Música

Burger Records muda de nome e de liderança após acusações de abuso envolvendo bandas

A gravadora Burger Records foi acusada de corroborar com comportamento abusivo de bandas de seu catálogo e anunciou mudança de nome e liderança. Saiba mais.

Burger Records

Depois de virem à tona as acusações de abuso envolvendo Joey Armstrong, filho de Billie Joe Armstrong (Green Day) e baterista do SWMRS, a gravadora Burger Records foi alvo de críticas por “corroborar” com diversas bandas envolvidas em situações predatórias.

Conhecida por ser uma das mais importantes gravadoras independentes do cenário, tendo em seu catálogo grandes nomes internacionais da cena indie/DIY, o selo foi acusado de fazer uma “curadoria construída em tendências pedófilas e fetichização de adolescentes”.

Uma página no Instagram compilou diversos dos relatos que envolvem não apenas o SWMRS mas também outros grupos da Burger como The GrowlersThe FrightsThe Buttertones Cosmonauts.

As alegações envolvem situações como o namoro de Joey com Lydia Night, do The Regrettes, quando esta tinha 16 anos e ele 22 e um suposto estupro cometido por Alexander Ahmadi, do Cosmonauts, que teria tido relações sexuais com uma garota desacordada em uma festa.

O perfil na rede social relata ocasiões em que garotas menores de idade foram convidadas para a “sala dos fundos” da loja da gravadora em Fullerton, na Califórnia, onde elas eram vítimas desse comportamento predatório de homens mais velhos associados ao selo.

Além de postagens anônimas que incluem uma garota de 15 anos falando sobre ter sido convidada para a sala dos fundos para “‘dar um rolê’ com grupos de homens de mais de 29 anos que me ofereciam álcool, drogas e uma carona para casa”, há também uma história contada por Haley Dahl, líder da banda Sloppy Jane, que diz:

Quando tentei me alinhar ao seu mundo de bandas eu vivi literalmente incontáveis atos de desrespeito, objetificação, e má conduta sexual — e testemunhei mais ainda. Foi de quebrar meu coração, e algumas jovens mulheres que conheço que viveram as mesmas coisas não fazem mais música por conta disso.

Burger Records

https://www.instagram.com/p/CCyx2MCpwPQ/

A gravadora disparou um comunicado oficial (que você pode conferir na íntegra, em inglês, por aqui) que se inicia dizendo que o selo “nunca será capaz de compreender o trauma que as mulheres viveram enquanto tentavam encontrar um lugar na cena musical” e pede “profundas desculpas pelo papel que a Burger teve em perpetuar uma cultura de masculinidade tóxica”.

O cofundador Lee Rickard está deixando sua posição e qualquer envolvimento com a gravadora, enquanto o outro cofundador Sean Bohrman está assumindo um papel “de transição” enquanto Jessa Zapor-Gray se tornou a presidente interina da Burger, que agora passará a se chamar BRGR RECS para “criar uma clara delimitação entre a velha e a nova Burger Records”.

Entre as mudanças propostas estão a criação de um selo exclusivo para mulheres, o BRGRRRL; a instituição de um contrato padrão para os artistas assinados que irá incluir cláusulas relacionadas a comportamento abusivo e predatório; a contratação de “experts em educação sobre consentimento e ciência de abuso sexual e traumas” e um fundo de aconselhamento para ajudar a custear tratamento para as pessoas que sofreram traumas decorrentes da cena da Burger.

Mais ainda, a loja em que os abusos supostamente ocorreram, que a gravadora ressalta não fazer parte do selo em si, passará por uma mudança de nome e não terá mais qualquer afiliação à Burger.

Nos eventos relacionados à BRGR, há a promessa de um “espaço seguro dedicado às mulheres para curtir música sem medo de invasão de seu espaço pessoal”, além de uma garantia da presença de um “membro educado da comunidade” em todos os shows relacionados à gravadora com mais de 1000 presentes. Haverá também um espaço separado para menores de 18 anos.

Por fim, a BRGR promete “educação e treinamento” aos artistas, empresários e casas de shows com os quais trabalham e trabalharão sobre “a sensibilidade e os efeitos do trauma”, além de uma revisão completa de todo o seu catálogo para se adequar a uma política de “zero tolerância”, descontinuando a distribuição de quaisquer atos envolvidos em situações do tipo.

Para as pessoas que comandam o Instagram em que os relatos foram postados, no entanto, nada disso é suficiente. Os envolvidos pedem que a nova presidente primeiro lide com as acusações atuais, antes de pensar em medidas para o futuro, como mostra a publicação abaixo (em inglês).

Vale ressaltar que, nas últimas horas, todas as redes sociais da gravadora foram apagadas e por isso muitos a acusam de tentar “silenciar as acusações”. Isso inclui a filial latina da Burger, cujo site ainda pode ser acessado por aqui.

https://www.instagram.com/p/CC6WhdnJu1f/