Entrevistas

Metronomy lança sexto disco e conversa com a gente sobre legado e shows no Brasil

“Metronomy Forever”, novo disco do Metronomy, acaba de chegar às plataformas e nós conversamos com a banda para saber mais sobre a nova fase!

Metronomy
Divulgação/T4F

Por Nathália Pandeló Corrêa

Era 1999 quando Joseph Mount criou em seu quarto o que seria a gênese do Metronomy. Desde então, ele comanda a visão criativa do trabalho que a partir de hoje ganha o seu sexto álbum de estúdio. Sem perder de vista essa origem, com apenas um computador antigo e um pedaço de papel onde batizou o projeto, agora Joseph começa a pensar em legado.

Ele diz, com exclusividade em entrevista ao Tenho Mais Discos Que Amigos!, que o marco dos 20 anos não pesa tanto assim — ainda levaria um tempo até que a banda de fato lançasse um disco. Pip Paine (Pay the £5000 You Owe) só chegaria em 2006. Mas é a reflexão sobre o tempo que une o começo de tudo e o momento atual, quando o metrônomo referenciado no nome da banda ganha contornos quase filosóficos. Afinal, o pêndulo é símbolo de continuidade e estabilidade, enquanto lembra: o tempo está passando.

Talvez daí venha o título do novo disco, Metronomy Forever, que acaba de chegar às plataformas de streaming. A dualidade de olhar para trás ao mesmo tempo que não perde de vista o futuro está presente, também, na duração do álbum, que se desenrola por 17 músicas. Permeando as canções ao longo de todo o disco estão faixas instrumentais que unem os diferentes climas do trabalho, da melancolia à extasia.

O título do disco, que pode parecer presunçoso à primeira vista, não mostra que o Metronomy também sabe ser uma banda que não se leva tão a sério. Entre os beats milimetricamente calculados, surge “Upset My Girlfriend”, uma faixa bem-humorada baseada em uma guitarra grunge que surgiu como uma música de acampamento – daquelas que cada pessoa ao redor da fogueira acrescenta um verso para formar uma história sem pé nem cabeça.

Da climática “Whitsand Bay”, pulamos para a dançante “Insecurity” — como alguém que troca de estação de rádio sem aviso prévio. Já os singles “Salted Caramel Ice Cream” e “Lately” são unidos por “Driving”, uma vinheta instrumental com tons alienígenas que liga duas das faixas mais pop do trabalho.

Aqui, o Metronomy vai num caminho diferente do assumidamente nostálgico Summer 08, disco que pautou sua última passagem por palcos brasileiros, no Lollapalooza. Não que eles trilhem territórios desconhecidos em “Metronomy Forever”. Enquanto algumas faixas remetem a The English Riviera (2011), outras levam a Love Letters.

Falando em retornar a territórios conhecidos, a banda se prepara inclusive para voltar ao Brasil. Na mais de uma semana que se passou entre a nossa conversa por telefone e o lançamento do disco, foram reveladas quatro datas no país, passando por São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre — confira todas as informações por aqui.

Nesse papo, também falamos de nostalgia, músicas da juventude, as duas décadas de Metronomy e a volta ao Brasil. Confira abaixo!

TMDQA!: Oi Joseph, obrigada por seu tempo. Começando agora uma nova etapa com disco novo, né? O título em si me traz uma ideia de legado. Vocês estão nessa com o Metronomy há uns 20 anos. Quando você olha pra trás, o que você vê como sua contribuição, o que vocês vão deixar quando se forem um dia (espero que não tão cedo)?

Joseph Mount: Ah, legal! (risos) O que eu tinha em mente para o título é que esse tipo de coisa estava passando pela minha cabeça, o que se deixa para trás após a morte. Quando eu era mais novo, eu pensava que o que um músico faz é criar uma obra que vai sobreviver mesmo depois que ele se for. E eu percebi mais recentemente que isso não é importante, não tem uma importância real. Claro que num nível pessoal, tem sim, por exemplo, para os seus filhos. Mas o prazer da música é o momento, é que ela é algo no curto prazo, que existe por um momento apenas.

O título era para ser meio engraçado, até, porque essa ideia de infinitude com relação à música é algo enorme. Mas enfim… Espero que, em termos de legado, que a gente tenha inspirado outras pessoas, mais jovens, a seguir fazendo música. Eu não imagino um filme ou um livro sendo escrito sobre nós, sabe? Ter inspirado alguém já seria o suficiente pra mim.

TMDQA!: Aliás, falando em duas décadas de Metronomy, vocês estão planejando alguma comemoração especial pra marcar esse ano ainda?

Joseph: Na verdade, não! (risos) É que são 20 anos desde que o projeto ganhou um nome e tudo mais, só que o primeiro disco acho que tem uns 14 anos… Então não chega a ser um grande momento. Acho que a gente meio que comemora toda vez que um disco novo sai, porque significa que temos a possibilidade de fazer isso por mais um ciclo, sabe?

TMDQA!: Ah sim, faz sentido! Agora, o Metronomy Forever tem dois lados, porque parece que vocês olham mais pro futuro do que necessariamente voltam à nostalgia. Esse ano, vocês lançaram a edição de 10 anos do Nights Out, bem especial, cheia de material extra num disco duplo. Como foi revisitar o Metronomy de uma década atrás?

Joseph: É meio tocante, é algo bem especial. É interessante ter esse relacionamento com a sua própria criatividade. A ideia de fazer música é basicamente o que eu faço e o que eu amo fazer, e agora eu tenho um relacionamento com ela que já está até velho (risos). É algo que me deixa honrado e tocado, principalmente pelas pessoas que gostam tanto desse disco. Ele se torna algo significativo pra eles e é o que importa. Mas foi um processo engraçado também, porque ao mesmo tempo que olhávamos para o passado, a gente estava no meio da produção do novo disco, então ficou algo meio dividido entre passado e futuro.

TMDQA!: Estava lembrando que da última vez que nos falamos, eu te perguntei especificamente sobre ser o cara que tem controle total da parte musical, mas não dos clipes. E agora você tem três créditos como diretor nos clipes desse disco até agora. O quão diferente foi essa experiência de realizar visualmente o que você pretendia para essas músicas?

Joseph: Foi muito… divertido (risos)! Foi um bom momento para aprender algo novo. Nós já tínhamos feito vários clipes, então todo o processo era bem familiar, já que estávamos por perto da produção dos vídeos por um bom tempo. Então eu diria que foi fácil fazer o movimento pra essa posição. A questão desses clipes é que eu senti que tinha as ideias certas para eles, e não necessariamente por ter controle completo. O próximo clipe, nem sei se vou dirigir (risos). Mas é uma excelente oportunidade de aprendizado, porque você se estimula a sair da zona de conforto.

TMDQA!: Com certeza! Falando nisso, eu acabei de ouvir o disco novo pela primeira vez — ele chegou pra mim bem a tempo da gente se falar. A sensação que eu tive foi justamente essa, que cada música tinha uma personalidade própria, então parece que cada uma é parte de um todo, de uma história maior. Você diria que isso foi intencional, ou ter músicas bem diferentes entre si foi uma consequência natural do ecletismo da banda?

Joseph: Ah, que legal que você ouviu! Eu só fiz… o que eu sentia (risos). Eu acho que quando você faz música, acaba tendo vários elementos diferentes, coisas que você gosta e que quer fazer, mas ao mesmo tempo tem que colecionar coisas que são muito parecidas pra poder formar um disco, para deixá-lo com um clima específico. Agora eu sinto como se isso não fosse necessário, porque as pessoas estão mais abertas a explorar sons diferentes. Uma das coisas boas dessa era de streaming e da cultura de playlists é que você pode curtir atmosferas diferentes. E nesse sentido, a gente construiu o disco para ser uma espécie de rádio que sintoniza coisas variadas mesmo.

TMDQA!: Pra entender melhor, eu li o faixa-a-faixa que você escreveu e acho que fez um resumo perfeito de Forever Is a Long Time, no sentido de falar que é uma música estranha, e que isso foi intencional. Sinto que as faixas instrumentais têm um papel de amarrar o disco, como se fossem transições entre momentos diferentes. Ou talvez eu só pense assim porque elas não têm letra. Você vê da mesma forma?

Joseph: Eu acho que elas são igualmente importantes e, em alguns casos, são até mais importantes. Mas no contexto de um disco, acho que elas são sim importantes para criar pontes entre pontos diferentes e ajudam a criar uma atmosfera mais próxima do que a gente queria. Parece que, quando você tem um vocal, alguém cantando em uma música, você tem alguém que te pega pela mão e te mostra tudo que está acontecendo. Quando é instrumental, sem vocal, parece uma paisagem sonora, e isso faz o ouvinte pensar sozinho. A diferença é que não tem eu falando no ouvido dele (risos). E isso é muito importante também.

TMDQA!: Eu entendo você ter escrito algumas coisas entre uma sessão e outra com a Robyn – até eu me inspirei por Honey e eu nem trabalho com isso [Joseph foi um dos produtores do disco]. O que me surpreendeu foi ler que você escreveu Lately pensando numa música com guitarra, tipo Billy Bragg. E que tem algumas faixas com inspiração grunge também. Sendo um cara mais orientado pela batida, por motivos óbvios, como foi mudar essa perspectiva?

Joseph: Na verdade, foi muito… legal! (risos) Pra muita gente, música sempre envolve bandas, guitarras, baterias… Quando eu tinha 12 anos, era isso que eu ouvia: Nirvana, Green Day, Weezer, um punk bem acelerado… Era esse tipo de coisa. Então pra mim não me parece uma mudança, é bem natural. Eu só estou usando um som, uma linguagem, com a qual estou familiarizado, mas que parece diferente porque hoje em dia você não ouve tanto guitarras protagonizando músicas. Mas pareceu muito natural pra mim, porque foi a trilha sonora da minha juventude.

TMDQA!: Eu diria que da juventude de todos nós!

Joseph: Com certeza (risos).

TMDQA!: Só pra encerrar, você sabe que preciso perguntar: quando a gente se falou na primeira entrevista, vocês estavam pra vir ao Lollapalooza. Alguma chance de voltarem com essa turnê nova?

Joseph: Claro que queremos! Que dia essa matéria sai?

TMDQA!: No dia do lançamento do disco.

Joseph: Então posso te adiantar que vamos anunciar uma série de datas e acho que já vai ter show no Brasil nesse anúncio.

TMDQA!: Era exatamente o que eu queria ouvir! Vai ser quando?

Joseph: Acho que em dezembro.

TMDQA!: Ótimo, show talvez no verão pro público dançar bastante.

Joseph: Isso aí! (risos)

TMDQA!: Te esperamos aqui no Brasil então. Divirta-se na turnê!

Joseph: Obrigado!