E vamos de consumir audiovisual brasileiro durante a quarentena. Nossa dica de hoje é o documentário “Circo Voador – A Nave”, que conta a história de uma das casas de shows mais emblemáticas não só do Rio de Janeiro, mas do Brasil.
O filme foi lançado em 2015, mas agora está disponível completo e de graça no YouTube, e mostra desde o surgimento do Circo, em 1982, ainda que em pé apenas por uma temporada de verão na praia do Arpoador, até a atual geração, passando pela fase de mudança para a Lapa e os anos em que ficou de portas fechadas.
Dirigido por Tainá Menezes, o documentário conta com depoimentos de mais de 50 pessoas envolvidas com a história da casa de eventos que começou como um espaço para artistas de diversas vertentes mostrarem sua arte ao público. São nomes como Evandro Mesquita, Frejat, Lenine, Tom Zé, Gilberto Gil, João Gordo e Maria Juçá, contando sobre suas experiências nos palcos e nos bastidores.
A história do Circo Voador
O Circo Voador é tão importante culturalmente que faz parte da história de diversos artistas brasileiros. E assim como viu algumas bandas surgirem, como o Planet Hemp, do Marcelo D2, que conta que era expulso de lá praticamente todo final de semana, também viu carreiras acabarem, como a da Rita Lee, que numa cena emocionante fez um de seus últimos shows por lá, agradeceu, se despediu do público e se aposentou.
E como surgiu na década de 80, não tinha como o Circo não cruzar a sua história com a do rock. O filme mostra registros de apresentações incríveis de Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Lobão, Barão Vermelho e, ainda, um encontro de Cazuza e Caetano Veloso cantando juntos.
No início, lá era o local onde vários públicos se encontravam, da galera do rock ao pessoal do punk e da MPB, da zona norte e da zona sul. E isso pode ser visto nas imagens de shows de nomes como Blitz, Luiz Melodia, Pavilhão 9, Chico Science, Nação Zumbi, Cássia Éller, Ratos do Porão, Raimundos e muito mais.
Frejat relembra, por exemplo, sobre as noites cheias de swing com Tim Maia no palco:
Ele já não tinha credibilidade nenhuma para tocar em lugar nenhum, porque faltava em todos os lugares. Mas no Circo ele ia.
O Circo não só ajudou a alavancar a carreira dos artistas como também influenciou todo o mercado da música na época, fazendo as rádios e as gravadoras prestarem atenção em nomes que não faziam parte do mainstream, mas que juntavam grandes públicos na noite carioca.
Perrengues, fechamento e reabertura
Nem só de glória vive o Circo Voador, pelo contrário. O filme aborda ainda a tentativa de compra da casa por políticos, assim como seu fechamento em 1996 a mando de César Maia, prefeito do Rio de Janeiro naquele ano, que, inclusive, aparece dando seu relato no documentário.
A típica fase inicial cheia de perrengues também é tema: Maria Juçá revela que os Titãs já tocaram no Circo Voador para apenas 18 pessoas e Lobão para 13 fãs. Até que a coisa andou e chegou a sair fora do controle com o público pulando a grade para entrar e invadindo o espaço.
“Eu queria estar ali dentro e não tinha condição. Então começaram a passar graxa nas grades e eu comecei a ir com duas camisas. Colocaram seguranças e eu criava um tumulto para eles irem para lá e eu entrar por aqui,” revela o saudoso Marcelo Yuka.
Nova geração
Hoje o Circo Voador continua ativo e recebendo os nomes de diversas gerações como Otto, Criolo, Scalene, Black Pantera e tantos outros artistas da cena que não aparecem no filme. A agenda recente, antes dos cancelamentos por conta do distanciamento social para combater a transmissão do novo coronavírus, tinha Baco Exu do Blues, Tuyo, Black Alien e mais.
Sem contar também, claro, as bandas internacionais: já passaram por lá, por exemplo, Tame Impala, Franz Ferdinand, Cat Power, The 1975, Bring Me the Horizon, Phoenix, At The Drive-In e muito mais. Isso, porém, não é mostrado no documentário.
Então é isso: pegue a pipoca (ou uma cerveja), aumente o som e aproveite! E viva o Circo!