Paul McCartney é uma lenda e não há nenhuma dúvida quanto a isso.
Só o fato de citar seu nome já é suficiente para que ingressos sejam vendidos no mundo todo e seus novos lançamentos, mesmo que longe de causar o impacto que tiveram nos anos 60 e 70, sejam comentados pelos principais veículos de notícia do planeta.
E se isso lhe garante um posto um tanto quanto cômodo, ao mesmo tempo parece não fazer a mínima diferença para um artista que aos 76 anos de idade ainda tem vigor para tocar quase 40 músicas no palco em duas noites seguidas.
Ontem à noite (28), Paul McCartney fez o segundo show da turnê Freshen Up no Brasil, novamente em São Paulo, antes de encerrá-la em Curitiba no dia 30, e por lá mostrou que o nome do atual giro pelo mundo faz todo sentido: mesmo com quase 80 anos, Macca quer dar um novo frescor à sua carreira.
Paul McCartney em São Paulo
Tendo lançado o décimo sétimo disco solo da carreira há pouco mais de seis meses com Egypt Station, Paul McCartney poderia chegar aqui e fazer o Allianz Parque inteiro ficar rouco de tanto cantar uma série de hits dos Beatles do início ao fim, durante duas ou três horas. Seria épico, seria histórico, seria emblemático, mas seria mais do mesmo.
Paul mostrou e deixou bem claro que não é isso que o move hoje em dia, e fez um setlist onde apresentou diversas canções do último álbum, várias outras de diferentes momentos da carreira solo, do Wings e também sons dos Beatles que não são lá grandes sucessos populares, como “Being For The Benefit of Mr. Kite!”, por exemplo.
Sempre falando em Português com o público, Paul convocava “os manos” e “as minas” para gritar e cantar. Apresentava “mais uma música nova” e relembrava os saudosos colegas de banda, George Harrison e John Lennon, dedicando canções e dizendo que elas eram “para meu amigo George” e “para meu amigo John”.
Em um desses momentos, inclusive, Paul mostrou que apesar de toda naturalidade e carisma ainda tava em um certo modo “automático”, quando agradeceu Harrison por ter escrito “Being For The Benefit of Mr. Kite!” e prontamente se corrigindo, falando que na verdade gostaria de agradecê-lo pela próxima música, “Something”.
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Além do setlist que divide opiniões, já que em momentos como as faixas solo mais recente a imensa maioria do público fica dispersa, outros elementos que deram frescor ao show de Paul foram um trio de metais que começou tocando no meio da plateia, uma homenagem a Jimi Hendrix e as recorrentes mas diferentes participações dos outros músicos de sua banda, como o baterista Abe Laboriel Jr. que ganha espaço em outras frentes e se junta a todo resto da banda para os vocais incríveis de “Eleanor Rigby” enquanto Paul entoa a canção dos Beatles.
Foi quando se lembrou das origens do quarteto de Liverpool tocando “In Spite Of All The Danger”, primeira música do The Quarrymen, grupo que daria origem aos Beatles, que as coisas começaram a ficar cada vez mais explosivas.
Já se passavam 17 canções e sons como “A Hard Day’s Night” e “Can’t Buy Me Love”, tocadas no início do set, quando veio “Love Me Do” e uma verdadeira enxurrada de apresentações brilhantes como “Blackbird”, descrita como uma música sobre direitos humanos pelo próprio artista e tocada em um posto elevado do palco, “Lady Madonna”, a já citada “Eleanor Rigby”, “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, que transformou o estádio em uma festa, “Band On The Run” (Wings), “Back In The U.S.S.R.” e a trinca absoluta de “Let It Be”, “Live And Let Die” e “Hey Jude”.
Enquanto a primeira teve uma participação (literalmente) brilhante da plateia com as luzes dos smartphones, a segunda contou com os tradicionais e impactantes fogos de artifício (que falharam na noite anterior) e a terceira teve um flashmob com cartazes que diziam “Na Na” e foram espalhados por uma patrocinadora do show.
O Bis ainda contou com uma bela homenagem ao tecladista Paul “Wix” Wickens, que estava fazendo aniversário na noite de ontem e veio com um “Feliz Aniversário” além de “Birthday”, dos Beatles.
Ao contrário de uma ou duas músicas protocolares no “repeteco” do show, Paul mandou ver em seis e veio com seu arsenal de Beatles ligado, tocando sons como “Helter Skelter”, “Carry That Weight” e finalizando com “The End”.
É repetitivo e às vezes parece até que é falar sobre o óbvio, mas não dá pra deixar passar batido o fato de que um dos maiores compositores e multi-instrumentistas da história, com quase 80 anos de idade, ainda está fazendo shows de 40 músicas e não dá sinais de que vá parar.
Se muitos se questionam a respeito das suas motivações, já que fama e fortuna não são problemas, ontem à noite o show em São Paulo deixou tudo bem claro: Paul McCartney se alimenta e se abastece das reinvenções de suas próprias canções. Do novo. Do fresco. E assim segue nos brindando com apresentações memoráveis que, ao mesmo tempo em que nos lembram dos sucessos do passado, colocam crianças, adolescentes, adultos e senhores de idade em contato com o que há de mais sensacional no Rock And Roll: guitarra, baixo, bateria e um grande espetáculo.
Sir Paul McCartney, tá liberado voltar todo ano, sim senhor.
Setlist
- A Hard Day’s Night (The Beatles)
- Junior’s Farm (Wings)
- Can’t Buy Me Love (The Beatles)
- Letting Go (Wings)
- Who Cares
- Got to Get You Into My Life (The Beatles)
- Come On to Me
- Let Me Roll It (Wings)
- I’ve Got a Feeling (The Beatles)
- Let ‘Em In (Wings)
- My Valentine
- Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
- Maybe I’m Amazed
- We Can Work It Out (The Beatles)
- In Spite of All the Danger (The Quarrymen)
- From Me to You (The Beatles)
- Dance Tonight
- Love Me Do (The Beatles)
- Blackbird (The Beatles)
- Here Today
- Queenie Eye
- Lady Madonna (The Beatles)
- Eleanor Rigby (The Beatles)
- Fuh You
- Being for the Benefit of Mr. Kite! (The Beatles)
- Something (The Beatles)
- Ob-La-Di, Ob-La-Da (The Beatles)
- Band on the Run (Wings)
- Back in the U.S.S.R. (The Beatles)
- Let It Be (The Beatles)
- Live and Let Die (Wings)
- Hey Jude (The Beatles)
Bis: - “Feliz Aniversário”
- Birthday (The Beatles)
- Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (The Beatles)
- Helter Skelter (The Beatles)
- Golden Slumbers (The Beatles)
- Carry That Weight (The Beatles)
- The End (The Beatles)
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