O R&B feito entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000 marcou rádios, canais de televisão e, não raro, a infância de muita gente. A proposta sonora envolvia a aproximação com elementos do cada vez mais popular hip hop. A surpreendente mistura serviu de pano para uma nova cena musical que impulsionou nomes como Nelly, Brandy, Lauryn Hill, Eve e muito mais.
Esse novo momento também consagrou a carreira de Usher, um dos primeiros nomes lembrados quando lembramos dessa cena. E foi nesse contexto que nasceu a cantora Alicia Keys, hoje um dos maiores nomes da indústria com lançamentos constantemente exaltados pela crítica. Até o Grammy, a maior premiação musical do mundo, ela apresenta.
Juntos, Usher e Alicia lançaram “My Boo“. É um dos maiores sucessos do disco Confessions, lançado pelo cantor em 2004. Separamos abaixo algumas curiosidades sobre esse grande hit, que foi para o topo das paradas e que até hoje põe muita gente para dançar (e flertar).
A música desta semana foi uma sugestão conjunta das cantoras Clau e Isadora, com quem conversamos recentemente sobre a força do gênero no Brasil. Clique aqui para conferir a entrevista.
(Continua após o vídeo)
Contexto
“My Boo” é contada a partir da perspectiva dos personagens de Usher e Alicia, que antes formavam um casal. A música, no geral, foca na questão do “primeiro grande amor” e no quanto essa pessoa acaba sendo importante em nossa vida.
O início já conta com um reflexivo monólogo de Usher, em que, nostálgico, declara ser ainda apaixonado por uma pessoa que não vê há tempo. O tema fica mais claro conforme a música se desenvolve. Os personagens conquistaram fama em suas carreiras, o que acabou potencializando a distância. Como a letra ilustra, eles relembram o primeiro beijo e deixam claro que, não importa o que vier, serão sempre o “crush original” um do outro.
Duas lendas do R&B
O sucesso da canção não foi à toa. A virada do milênio, através desse novo R&B, deu holofote a uma série de novos artistas, como Ja Rule, Destiny’s Child, Ashanti e vários outros. Mas, para muitos, Usher e Alicia são dois dos nomes mais influentes para o pop da época.
Usher estava na ativa desde 1994, quando lançou seu disco de estreia homônimo. O sucesso explosivo, no entanto, veio apenas com o lançamento de Confessions, dez anos depois. O mesmo disco rendeu sucessos como “Yeah!” e “Burn“.
Já Alicia era ainda uma figura nova para a cena, com seu disco de estreia, Songs In A Minor, lançado em 2001. Mas não se enganem pelo então pouco tempo de estrada. O álbum rendeu para ela, no ano seguinte, o Grammy de Artista Revelação. Na mesma noite, a cantora faturou outro dos principais prêmios da noite, o de Música do Ano, graças ao hit “Fallin’“.
Se separados já causam, imagine o impacto desses dois juntos!
A fórmula mágica dos duetos
Conforme o R&B e o hip hop davam um sopro de ar fresco para o pop, os duetos também ganharam ainda mais popularidade. Aliás, como muitas dessas canções falavam de fato sobre amor, juntar os dois lados da relação se mostrava uma tática plausível para tornar a música mais convincente e, logo, comercialmente relevante.
Na mesma época, no início dos anos 2000, o mundo foi apresentado a outros duetos atemporais como “I’m Real” (Jennifer Lopez e Ja Rule, de 2001), “Dillema” (Nelly e Kelly Rowland, de 2002) e “Baby Boy” (Beyoncé e Sean Paul, de 2003). Quando o assunto é dueto, Alicia Keys ainda ficaria marcada por mais um grande sucesso que viria alguns anos mais tarde: “Empire State of Mind“, parceria com Jay-Z lançada em 2009.
Essas e mais músicas estão inclusas em uma lista feita pela Billboard em 2011, em que elegeu “Os 40 Melhores Duetos de Todos os Tempos“.
O termo “boo”
“Boo”, enquanto interjeição, é uma forma de surpreender alguém. No inglês, também é um verbo dito para mostrar desprezo por algo. Ah, também é uma personagem no filme “Monstros S.A.” (rs). Mas que tipo de troca de afetos estranha é essa? Por que Usher e Alicia Keys se chamam assim?
O termo, enquanto uma qualificação fofa, não surgiu do inglês. Vem do francês “beau” (“bonita” ou “bonito”) e foi apropriada pelos norte-americanos de uma forma semelhante ao que fizemos com “abajur” ou “sutiã”. Enquanto isso, sites, canais de televisão e outras mídias aqui no Brasil traduzem a expressão de uma forma mais simples: “meu amor”.
Ghost Down Dj’s e Jermaine Dupri
O termo “boo” era usado com mais frequência ao longo dos anos 90, popularizado mais especificamente por uma música, também chamada “My Boo“, lançada em 1996 pelo grupo Ghost Town DJ’s. A canção, indiscutivelmente o maior sucesso do grupo de Atlanta, foi lançada pela gravadora local So So Def, que já teve em seu catálogo nomes como Bow Wow e Xscape.
O dono da gravadora é o influente produtor musical Jermaine Dupri, que, vale dizer, assina a produção da parceria entre Usher e Alicia Keys lançada 8 anos depois. Que mundo pequeno!
Dream team de compositores
Além de Usher e Alicia, a composição também traz as contribuições de outros nomes influentes. O mais notável é o já citado Jermaine Dupri, que também assina a produção. Na mesma época, ele participou da concepção de outros grandes hits que foram para o topo das paradas. Em colaboração com Usher, as faixas “Confessions Part II” e “Burn” também o creditam e integram o influente Confessions, de 2004. Poucos meses depois, no início de 2005, Dupri trabalhou com Mariah Carey no grande sucesso de “We Belong Together“.
Completando o experiente time de compositores estão Adonis Shropshire e Manuel Seal. Shropshire trabalhou em outros sucessos do R&B do início do milênio com nomes como P. Diddy, Chris Brown, Ciara e Enrique Iglesias. Já Seal é creditado no trabalho de grandes artistas como Janet Jackson, Ashanti, Mary J Blige, TLC e Cherish. Cá temos um suco de anos 2000!
Encontro inusitado na Times Square
O clipe de “My Boo” tem direção de Chris Robinson, que já trabalhou com nomes Nas, Ne-Yo, Nicki Minaj e Santana e Snoop Dogg. O vídeo é quase didático ao ilustrar a história contida na letra. Os personagens de Usher e Alicia Keys são um casal que, apesar de não estarem mais juntos, ainda possuem carinho um pelo outro.
Eles são mostrados em lugares distantes, perdidos em meio a lembranças nostálgicas enquanto se preparam para sair. No final, eles acabam se encontrando em plena Times Square. Juntos em uma bela cena, eles dançam e se acariciam enquanto recitam a letra um para o outro. “Sei que não nos vemos há um tempo, mas você sempre será meu amor”, diz Usher olhando nos olhos de Alicia.
Sample dos anos 70
De acordo com o site Who Sampled, “My Boo” conta com amostras de uma canção lançada em 1976. Trata-se de “He’s All I’ve Got“, do grupo de vocal feminino Love Unlimited, que inicialmente fornecia vocais de apoio para Barry White.
O uso dos samples foi feito de forma estratégica. Em um vídeo em seu canal no Youtube, DJ AKEEN explica como esse recorte foi feito, acelerando-se um trecho que contempla arranjos de voz e mais alguns elementos instrumentais. A edição da música também faz recortes ao sample, dando a sensação “picotada” do hit que conhecemos.
https://www.youtube.com/watch?v=-d3rUbOR3s4