Simplificando e indo direto ao ponto, o plano sequência é uma longa cena filmada sem cortes – ou editada com cortes tão sutis que não dá para notá-los. Mas como identificar essa técnica e por que ela é usada? Recentemente, 1917 (2019) ganhou muitos elogios por ter seus 118 minutos de duração divididos em apenas dois takes, mas o que isso muda na experiência do público?
Primeiramente, identificar um plano sequência é fácil. São aquelas longas tomadas em que a ação acontece de forma ininterrupta e a câmera assume uma função narrativa de colocar o espectador quase dentro da cena.
Quando a cena é fluida, comprida, mas existem cortes imperceptíveis, temos um “falso” plano sequência – e esse é o caso de 1917. Apesar de vender a ideia de que são apenas dois longos takes, existem, sim, pequenos cortes.
Mas fazer planos sequência desse tamanho não é para qualquer um. O diretor Sam Mendes e a equipe do filme levaram 65 dias para gravar tudo, em 12 cenários diferentes. Entre as maiores dificuldades estavam imprevistos desagradáveis, especialmente as mudanças climáticas. Algumas das cenas pareciam impossíveis de serem feitas e assistir ao making of acaba ficando tão legal quanto assistir ao próprio filme. É a mágica do cinema acontecendo! Veja só:
Sam Mendes, porém, já flertava com esse estilo desde que filmou 007 Contra Spectre (2015). Confira a sequência de abertura do filme:
Em geral, a continuidade das ações na tela dá uma sensação de realismo, além de contribuir para a imersão do espectador. Além disso, por ser muito difícil de executar, quanto maior o plano, mais impressionante a cena costuma ficar.
Em Atômica (2017), o impressionante plano sequência de SETE minutos tira o fôlego de quem está assistindo porque a performance de Charlize Theron é monumental, os cenários mudam de forma bem natural e, de fato, foram feitos pouquíssimos takes.
O diretor aqui era David Leitch, ex-dublê que também dirigiu John Wick, um dos maiores sucessos de ação dos últimos anos.
Claro, fazer um plano sequência exige um esforço absurdo de toda a equipe. Imagine o trabalho que dá, por exemplo, esconder os próprios equipamentos conforme os movimentos vão acontecendo.
Veja na cena de Os Filhos da Esperança (2006) o quanto o diretor Alfonso Cuarón e sua equipe tiveram que modificar o carro para que a câmera ficasse dentro do veículo de forma natural. Primeiro, a cena; depois, como eles filmaram tudo:
A Academia costuma gostar de quem aplica esta técnica de forma convincente. Prova disso é o Oscar de Melhor Filme em 2015 dado a Birdman. Todo o filme dá a impressão de se passar no mesmo take, mas detalhes como a passagem de tempo mostram que há pequenos ajustes entre as tomadas.
Já em 12 Anos de Escravidão (2013), o fato de o plano ser bem longo aumenta o sofrimento dos personagens. É doloroso, queremos que a cena acabe logo, mas a longa duração serve exatamente a esse propósito.
Plano sequencia – 12 anos de ecsravidão from NECUPF on Vimeo.
Apesar de muito legal quando bem executado, o plano sequência precisa ter alguma função, ou vai parecer apenas um exibicionismo. O aumento da tensão, a sintonia com a trilha sonora, as expressões dos atores conforme a câmera os acompanha… tudo conta para que a técnica seja bem desenvolvida.
Se você ficou curioso para ver mais exemplos, dê uma olhada em Victoria (2015) e The Wedding Party (2017), que foram filmados totalmente em plano sequência. Outras cenas marcantes podem ser vistas na série Demolidor (2015), da Netflix, no filme coreano Oldboy (2003), no argentino O Segredo dos Seus Olhos (2009) e nos clássicos Os Bons Companheiros (1990) e A Marca da Maldade (1958), dentre muitos outros.
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