Anthony Green nos fala sobre retorno ao Saosin: "tem que ser 100% divertido"

Conversamos com Anthony Green, vocalista do Saosin, sobre rituais pré-show, sua relação com o ex-vocal Cover Reber e a dinâmica da banda em 2019.

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Foto: divulgação

Um dos principais nomes da cena do emo/post-hardcore norte americano desde o início dos anos 2000, o Saosin está prestes a desembarcar no Brasil para a sua primeira turnê sul americana, como noticiamos aqui no TMDQA! em Agosto do ano passado.

O quarteto vem ao nosso continente no início de Fevereiro para tocar músicas de todos os seus discos e promover o álbum Along The Shadowo primeiro com o vocalista Anthony Green de volta à formação da banda desde 2004.

O carismático frontman, dono de uma voz aguda singular com um alcance invejável, já havia falado conosco sobre polarização política, música clássica e a segunda vinda do Circa Survive ao Brasil em entrevista que rolou em Setembro do ano passado. Essa semana, mais uma vez ligamos para Anthony para relembrar os momentos vividos no Brasil em 2018 e saber mais sobre todo o vai-e-vem na carreira do Saosin, relações recém-solidificadas com o antigo vocalista Cover Reber e expectativas para a estreia da sua banda original em terreno sul americano.

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TMDQA: E aí Anthony, tudo bem? Já com saudades daqui?

Anthony Green: Bom falar com vocês de novo! Estou muito bem, obrigado. Empolgado por poder retornar ao Brasil.

TMDQA: Agora que já se passaram alguns meses desde os shows do Circa Survive no Brasil, quais foram os sentimentos que ficaram após essa segunda passagem pelo nosso continente? 

Anthony Green: Nós nos divertimos muito, adoramos tocar na América do Sul. Os shows sempre são incrivelmente empolgantes.

TMDQA: Dessa vez você vêm ao país com o Saosin, após um retorno à formação como vocalista, e também será responsável por abrir os shows com o seu material solo. Como você lida com a mudança de dinâmica entre esses dois projetos e o Circa Survive? Quais são as diferenças e semelhanças entre cada um?

Anthony Green: Eu acho que tudo que envolve as duas bandas é muito diferente, mas a energia é comparável. Eu diria que a energia das performances com o Saosin é muito mais pra cima, consistente e às vezes os shows se tornam mais intensos. Acho que essa intensidade dos shows não se traduz muito na estética das performances, mas sim no que diz respeito à música ser mais rápida, agressiva, então o andamento do show é mais intenso. A energia emocional nas performances das duas bandas é muito similar.

TMDQA: O Saosin tem um som um pouco mais “agressivo” mesmo, quando comparamos com a sonoridade do Circa Survive, que é mais melódica e tem todo esse clima das ‘ambiências’ que vocês criam ao vivo.

Anthony Green: Exato, concordo totalmente.

TMDQA: Vocês já estão vivendo esse ciclo do último álbum, Along The Shadow, há 3 anos.  Como tem sido a resposta da cena, dos críticos e dos fãs desde o seu lançamento até hoje, tanto nas mídias sociais quanto pessoalmente, em shows e meet & greets ao redor do mundo?

Anthony Green: Todo mundo com quem eu conversei, e isso pode ser meio tendencioso já que não conheço tanta gente assim, mas as pessoas parecem ter gostado muito. Eu falo como um fã da banda, e eu era um fã do Saosin enquanto o Cover [Reber] era o vocalista, e sou um admirador do som que a banda faz em geral. Como eu vivi o ponto de vista de um outsider dessa formação por um tempo, eu quis fazer um disco do qual eu me orgulhasse , como um fã — e hoje eu me sinto orgulhoso do que construímos.

TMDQA: Você pode nos contar um pouco mais sobre os desafios na gravação desse disco, levando em consideração que você estava vindo de um hiato na formação do Saosin desde 2004  e que nesse meio tempo a banda ainda perdeu um guitarrista [Justin Shekoski, também ex-The Used]?

Anthony Green: O louco é que foi muito parecido com a forma que gravamos o nosso primeiro EP [Translating The Name, 2003] juntos. Beau [Burchell, guitarra] escreveu todo o instrumental daquele primeiro EP, e ele e o Chris [Sorenson, baixo] escreveram todas as músicas do último disco. Justin nunca chegou a compor com a banda, ele só chegava para gravar e tocava muito em cima do que já tinha sido escrito. Então nós acabamos escrevendo muitas músicas dessa forma: os caras me mandavam uma ideia, e ao invés de estar com eles lá na Califórnia em um estúdio de madrugada, eu gravava de um estúdio local com o meu produtor, Will Yip, aqui onde moro, fazendo vocais para umas músicas e enviando de volta para eles.

Então foi assim que gravamos o disco, tiramos um tempo para nós durante o verão e aproveitamos esse processo de ficar enviando faixas um para o outro.

TMDQA: E qual é a sua “sede” hoje em dia, onde fica o seu estúdio?

Anthony Green: O estúdio onde eu gravei é o Studio 4 na Filadélfia e é um lugar incrível. Eu tento ir lá sempre que posso, o Will ou algum outro produtor fica trabalhando com outros artistas ao longo do dia e ele tenta encaixar um horário para mim sempre que está disponível à noite – se isso não for matar ele de cansaço, é um cara ocupado.

TMDQA: Mas a banda nunca se reuniu por completo presencialmente para gravar durante essas sessões do Along The Shadow?

Anthony Green: Ah claro, nós escrevemos algumas músicas juntos antes de tudo começar. Eu fui para a Califórnia fazer alguns shows com eles e nós começamos a escrever ali músicas que acabaram entrando para o disco como “Control and The Urge To Pray” ou “Illusion & Control”, alguma delas. A primeira música que eu escrevi [para esse disco] foi durante um ensaio. Estávamos ensaiando e eles me mostraram essa ideia nova que ainda não tinha vocais e disseram ‘ei, a gente tava brincando com essa ideia aqui e queríamos saber onde você consegue chegar com ela’, eu comecei a escrever a letra na hora e rolou, foi muito divertido.

TMDQA: Eu perguntei isso porque me parece sempre melhor quando todos estão no mesmo espaço físico na hora de gravar. Às vezes você está gravando uma linha de vocal e o guitarrista fala “uhm…acho que isso não está funcionando. E se fosse em outro tom?” ou algo assim, mudando a dinâmica da gravação.

Anthony Green: Eu concordo totalmente com você, definitivamente existe uma energia que fica faltando quando não estão todos lá fisicamente. Mas existe algo muito legal também em todos poderem ter o seu próprio espaço para tentar coisas diferentes de forma criativa, e todos estavam encorajando isso o tempo inteiro. A música começava finalmente a tomar forma e todos amavam o resultado, então foi uma experiência muito positiva ao mesmo tempo.

TMDQA: Após a saída do [ex-vocalista] Cover Reber, o Saosin passou por várias especulações até fechar negócio com o seu retorno. Tiller Pearson [Tides of Man] queria muito o emprego, houve especulação sobre Charles Furney [Secret and Whisper] assumir a sua função também. Mesmo quando você voltou a cantar com a banda, levou um tempo até que oficializassem o seu retorno. Foi um processo estranho de alguma forma, ou a decisão de retornar ao Saosin foi fácil de ser tomada?

Anthony Green: Não existiu um processo, nós meio que só voltamos para tocar alguns shows. Não estávamos cogitando virar uma banda de novo ou gravar um disco. Tudo meio que acabou acontecendo de um jeito orgânico. Não existiu um momento onde alguém virou e falou “e aí, isso é oficial agora?”. Nós só estávamos tocando, em algum ponto alguém disse “seria bem legal fazer mais disso”, eu só concordei e todos nós nos conectamos de um jeito que não havia a necessidade de dizer isso com palavras. A ideia de gravar um disco veio da mesma forma com que ela sempre surge, é tão divertido tocarmos música juntos que isso só acaba acontecendo.

A pressão foi zero para fazer isso, nós só fizemos porque era divertido. Ninguém tinha que fazer isso. Mesmo agora com as turnês, ninguém foi obrigado a participar delas. Nós quisemos ir pra América do Sul tocar, porque a energia é demais, os fãs são malucos e incríveis, mesmo que só tenham 20 pessoas lá o show vai ser doido e o melhor que você já tocou na vida, então o Saosin tem que ser assim: 100% divertido pra gente. Nunca será aquela banda que é focada na carreira comercial e tenta ser conceitualmente gigantesca com algum propósito maior que a música, é só um projeto incrivelmente divertido no qual nós podemos pular, tocar hardcore e transmitir bons sentimentos.

TMDQA: E a nossa percepção de fora é que Saosin tem sido assim mesmo, desde o início.

Anthony Green: Exato! Na verdade é até melhor agora do que sempre foi, porque temos a vantagem de termos evoluído em uma relação que já foi muito complicada no início, e agora como adultos temos esse sentimento de gratidão uns pelos outros. Quando nós voltamos, havia esse sentimento incrível onde nós estávamos muito felizes pelo simples fato de ainda podermos tocar e fazer música juntos, e ainda é assim todo dia. Eu creio que Beau e Chris acharam que não teriam mais uma banda, eu achava que jamais tocaria essas músicas de novo e elas significam muito pra mim. Creio que o fato de todos nós termos nos reconectado nesse momento das nossas vidas e podermos ter um projeto musical divertido que criamos e nutrimos ao longo dos anos, juntos ou separados, é algo que nos torna muito sortudos.

TMDQA: Em Dezembro do ano passado durante shows comemorativos de fim de ano, o Cover [Reber, ex-vocalista do Saosin] se uniu a vocês no palco para uma performance das músicas “You’re Not Alone” e o clássico “Seven Years”. Como foi que isso aconteceu?

Anthony Green: Nós estávamos planejando alguns shows e ficamos sabendo que o Cover estava prestes a lançar uma banda nova [Dead American] e seria legal se eles tocassem com a gente. Fizemos vários shows na Califórnia ano passado e nós acabamos tocando uma das músicas que ele havia gravado com o Saosin e foi muito divertido, algo com o qual eu me conectei muito. Como eu sou um fã do Saosin também, não só o vocalista, eu queria ver ele ali cantando e dando a sua contribuição. Voltando ao tema de estarmos mais velhos, mais maduros, nós dois conseguimos deixar pra trás muitas coisas que estavam acontecendo, que envolviam o relacionamento dele com a banda, o meu relacionamento com a banda, e nos focamos em celebrar a música juntos, como pessoas que podem olhar a situação de uma perspectiva única e externa: a de estar na banda, depois ser removido dela, observar a banda do lado de fora, do público, e depois poder voltar pra dentro da formação de novo, tocando.

Eu não me surpreenderia se nos uníssemos de novo para tocarmos mais músicas juntos. Estamos sempre abertos a evoluir e fazer coisas novas. Ele [Cover] é um cara incrível e me sinto feliz em poder ter me conectado com ele.

TMDQA: Como mencionamos antes, você vai dividir essa turnê entre o seu material solo na abertura dos shows do Saosin. Esse material será acústico somente com você no palco ou haverão outros músicos acompanhando? O que podemos esperar?

Anthony Green: Não, vai ser só eu tocando. Acho que vai ser um jeito mais suave e tranquilo de iniciar a noite, uma forma boa para eu poder aquecer a minha voz. E de uma forma bem egoísta, estou feliz por poder tocar minhas músicas para as pessoas que estarão lá nos shows.

TMDQA: Você tem uma das vozes agudas com mais personalidade que conheço, e tem um alcance vocal bastante invejável, além de gritar um bocado no Saosin. Quais são os “rituais de manutenção” que você tem que fazer para não danificar suas cordas vocais antes de cantar por uma hora e meia toda noite?

Anthony Green: Não fale muito, tente comer alimentos saudáveis, acho que não beber nem fumar são sempre hábitos bons, ter uma boa noite de sono ajuda bastante você a manter a sua voz.

TMDQA: Vocês supostamente tocarão músicas de todos os discos nessa turnê. Isso envolve as que não tiveram os vocais gravados por você?

Anthony Green: Muito possivelmente. Eu não quero estragar as surpresas, mas provavelmente, sim.

TMDQA: Agora que eu imagino que o ciclo do Along The Shadow esteja chegando ao fim, quais são os planos para o Saosin em 2019? Além das turnês, vocês lançarão algum material inédito?

Anthony Green: Esse ano de 2019 para o Saosin vai ser muito tranquilo. Eu não posso dizer exatamente o que estamos planejando, porque paralelamente tem muito material novo sendo preparado com o Circa Survive, mas quando a hora chegar, haverão mais músicas novas do Saosin em algum momento no futuro. Eu não sei dizer quando, mas vamos deixar rolar e tirar o nosso tempo para criá-las.

TMDQA: Anthony, foi um prazer falar com você de novo e mal podemos esperar para vê-lo em ação com o Saosin aqui no Brasil mês que vem.

Anthony Green: O prazer foi todo meu. Se cuidem e vemos vocês nos shows em breve.

Saosin + Anthony Green no Brasil – Tour 2019

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