Por Nathália Pandeló Corrêa
Vez ou outra, uma nova potência pop emerge da bolha que é o country americano, um gênero nichado lá e cá. Com “Need You Now”, faixa-título do disco lançado em 2010, o trio Lady Antebellum cruzou para o mainstream com um sucesso nada menos que nove vezes platina nesse que era seu segundo álbum, sucessor da estreia autointitulada apenas dois anos antes. Poderia ter parado por aí – mas não parou.
Lá se vão 13 anos de banda, nove músicas número 1 na Billboard, 18 milhões de discos vendidos e muitos outros números superlativos. É bem verdade que Lady Antebellum aproveitou o bom momento da atual geração de grupos country que conseguem a façanha de cruzar fronteiras, sejam musicais ou geográficas. Apenas nos últimos 15 anos, nomes como Zac Brown Band, Rascal Flatts e Little Big Town se tornaram sucessos para muito além de seu território, enquanto Jason Isbell and the 400 Unit e a finada parceria de Ryan Adams com o The Cardinals se tornaram marcos no alt-country. Artistas solo, como Chris Stapleton, Taylor Swift e Brandi Carlile fizeram sua parte para bagunçar as linhas que separam gêneros, levando alguns Grammy no processo. E as Dixie Chicks, embora sufocadas por estações de rádio por conta de suas posições políticas, venceram na vida gravando com Beyoncé.
Nesse meio, Lady Antebellum é uma potência que não pode ser ignorada. Com um faro inegável para canções que exploram todas as vantagens de uma banda com três vocalistas, Dave Haywood, Charles Kelley e Hillary Scott estão há bons anos refinando suas habilidades de embalar tanto noites solitárias quanto curtição no bar. Esse sentimentalismo pop guia a discografia da banda desde o primeiro álbum, em maior ou menor proporção.
Após o sucesso de Need you now, Own The Night ampliou o uso de guitarras e trouxe violinos para encorpar arranjos. O que poderia parecer uma guinada para um som mais solar, na verdade, acompanhava letras igualmente melancólicas. Essa mudança viria em Golden, um trabalho naturalmente mais aberto e pra cima, se utilizando bem das baladas guiadas pelo violão. Por fim, o disco 747 trouxe uma abordagem voltada para a guitarra, mas sem abrir mão das canções mais sentimentais.
O trio chega ao seu sétimo disco, Ocean, propondo uma nova abordagem para essa fórmula – embora não a abandone. Scott afirmou:
Ocean é todas as coisas que pensamos e sentimos quando ouvimos essa palavra. O disco é imerso em histórias de vida sobre quase não conseguir manter a cabeça acima da água, até aqueles momentos que você sente que a navegação vai ser tranquila.
As reflexões sobre a passagem do tempo e seu efeito sobre os relacionamentos – sejam amorosos, familiares – são uma constante ao longo do trabalho. Pela primeira vez, Lady Antebellum trabalhou com o produtor Dann Huff para trazer uma renovação parcial à sua sonoridade. Sem receio de embarcar em águas turvas, baladas potentes com muito uso do piano são marcantes ao longo de Ocean, culminando na faixa-título que mantém uma espécie de tradição do grupo em encerrar discos com canções tristes.
Capitalizando no contraste das vozes de Hillary e Charles (com apoio de Dave) e nas mesclas de violão e guitarra, as baladas começam de cara com “What if I never get over you”, uma canção sobre despedidas. “Pictures” faz um distante paralelo com “Picture”, dueto de Sheryl Crow com Kid Rock, lançada muitos anos antes, atualizando a temática para um relacionamento construído em aparências para as redes sociais. As sentimentais “Crazy love” e “What I’m leaving for” são entremeadas pela dançante “You can do you”, talvez a única que preenche a cota de “música de jukebox” presente em cada disco de Lady Antebellum.
“Be Patient With My Love” traz de volta os violinos ao som da banda, com belos arranjos de cordas, enquanto “Alright” dá um tom solar para versar sobre a necessidade de se libertar de coisas negativas para seguir em frente. O romantismo predomina na segunda metade de Ocean, com as sentimentais “Let it be love”, “On a night like this”, “Boots”, “The thing that wrecks you”, “Mansion” e a própria “Ocean”, alternando sempre entre promessas de amor eterno e canções de despedida.
Toda a trajetória pregressa de Lady Antebellum se encontra inserida nas letras do novo disco. Hillary, Dave e Charles se cruzaram em Nashville há mais de uma década e agora olham pra trás com uma visão mais madura de quem sabe o que quer. A bagagem de experiências que eles trazem para este trabalho é certamente mais completa, mas um repertório mais vasto não significa, necessariamente, um repertório reinventado. Tem horas que balançar o barco só um pouquinho já é o suficiente para ganhar novo fôlego.