É claro que quando falamos em um filme de Quentin Tarantino a violência é um dos primeiros elementos que vem à mente.
Ainda assim, é terrível reduzir seu trabalho apenas a isso e parece quase inevitável que uma pergunta sobre o tema acabe surgindo em entrevistas com o diretor. Em 2013, por exemplo, isso aconteceu enquanto ele conversava com o jornalista Krishnan Guru-Murthy e Quentin acabou deixando escapar um desabafo:
Eu recuso a sua pergunta. Eu não sou teu escravo, e você não é meu mestre. Você não me vai fazer dançar a tua música. Eu não sou um macaco.
O entrevistador continuou pressionando para que ele respondesse sobre a possibilidade da violência no cinema influenciar a violência na vida real — ou, pelo menos, admitir que há uma predisposição para que a pessoa que gosta de violência no cinema goste de violência na vida real. Tarantino respondeu:
O motivo pelo qual eu não quero falar disso é porque eu já disse tudo que tenho a dizer sobre isso. Se alguma pessoa se importa com o que eu tenho a dizer sobre isso, ela pode me procurar no Google. E elas podem ver o que eu tenho a dizer sobre isso por 20 anos. Eu não mudei um pingo da minha opinião.
O diretor insiste que não quer falar do assunto pois a entrevista é um “comercial do meu filme”, e o jornalista continua insistindo ao dizer que ele tem a obrigação de fazer as perguntas difíceis.
O desentendimento continua por algum tempo com os mesmos argumentos de cada lado — “é meu trabalho te perguntar isso”, diz o repórter, e “eu não tenho que te responder”, diz Tarantino.
Eventualmente, o diretor diz que não tem “nenhuma responsabilidade” de explicar algo que ele não quer mesmo quando o repórter cita preocupações de pessoas como o “vice-presidente” (dos EUA, provavelmente) com a violência no cinema. Krishnan ainda consegue manobrar a entrevista e mudar de assunto antes do fim da conversa.
Você pode ver esse momento bem desconfortável em vídeo ao final da matéria, por volta dos 5 minutos.
Quentin Tarantino falando sobre violência no cinema
Vale lembrar que, na época, o The Atlantic resolveu compilar todas as declarações do diretor sobre o tema até então.
A primeira fala foi em 1993, ao Chicago Tribune. Por lá, ele deixou bem claro que não se preocupa com essa relação entre violência no cinema e na vida real:
Isso ainda é um filme. O ponto é que eu não sou responsável pelo que alguma pessoa faz depois que ela assiste a um filme. Eu tenho uma responsabilidade. Minha responsabilidade é fazer os personagens e ser o mais verdadeiro possível em relação a eles.
Talvez a fala mais interessante tenha vindo justamente em 2013, ao Fresh Air. Ele disse que estava bastante incomodado com a pergunta porque achava “desrespeitoso” falar disso. Quando o repórter questionou “desrespeitoso a quem”, ele explicou:
[É desrespeitoso] à memória das pessoas que morreram falar de filmes. Eu acho que é totalmente desrespeitoso às suas memórias. Obviamente a questão é o controle de armas e saúde mental.
Se você quiser ver mais várias falas de Quentin Tarantino sobre esse tema, clique aqui e acesse a matéria original em inglês.