “Abre Caminho”, a faixa-título e o hit “Te Amo Disgraça“. Mas isso foi feito de uma forma delicada que não interferisse na narrativa do álbum e, portanto, do show.

O show foi encerrado, tal como é o álbum, como a música “BB King“. Logo após a performance, os créditos do filme de Bluesman subiram no telão, conforme Baco e companhia deixavam o palco. Parte do público permaneceu embaixo da lona esperando uma volta triunfal, mas não tiveram as expectativas correspondidas. Não teve bis nem nada. Mas talvez fosse o certo encerrar por ali mesmo. Aliás, se a ideia era valorizar Bluesman, e o álbum foi tocado inteiro, o bis seria com uma música já tocada?

A questão é que o público se mostrava pronto para mais: para mais músicas, mais rodinhas e mais Baco. A impressão geral foi que o show, apesar de incrível, passou rápido demais. Mas a situação condiz exatamente com aquele ditado que diz que “o tempo passa rápido quando a gente se diverte”.

Obrigado, Baco! Em meio a este calor infernal de verão, os cariocas puderam se sentir de alma lavada.

Confira abaixo fotos da apresentação e a setlist completa:

Setlist Baco Exu do Blues no Circo Voador (11/01):
1 – “Bluesman”
2 – “Queima Minha Pele”
3 – “Esú”
4 – “Flamingos” (part. Tuyo)
5 – “Girassóis de Van Gogh”
6 – “Te Amo Disgraça”
7 – “Abre Caminho”
8 – “Minotauro de Borges”
9 – “Kanye West da Bahia”
10 – “Me Desculpa Jay-Z” (part. 1LUM3)
11 – “Preto e Prata”
12 – “BB King”