Resenha: Weezer desafia chatice da indústria no disco de covers "The Teal Album"

Ao dar sua cara para clássicos de Michael Jackson, Black Sabbath e A-Ha, Weezer quebra várias fórmulas da indústria, se diverte e nos diverte. Leia resenha.

Weezer - The Teal Album

Em 1994 a banda norte-americana Weezer, de Los Angeles, lançou seu disco de estreia homônimo e rapidamente entrou para a história do rock alternativo.

Com sons como “Buddy Holly”, a espetacular “Say It Ain’t So” e “Undone – The Sweater Song”, o vocalista, guitarrista e compositor Rivers Cuomo soube liderar o grupo no tortuoso caminho do rock considerado mais “cabeçudo” e apresentou composições que não apenas marcariam época como também seriam entoadas com entusiasmo até hoje.

Pois bem, 25 anos após a sua estreia o Weezer poderia estar sentado no trono onde muitos outros artistas de sucesso nos Anos 90 estão, sem se mexer muito para chacoalhar a discografia, mas definitivamente esse não é o caso da banda.

De lá pra cá vieram mais dez discos de estúdio e em cada um deles o Weezer decidiu fazer o que bem entendia, significasse isso mais grandes obras como Pinkerton (1996) e Weezer (White Album) (2016) ou desastres completos como Make Believe (2005), Raditude (2009) e Hurley (2010).

Para o bem ou para o mal, o grupo estava se mantendo movimentado e ao invés de experimentar em casa ou no estúdio, gravando demos e as engavetando, preferiu mostrar toda a sua trajetória ao público, quebrando um dos grandes paradigmas da indústria que adora ditar regras e fórmulas para o “sucesso” de seus artistas.

Quem acompanha o Instagram de Rivers Cuomo sabe muito bem que ele é fã da zoeira, postando memes todos os dias, e pode parecer bobagem, mas seu perfil por lá traduz muito de como ele conduz a carreira da sua banda que antes era vista como “intelectual”.

Prova disso é Weezer (The Teal Album), um disco de covers que acabou de ser lançado e já é um dos melhores álbuns do ano.

Aqui, outras regras da indústria foram quebradas: primeiro, o disco foi lançado sem aviso prévio, depois, foi numa Quinta-feira ao invés da Sexta-feira que virou regra para todo novo álbum, e por fim, o Weezer já afirmou que irá lançar um disco de inéditas em 2019 com Weezer (Black Album) e mesmo assim não se importou nem um pouco de “atrapalhar” seu processo de divulgação com 10 covers que dariam o que falar.

Tudo começou quando uma fã da banda criou uma campanha para que o Weezer regravasse “Africa”, hit da banda Toto nos Anos 80, e deu mais que certo. Os caras gravaram, lançaram, fizeram edição limitada em vinil e ainda voltaram às paradas pela primeira vez em longos anos por causa do som.

Aparentemente veio daí a ideia de novas versões e o que ouvimos em The Teal Album é um conjunto do que há de melhor em diversas décadas gloriosas da música no passado.

Se mandou bem em “Africa”, o Weezer mandou ainda melhor em “No Scrubs”, hit pop do TLC e em “Happy Together”, do The Turtles, que aqui virou um verdadeiro épico.

A voz incrível de Rivers se encaixou bem demais em clássicos como “Everybody Wants To Rule The World” (Tears For Fears) e “Sweet Dreams (Are Made Of This)” (Eurythmics), além de “Take On Me” do A-ha.

A banda seguiu à risca os arranjos originais das canções e o que foi visto por muitos como falta de criatividade na verdade foi mais um acerto da banda, que só pelo fato de colocar suas guitarras, vozes e toda a aura do rock alternativo que a cerca em covers de canções tão populares, as executando tão bem, já fez um dos melhores discos de covers dos últimos tempos.

Há ainda espaço para uma versão de “Paranoid”, do Black Sabbath, com o guitarrista Brian Bell nos vocais, e o disco chega ao fim com a dançante “Billie Jean” (Michael Jackson) e o hino que é “Stand By Me”, de Ben E. King.

Weezer (The Teal Album) é, como foi o recente White Album, mais um acerto do Weezer no meio de tantas ideias que parecem deixar Rivers Cuomo e sua trupe inquietos, brincando, tocando e gravando todos os dias sem se importar com as críticas.

É prova de que a banda faz o que ama, e não o que os fãs saudosistas amam e ficou pra trás lá no início da carreira, ao mesmo tempo em que usa sua reputação para arriscar, desafiar e deixar bem claro que quem conduz as suas carreiras são eles. Sejam os músicos nerds das capas de Blue Album e Green Album ou a versão norte-americana do Choque de Cultura na capa de Teal Album.

Ao se divertir, o Weezer nos divertiu também em um disco de covers que poderia muito bem ser a playlist ideal de um DJ em uma deliciosa festa retrô.