“O disco morreu. Ninguém mais ouve disco. As pessoas só ouvem singles.”
Quantas vezes você ouviu alguém repetindo essas frases nos últimos anos? E há quanto tempo continuamos nos deparando com grandes álbuns sendo lançados continuamente por grandes artistas?
Não há dúvida: a Internet alterou completamente a forma como consumimos música e, também, como os artistas produzem seus sons, mas mesmo aqueles que disponibilizam mega hits e grandes singles ao mundo fazem questão de expandir o trabalho e ilustrar narrativas com lançamentos maiores.
O disco não morreu, e é muito provável que nunca morra. É uma forma pessoal sobre a qual o artista se debruça durante um longo período de tempo e coloca para fora como um verdadeiro filho.
As formas como chegamos a eles, essa sim, se desenrolou em diversas oportunidades e fez com que processos de pesquisa se tornassem diferentes para chegarmos ao que foi lançado na música.
Por aqui, continuamos falando de grandes álbuns dia após dia, 10 anos após a nossa fundação, e gostamos de acreditar que estaremos aqui em 2029 fazendo o mesmo, mostrando para vocês os registros pessoais que mais nos impactaram entre o material que recebemos.
Com vocês, a lista dos 50 melhores discos internacionais de 2019 segundo o Tenho Mais Discos Que Amigos!
Textos por Tony Aiex, Marcella Micelli, Matheus Anderle, Ana Júlia Tolentino e Pedro Henrique Pinheiro
Playlists
Siga a playlist oficial do TMDQA!, onde falamos sobre as novidades com atualizações semanais o ano inteiro, e também a playlist especial que fizemos com os 50 álbuns que aqui aparecem (ao final do post para não estragar a surpresa!).
Divirta-se!
50 – Off With Their Heads – Be Good
Na estrada desde 2002, a ótima banda punk Off With Their Heads lançou seu quinto disco e Be Good mostra, desde o início, uma energia ímpar misturada a desabafos pessoais e ritmos que precisávamos ter mais presentes em nossas vidas hoje em dia.
49 – King Princess – Cheap Queen
Cheap Queen é o disco de estreia de King Princess, nome artístico de Mikaela Straus, de apenas 20 anos. Descrito pela própria como “o resultado do ano mais vulnerável da minha vida”, o álbum, lançado pela Zelig, selo de Mark Ronson, traz os anseios, dúvidas e transformações da artista abertamente queer após o sucesso do EP Make My Bed e, em especial, do single “1950”.
Totalizando 13 faixas e incluindo uma colaboração com Tobias Jesso Jr em “Isabel’s Moment”, Cheap Queen revela King Princess como um dos nomes mais interessantes do pop alternativo atual.
48 – Black Pumas – Black Pumas
Um dos nomes de “Artista Revelação” da edição do Grammy de 2020, Black Pumas traz a soul music que flerta com muito rock e blues em seu disco homônimo de estreia. Formado pelo guitarrista e produtor Adrian Quesada e o cantor Eric Burton, a dupla também conta com banda de apoio e backing vocals em harmonia perfeita. Vindo de Austin, cidade do Texas, o duo traz um trabalho conciso, como reflexo das experiências musicais que outrora tiveram.
47 – The Who – Who
É uma pena que o primeiro disco de estúdio da banda The Who em 13 anos tenha saído tão ao final de 2019, porque a impressão que dá é que esse álbum irá crescer com o tempo.
Apesar de falar abertamente sobre como os processos de composição e gravação não têm sido exatamente como uma banda unida, Pete Townshend e Roger Daltrey lançaram algumas das melhores canções do grupo em todos os tempos.
WHO, que ainda tem nomes como Carla Azar, Pino Palladino, Zakk Starkey e Simon Townshend é um dos melhores lançamentos da banda desde os Anos 70.
46 – Snoh Aalegra – – Ugh, those feels again
Guarde este nome: Snoh Aalegra. A cantora sueca com ascendência iraniana chega ao seu segundo álbum em estúdio, ugh, those feels again, e finalmente recebe a atenção que merece. Inspirada musicalmente por Prince, Whitney Houston e Stevie Wonder, Snoh mescla o soul e o r&b com a maestria de uma veterana e relata, em meio a uma atmosfera envolvente, melancólica e altamente vulnerável, uma experiência amorosa completa – do início ao tumultuado fim.
45 – Angel Du$t – Pretty Buff
Angel Du$t é uma banda que tem seu nome ligado a bandas e artistas do Punk e Hardcore mas mostrou que sua praia é outra.
Misturando elementos do indie e do rock alternativo, nos presentou com um baita álbum repleto de melodias deliciosas em Pretty Buff.
44 – Slipknot – We Are Not Your Kind
Há algum tempo o Slipknot vinha lutando contra demônios internos para superar perdas, apresentar novos sons e convencer os fãs de rock pesado que ainda tinha novas armas a mostrar.
Pois em We Are Not Your Kind, seu sexto disco de estúdio, fez isso deixando bem claro que ainda sabe mostrar riffs criativos e abordar assuntos sérios com propriedade.
43 – Titus Andronicus – An Obelisk
Poucas bandas misturam punk e indie tão bem como o Titus Andronicus e poucos nomes são tão prolíficos quanto o grupo norte-americano.
Só de 2015 pra cá são três discos de estúdio sendo o mais recente deles o ótimo An Obelisk, lançado esse ano com petardos como “(I Blame) Society”.
42 – Carly Rae Jepsen – Dedicated
A cantor canadense Carly Rae Jepsen tem, apesar de jovem, um inconfundível talento para produzir música pop.
Foi assim no seu ótimo último disco, Emotion, e é assim no mais recente álbum, Dedicated, onde trabalhou com dezenas de produtores para colocar seu quarto disco no mundo.
41 – TOOL – Fear Inoculum
A aclamada banda TOOL levou longos anos até voltar com seu novo disco de estúdio e o fez através de Fear Inoculum, álbum que tem momentos grandiosos, diversas camadas e o atestado de qualidade que só uma das bandas mais criativas de todos os tempos pode garantir.
40 – Denzel Curry – ZUU
Pegando embalo na excelente resposta do disco Ta13oo, o rapper Denzel Curry decidiu relaxar e lançar uma série de músicas sem grandes conceitos, decidindo ser simples, direto e ao ponto.
ZUU é um disco de impacto. Ele pode não reinventar a roda, mas é uma demonstração forte de um jovem rapper que está no ápice de sua carreira e quer apenas se divertir — se canções como “Ricky” não conseguirem te empolgar, existe alguma coisa muito errada.
39 – Fever 333 – Strength in Numb333rs
Muitos discos de estreia se fazem presentes nesta lista e um deles é o intenso Strength In NumbB333rs, do Fever 333. O vocalista Jason Butler diz que o disco representa os três C’s: “Community, Charity and Change” (Comunidade, Caridade e Mudança). Gritante e poderoso, o disco também fala sobre a catarse de se posicionar a favor de uma sociedade mais justa. Muitas vezes comparado ao Rage Against The Machine, o trio se destaca por trazer uma sonoridade mais metalizada, com sintetizadores e berros potentes.
38 – Bring Me The Horizon – amo
Ao se desprender do deathcore dos primeiros discos, o BMTH trouxe um conceito muito amplo para o sexto álbum de estúdio. Contudo, amo também é explosivo como os trabalhos anteriores. Ao rebuscar outras sonoridades e perceber como a indústria musical tem caminhado, a banda liderada por Oliver Sykes resolveu agregar o que há de mais destoante e intrínseco nas letras, com temáticas existencialistas e até sentimentais. Vale destacar também as batidas eletrônicas, que foram grandes aliadas aos elementos orgânicos que o Bring me The Horizon apresenta.
37 – Post Malone – Hollywood’s Bleeding
Terceiro trabalho de estúdio, Hollywood’s Bleeding chegou como um feito maior do que os outros discos de Post Malone, categorizado como “rapper” mas um músico que flerta com diversos estilos diferentes.
Além das batidas de trap e sintetizador, aqui ele trouxe uma versatilidade maior tanto na sonoridade com riffs de guitarra sendo destaque em certas faixas, ou nas letras, mesmo que algumas delas ainda continuem falando sobre ostentação.
Contudo, Malone é o retrato de como ele pôde se reinventar na própria trajetória: ao melhorar sua desenvoltura vocal e de composição, também buscou reforços com grandes nomes da indústria musical, como Ozzy Osbourne, Travis Scott (ambos na mesma faixa!), Halsey, SZA e mais.
36 – Black Midi – Schlagenheim
Black Midi é uma banda britânica que serve como belo exemplo para quem diz que os jovens não se interessam mais pelo Rock And Roll.
Aqui, eles não apenas se interessam como empunham guitarras para mostrar novas fórmulas e uma energia surreal que sai do disco de estreia Shlagenheim para os shows e deixa qualquer um boquiaberto.
35 – Thom Yorke – ANIMA
Invejosos dirão que “anima” e Thom Yorke na mesma frase não combinam, mas o disco solo do vocalista do Radiohead é mais uma incrível incursão do cara pela música eletrônica onde ele se ligou novamente ao produtor Nigel Godrich.
Além disso, ainda lançou um curta de mesmo nome dirigido por Paul Thomas Anderson para a Netflix e mostrou que ainda pode oferecer muito ao mundo da música.
34 – Brittany Howard – Jamie
Conhecida por seu (ótimo) trabalho no grupo Alabama Shakes, a vocalista Brittany Howard resolveu assinar um álbum mais intimista e pessoal de maneira solo. O resultado foi Jaime, dedicado à sua já falecida irmã.
As composições, pautadas essencialmente por vertentes do rock, revelam aspectos mais pessoais da vida de Brittany, que dizem respeito à sua vida familiar e amorosa. É um disco emocionante, delicado e sincero.
Nada conta o Alabama Shakes, mas a sensação que fica é que, sozinha, Brittany pode alavancar ainda mais a sua carreira de compositora.
33 – James Blake – Assume Form
No ano em que completa uma década de carreira, o britânico James Blake se mostra mais relevante musicalmente do que nunca. Com uma sonoridade mais otimista do que os discos anteriores, Assume Form flerta com elementos do hip hop e do R&B, prendendo o ouvinte com interessantes estruturas musicais.
De quebra, o álbum ainda conta com as participações de Travis Scott, Rosalía e André 3000.
32 – Jamila Woods – Legacy! Legacy!
Legacy! Legacy! é o segundo disco da cantora, compositora, poeta e ativista Jamila Woods – e todos esses feitos são extremamente importantes na obra como um todo.
Naturalmente influenciada por nomes como Erykah Badu e Ms. Lauryn Hill, Jamila relata, ao longo de 13 faixas, questões raciais e feministas emolduradas por uma sonoridade neo-soul funkeada e, por vezes, até mesmo psicodélica, sempre reverenciando grandes artistas que a inspiram, como Jean-Michel Basquiat, Muddy Waters, Eartha Kitt, Frida Kahlo e Miles Davis.
31 – Bon Iver – i,i
Justin Vernon e seu Bon Iver deixaram de ser queridinhos do indie para se tornarem cada vez parte mais importante na música norte-americana, principalmente onde mundos onde indie e pop se encontram.
Em seu quatro álbum, o músico voltou a mostrar que se apaixonou de vez pela mistura de folk e música eletrônica.
30 – PUP – Morbid Stuff
Claramente inspirado no trabalho de artistas como Jeff Rosenstock, Morbid Stuff é um passo para a frente na carreira do PUP.
Do pop punk característico do grupo ao sludge metal (!), as onze músicas do novo disco apresentam uma evolução sonora considerável em relação ao antecessor The Dream Is Over. As letras vão de temas introspectivos e melancólicos à picuinhas entre ex-namorados na fila do mercado — cada canção é única de uma forma fascinante e, em determinados pontos, muito divertida.
29 – Cage The Elephant – Social Cues
Quando surgiu em 2006, o Cage The Elephant tornou-se rapidamente um dos nomes vistos como “salvação do Rock”, principalmente por conta de um competente álbum de estreia homônimo em 2008.
Nesses 13 anos a banda norte-americana não se transformou na maior do planeta, mas com seu quinto disco de estúdio, Social Cues, mostrou que talvez tenha alcançado algo ainda maior: a marca de ser um grupo que tem uma discografia equilibradíssima e relevante, com pouquíssimos pontos baixos.
28 – Rammstein – Rammstein
O álbum homônimo do Rammstein é o sétimo disco da banda alemã e foi lançado dez anos após seu último registro em estúdio, Liebe Ist Für Alle Da, de 2009.
Produzido por Olsen Involtini, engenheiro de som do grupo, o ótimo trabalho também marca o primeiro álbum sem Jacob Hellner e retrata uma fase menos metal do sexteto e mais voltada ao industrial dance, o que não quer dizer que a sonoridade e as letras se tornaram menos obscuras; o carro-chefe do disco, a excelente “Deutschland”, por exemplo, gerou polêmica antes de lançada pela temática que remetia diretamente ao Holocausto, mas logo caiu nas graças do público e crítica por se revelar uma forte mensagem de repúdio político à Alemanha nazista.
O resultado disso foram 19 milhões de visualizações no clipe através do YouTube em apenas três dias, um feito incrível para qualquer artista nos tempos atuais.
27 – Jenny Lewis – On The Line
Até pouco tempo atrás mais conhecida como a voz do Rilo Kiley, Jenny Lewis lançou este ano o excelente On The Line, seu quarto disco solo. Nele, a cantora e compositora colabora com grandes nomes da música, como Beck, Ringo Starr e até Ryan Adams, em material gravado ainda na fase anterior às acusações públicas de assédio (e fortemente repreendidas pela artista), e o resultado se traduz como o melhor trabalho solo de Jenny até o momento, tanto pelo viés lírico quanto instrumental, numa mistura de country e folk que remete ao Fleetwood Mac, Tom Petty & The Heartbreakers (influência justificada pela colaboração com Benmont Tench) e Bruce Springsteen.
26 – Nick Cave And The Bad Seeds – Ghosteen
Em 2015, durante as gravações do disco Skeleton Tree, o mestre Nick Cave recebeu a notícia de que seu filho Arthur, de apenas 15 anos de idade, havia morrido após uma queda.
O músico já conhecido por temas sombrios e uma vez ímpar passou a incorporar elementos do luto ao seu trabalho e em 2019 lançou Ghosteen, última parte de uma trilogia que, além de Skeleton Tree ainda teve Push The Sky Away (2013).
Repleto de conceito, o álbum é dividido em duas partes, sendo que a primeira tem 10 canções (“as crianças”) e a segunda duas faixas de palavra falada (“os pais”).
Em um trabalho denso, Nick Cave apresenta belas e difíceis canções, retratando a vida com suas nuances, suas durezas e seus momentos de reflexão.
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