Uma ótima e exclusiva entrevista com o baterista do Sepultura, Jean Dolabella foi feita pelos fans na principal comunidade da banda no Orkut. Essa entrevista está sendo publicada especialmente no Tenho Mais Discos Que Amigos depois de ter sido liberada pela comunidade.
Aqui, o baterista que se prepara para lançar o novo álbum com a banda fala de suas influências, da pegada da bateria do novo álbum, de Iggor Cavalera, dos rumores de reunião com formação original, Udora e muito mais.
Para todos que são fans dessa grande banda e ainda não estão na comunidade do Orkut, clique aqui para entrar.
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No final de cada uma das perguntas está o nome dos fans que a fizeram e de onde são.
1. Antes de entrar no Sepultura, você já tinha tocado em alguma banda de Heavy Metal? Como foi a adaptação e qual foi o processo mais difícil desta adaptação ao Sepultura?
Jean: Na verdade, as minhas primeiras bandas foram de Rock, Hard Rock, Heavy Metal e Thrash Metal mas eu tive muita sorte em sempre ter gostado de estilos variados de música, isso fez com que eu sempre tivesse algum tipo de preparo e ao mesmo tempo coisas novas pra trazer para aquela determinada situação musical. Acho que a parte mais difícil foi o começo e a adaptação como um todo. A pressão era grande pelo fato de o Sepultura ser uma banda mundialmente conhecida e eu estar entrando no lugar de um dos músicos fundadores da banda. Passou rápido na verdade. Eu fui me adaptando e achando o meu espaço nos shows mesmo. Nada melhor do que o show pra passar por isso. Acabou que a melhor coisa que a gente fez foi ter tocado 2 anos inteiros de turnê antes de pensar em lançar um disco com a nova formação.
Eduardo Gambarini, São Paulo/SP; Cássio Moret, Mundo Novo/MS.
2. Quais foram (são) as suas maiores influências?
Jean: Isso vem mudando com o tempo. Na medida em que eu amadureço como pessoa e como músico, automáticamente minhas influências mudam junto. Não que eu tenha deixado de gostar das influências antigas, só aumentei a lista. As vezes acontece de eu voltar atrás e escutar algo que me influenciou em determinada época e acaba me influenciando de novo. Com certeza também escuto música de várias formas, como músico, como produtor, como professor ou como simples ouvinte ou fan. Outra coisa é que não tenho influências só musicais pra me expressar do jeito que eu quero no instrumento que eu esteja tocando, tenho certeza de que tudo na vida acaba te influenciando. Seja um encontro com um amigo, a perda de alguem querido, a felicidade no casamento, o nascimento de um filho, enfim, tudo isso influencia diretamente em minha música. Se eu fosse falar em termos de música que me influenciou até agora, esta pagina não seria suficiente. Posso falar alguns nomes que venho escutando ultimamente como: Joshua Redman, Gojira, The Mars Volta, Average White Band, James Brown, John Mayer, Foo Fighters, Beatles, The Bad Plus, Dillinger Scape Plan, Deftones, Lenine, e muitos outros…
Rafael Chantre, Rio de Janeiro/RJ
3. Mestre Jean, qual foi a influência do trabalho do músico Iggor Cavalera em sua vida como baterista? Você já o encontrou alguma vez após ter assumido o lugar dele na banda?
Jean: Cara, com certeza o Igor foi uma grande influencia quando eu comecei a tocar. Não só o Igor mas a banda inteira. Foi o começo de uma nova perspectiva pra mim, só de imaginar que os caras saíram do Brasil e conseguiram assinar um contrato fora e tocar no mundo inteiro. Conquistaram o mundo como banda, e essa era com certeza uma trajetória que eu decidi que eu um dia iria seguir.
Rodrigo Bizoro, Belford Roxo/RJ
4. Você poderia contar como foi a trajetória de sua carreira de músico e também quais foram as bandas em que você tocou e seus respectivos gêneros musicais?
Jean: Bom, não me lembro exatamente quando comecei a tocar pq sempre estive muito envolvido com música por causa da minha família. A primeira banda que eu toquei era uma banda que se chamava KP38 de musicos que faziam shows em bares em Uberlândia, MG. Na época eu não gostava muito do repertório que se consistia em sucessos de Pop/Rock brasileiros. Eu era muito novo, acho que tinha uns 10 anos de idade. Toquei com eles durante um tempo mas logo sai da banda pq queria tocar algo mais pesado. Na época, eu tocava junto com os discos que eu tinha como Sepultura Beneath The Remains e o Arise que tinha acabado de sair, Slayer South Of Heaven, Guns and Roses Appetite for Destruction, Faith No More The real Thing e outros…Nesta época eu toquei em uma banda que se chamava Carrion de Thrash Metal ainda em Uberlândia. Me mudei pra BH aonde realmente comecei a estudar música e seguir como carreira até tirar a minha carteira de músico quando tinha 18. Nesta época e estava dando aulas na escola Pro-Music em BH e ao mesmo tempo trabalhando muito como músico contratado em shows e em estúdio. Fiz muitos shows com bandas de baile e muito trabalho em estúdio tocando todos os tipos de música. Isso me fez crescer muito como músico me preparando para qualquer tipo de situação que aparecesse. Neste meio tempo fui chamado pra tocar no Diesel e começamos a crescer no underground de bandas brasileiras. Acabamos ganhando um concurso de bandas para tocar no Rock in Rio e tocamos na última noite pra 250.000 pessoas no palco principal. Aquele foi o momento de decisão em que resolvemos ir pros EUA pra tentar a vida fora. Mudamos pra Los Angeles e fizemos algumas turnês pelos EUA e vários shows em LA aonde a gente morava. Durante este tempo por lá eu tive a chance de trabalhar em estúdio com outras bandas e projetos incluindo coisas grandes produzidas por Matt Walace, que acabou virando um grande amigo. Ganhei uma bolsa integral no LA Music Academy e completei o ano em 2004. Voltei pro Brasil no começo de 2006 aonde depois de 2 meses recebi a ligação do Andreas perguntanto se eu queria fazer um som com o Sepultura. Continuo até hoje fazendo muitas coisas além do Sepultura, shows com vários projetos incluindo o Indireto que formei com Augusto Nogueira em 2006, gravações com diferentes artistas, fazendo trilha para TV e cinema e produzindo bandas.
Rafael, Três Rios/RJ.
5. Jean, umas das bandas em que você tocou antes do Sepultura foi o Diesel, agora Udora. Vocês foram pra Los Angeles divulgar o álbum independente e sempre se lê que vocês tiveram uma boa recepção por lá, inclusive gravando com produtores conhecidos. O trabalho de vocês era bem legal, mas de uma hora pra outra mudou muito. O que aconteceu que gerou essa mudança?
Jean: Uma série de fatores. Tudo cemeçou quando fomos para os EUA. O próprio choque cultural e a grande mudança em nossas vidas desencadeou essa evolução musical. Até o disco Liberty Square, que foi o último que participei. A nossa música foi se fundindo com o que a gente estava absorvendo dos EUA e aquele disco foi o resultado. Depois que sai da banda eu não tive mais contato com eles, então não posso falar muito a respeito da drástica mudança que sofreram quando eles voltaram pro Brasil e começaram a cantar em Português.
Bruno Marochi, São Paulo/SP
6. Jean, reparei que você está usando no seu novo set 2 Hit-hat, qual o motivo dessa escolha? Também notei que você não usa octabans e sim um tom menor para fazer som de percussão, qual é o tipo desse tom?
Jean: Comecei a usar o Segundo par de chimbal do meu lado direito para poder fazer os “ritmos alternados” (bumbo-caixa-bumbo-caixa) de forma mais aberta. Com o chimbal do meu lado direito posso fazer movimentos maiores com as duas mãos proporcionando um groove com muito mais pressão. Quanto ao pequeno tom, é um tom de 8″ x 8″ Pearl Reference, igual ao resto do meu kit. Uso ele bem apertado pra me dar aquele som próximo a um Tamborim mas com mais peso e volume.
Victor Hugo, Aracaju/SE.
7. Como você recebe as críticas por estar em uma banda de tanto prestígio e tradição? Há muita pressão?
Jean: Havia mais pressão no começo, acho que até mais de mim mesmo. Aquela cobrança de fazer tudo o melhor possível. Eu aprendi a lidar com isso. Agora, depois de 5 anos, dois discos e centenas de shows pelo mundo inteiro, me sinto parte disso independentemente do que as pessoas acham ou falam.
Guilherme Scholz, Joinville/SC.
8. O Andreas disse que o novo álbum será o mais brutal do Sepultura. Por conta disso, você usará “extreme double bass drumming” ou de que forma você está trabalhando nas linhas de bateria para alcançar esta “brutalidade”?
Jean: Cara, depende do que vc chama de brutalidade. Na verdade “extreme double bass drumming” seria muito mais velocidade do que brutalidade. O disco é simples e honesto. As músicas fluíram do jeito que vieram e a gente respeita isso. Eu nunca gravo ou componho uma música pensando em como a bateria deve ficar. Sempre escuto como um todo. Espero a música me dar essa direção e não o contrário, forçando um “lick” ou uma parte extrema de batera só pra masagear o meu ego. Ao mesmo tempo, com certeza tem partes complicadas, rápidas e as vezes até extremas, mas não com a intenção de “mostrar algo baterístico”. Foi o que surgiu naturalmente.
Dario Neves, Cabo Verde (África); Fernando Pimentel, São Paulo/SP.
9. Sobre o novo álbum, o Andreas disse que terá influência de toda a história e todas as fases do Sepultura, como se dará essa influência? Cada música terá especificamente uma sonoridade de alguma fase do passado ou essas influências se darão de forma implícita e intercaladas em todo o álbum?
Jean: É mais como uma influência para todo o album. Não foi pensado de forma que cada seção soe como uma época da banda. Foi mais uma idéia de olhar um pouco pro passado e trazer um pouco daquele sentimento de novo. Não só em relação a banda, em relação as nossas vidas também. Tudo que a gente já passou e lutou pra chegar nos dias de hoje pra escrever um disco.
Rodrigo Façanha, Rio de Janeiro/RJ.
10. Tocar as músicas antigas do Sepultura é difícil? O que você acha de tocar as “velharias” do Bestial Devastation, Morbid Visions e Schizophrenia?
Jean: Na verdade acho que as músicas velhas são mais fáceis de se tocar. A banda estava se “formando” em relação ao jeito de tocar, aprendendo uns com os outros e com a estrada. Vc consegue ouvir claramente essa evolução musical desde o Bestial Devastation ao Beneath the Remains. Não falo somente em termos de composição mas principalmente em relação a musicalidade de cada membro. A gente toca um “meddle” da “Septic Schizo” com a “Scape to The Void” que é divertidíssimo de tocar!
Kevin Liszt, Fortaleza/CE; Daniel Tülher, Belo Horizonte/BH.
11. Assim que você entrou no Sepultura, durante a turnê do Dante XXI, em alguns shows você tocava apenas com um bumbo. Por qual motivo?
Jean: Inicialmente pq eu não usava dois bumbos e achei que seria legal manter a batera com um bumbo só. Com o passar do tempo após alguns testes de shows e gravações ao vivo, percebi que seria impossível usar pedal duplo com a intensidade em que eu estava tocando. O volume e a força desloca tanto ar dentro do bumbo que ele não consegue “respirar” entre uma batida e outra, produzindo um som embolado e sem definição. Agora, com dois bumbos, a quantidade de notas fica dividida em dois, metade pra cada, produzindo o som que preciso.
Vagner, Santo Antônio de Posse/SP.
12. Qual foi o seu melhor show com o Sepultura? E qual foi a sua turnê preferida?
Jean: Cara, difícil de falar… Fizemos tantos shows e tantas turnês nesses 5 anos que fica impossível destacar um só. Com certeza todos os shows grandes que fizemos com grandes bandas são inesqueciveis como no estádio do Morumbi em SP com o Metallica, que apesar de eles terem boicotado o nosso som os shows foram ótimos, no Chile com o Faith no More e depois com o Antrax, na Argentina com o Iron Maiden, na República Tcheca com o Gogira e o Fear Factory, muitos outros!
Mateus Albuquerque, Ilhéus/BA; Carlos Veloso, São Lúis/MA.
13. O Sepultura tem planos para o lançamento de um novo DVD? Se sim, vem ainda em 2011?
Jean: Temos os planos sim!! Não sei se vamos conseguir lançar em 2011 ainda. Tem o projeto do filme do Sepultura que está sendo feito pelo diretores Otávio Juliano e Luciana Ferraz da Interface Filmes, tem também o projeto com a orquestra que acredito que será feito e lançado em Blue Ray/DVD.
Diego Medeiros, Porto Alegre/RS.
14. O que você tem a dizer a respeito de toda essa palhaçada criada pelo ex-vocalista do Sepultura, Max Cavalera?
Jean: Eu vejo como uma constante jogada de marketing para se promover. A mídia adora esse tipo de “futrica”, então, quando ele fala, traz todos os olhos da imprensa pra ele.
Daniel Azevedo, João Pessoa/PB.
15. Em sua opinião, qual banda de Heavy Metal fez um trabalho mais interessante nesta última década?
Jean: Pra mim não tem “a mais” e sim algumas que me chamam atenção no sentido de terem o estílo tão próprio…Acho que o System Of a Down é uma delas, eles conseguiram entrar no mainstream sem mudar o estílo. São muito originais. O Gogira é uma banda que tem um trabalho original também que eu curto, principalmente o disco “The Way Of All Flesh”. Meshuggah, que apesar de ser uma banda que vem de bem antes que essa última década, tem um trabalho muito interessante e único. Entre outras…
Ricardo Siqueira, São Paulo/SP.