Resenha: Rammstein volta no auge com um dos melhores discos da carreira

Com suas já conhecidas bases de guitarras afiadas e baterias potentes, a banda alemã Rammstein soube ser criativa para falar de assuntos pessoais e críticos

Rammstein
Foto: Divulgação

10 anos é muito tempo. Há 10 anos esse site que você está lendo ainda nem existia, e só começaria as suas atividades em Junho. Há 10 anos você provavelmente era outra pessoa, com outra realidade e outros objetivos, e definitivamente o mundo era um lugar bem diferente do que vivemos.

Em 2009, a banda alemã Rammstein estava chegando ao sexto disco da carreira e deixava bem claro para o mundo todo que era um dos principais nomes do Heavy Metal, sempre com riffs afiados e características que separavam o grupo do resto dos seus pares.

Cantar em alemão nunca foi um problema, muito menos falar explicitamente de sexo e até gravar clipes oficiais com atores pornô: tudo isso era parte de um pacote que ainda incluía um show ao vivo absurdo, repleto de efeitos especiais, fogos de artifício e muita ação.

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Dez anos depois, o Rammstein está de volta com o primeiro disco homônimo da carreira, e talvez a ideia de batizá-lo com o nome da banda tenha sido uma das melhores para esse ciclo, já que o novo álbum representa demais as suas possibilidades e intenções.

Aqui, em seu sétimo lançamento, o Rammstein volta a mostrar suas guitarras precisas mescladas a batidas (eletrônicas ou não) que mergulham no metal industrial e apresentam ao ouvinte incursões tanto pela música pesada quanto por momentos dançantes com um apelo quase pop.

A sequência de abertura do álbum é avassaladora e mostra muito quem é a banda hoje em dia: “Deutschland” é uma canção que fala sem pudor sobre a turbulenta história da Alemanha, mostrando a relação de amor e ódio da banda com o seu país. “Radio” vem na sequência com suas guitarras à la System Of A Down e uma prova de amor à música, falando sobre como o rádio foi importante na vida dos integrantes. Impossível não ficar com o refrão grudado na cabeça.

“Zeig Dich” é um Rockão clássico que mostra a banda fugindo do industrial para fazer duras críticas à Igreja, comentando sobre como os religiosos pregam a salvação e cometem tantos pecados mundo afora, e a festa volta a dar as caras em “Auslander”, próxima faixa.

Aqui a gente consegue perceber o alto nível de produção do álbum, talvez um dos motivos pelos quais ele tenha demorado tanto tempo para sair. O cuidado com cada detalhe das canções é evidente, e a faixa que começa como uma verdadeira balada entra em trechos introspectivos rapidamente, para de repente, sem que você perceba, as guitarras aparecerem de novo. São quebras de momento e de conceito assim que fazem do novo disco do Rammstein um lançamento tão interessante.

Obviamente o sexo não poderia ficar de fora de um disco da banda alemã e ele chega em “Sex”, que antecede a excêntrica “Puppe”: se começa como uma balada, de repente a faixa se transforma em um lamento pesado e sombrio de alguém que está passando por sérios conflitos. É a natureza humana, mais uma vez, exposta com uma gigantesca lente de aumento.

“Diamant” é mais uma bela canção encaixada perfeitamente na tracklist para servir como uma ponte ao final que se aproxima e começa com “Weit Weg”, com uma espécie de ode à música eletrônica de décadas atrás.

“Tattoo” faz uso da fórmula guitarra+baterias marteladas e assim como “Radio”, celebra mais um lado pessoal da banda que pode ser facilmente “relacionável” com o ouvinte: todo fã de música tem boas memórias da rádio, e boa parte deles tem uma relação bastante próxima com as tatuagens. Ao falar de ambos como seus amigos próximos, o Rammstein se aproxima de quem o segue e afasta um pouco a distância de todos nós.

Como tudo que é bom tem um final, Rammstein, o disco, chega para encerrar os trabalhos com um quê épico onde o vocalista Till Lindemann usa e abusa dos seus vocais assustadores ao mesmo tempo que os alterna com trechos mais limpos.

Em um disco tão orgânico, onde o Rammstein se aproxima do ouvinte, fala das suas paixões e deixa claras as suas críticas, o final chega com um coral que parece nos lembrar da fragilidade humana e de como, de repente, tudo acaba.

Foram dez longos anos mas a banda alemã voltou de forma grandiosa: seu novo disco não apenas é um dos destaques internacionais de 2019 como também um dos pontos mais altos da longa carreira do Rammstein. Empacotando tudo que faz de melhor ao mesmo tempo em que consegue soar original, a banda fez valer a espera e apresentou 11 faixas que nos levam por uma viagem pessoal, humana e histórica como poucos têm a habilidade para fazer.