Algumas bandas demoram a decolar. Mesmo com músicas ótimas, não é todo grupo que consegue a visibilidade merecida logo no início da carreira. É preciso que uma canção específica ganhe destaque e seja impulsionada nos mais diversos meios possíveis até que o nome se consolide. Felizmente, esse não é o caso da banda norte-americana The Strokes.
Formado oficialmente em 1998, o grupo de Julian Casablancas não tardou muito para emplacar hits no mundo do rock alternativo. Foi logo no primeiro disco, inclusive, que surgiram alguns dos maiores sucessos da banda até hoje. Um deles, em especial, ganhou expressivo destaque na mídia: “Last Nite“.
Lançada em 2001 no álbum Is This It, a faixa aposta em uma estética mais crua de rock em relação ao que estava sendo feito na época e é considerada hoje um dos grandes hinos da música indie.
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Aumente o volume e relembre abaixo o videoclipe e algumas curiosidades sobre esse ótimo hit!
Tom Petty
Sabemos que os conceitos de plágio e influência são separados por uma linha muito tênue, e isso de fato atingiu os Strokes. Isso porque a estrutura da música se assemelha muito ao que vemos em “American Girl“, faixa final do disco de estreia da banda Tom Petty & The Heartbreakers.
O riff de guitarra, o padrão seguido pela bateria e todo o resto remetem bastante ao hino indie que amamos. Obviamente, as semelhanças não tardaram a chegar no compositor de “American Girl”. Em 2006, em entrevista à Rolling Stone, Petty comentou sobre a situação:
Os Strokes roubaram a música. Existe uma entrevista com eles em que eles admitiram isso. Eles me fizeram rir bastante. Na época, pensei: ‘OK, bom para vocês. Isso não me incomoda’.
Ouça a música no player abaixo e compare:
A primeira versão
É claro que Is This It foi uma estreia impecável para os Strokes, mas este não foi de fato o primeiro lançamento da banda. Meses antes do disco, veio ao mundo o EP The Modern Age, com versões da faixa-título e das canções “Barely Legal” e “Last Nite” com sutis diferenças.
Particularmente sobre “Last Nite”, percebemos algumas diferenças especialmente no que tange à melodia vocal.
Responsabilidade emocional
No fundo, a letra de “Last Nite” nos atenta sobre a responsabilidade que temos com os sentimentos de outra pessoa quando estamos em um relacionamento amoroso. Sua companheira se mostra incomodada pela maneira como o eu-lírico a ignora. Perceber isso, no entanto, só fez com que ele se afastasse ainda mais.
No refrão, Julian crava que ninguém entende o que ele sente. Nem suas namoradas, nem seus netos (dando uma perspectiva futura) e, principalmente, nem o próprio eu-lírico.
Retrô na moda
The Strokes faz parte de uma revolução no rock do início do milênio, e podermos dizer que essa revolução foi crua. “Last Nite” se tornou uma das primeiras músicas que surgem na cabeça do fã de música quando se fala no movimento “garage rock revival”. É uma música direta ao ponto, estruturada de forma simples e com elementos retrô.
Por sinal, o videoclipe oficial, dirigido por Roman Coppola (sim, o filho do cineasta Francis Ford Coppola), também carrega essa estética. O resultado final aposta na simplicidade de uma apresentação da banda, com edições básicas. Deu tão certo que virou não apenas mania na MTV, como também serviu de inspirações para trabalhos posteriores de bandas com Sum 41.
Sobre essa estética musical peculiar, Casablancas disse, certa vez, que os Strokes são “uma banda do futuro que viajou para o futuro para gravar um disco”. Faz sentido para você?
Universo Cinematográfico dos Strokes
Ainda falando sobre o vídeo de “Last Nite”, ele estabelece uma conexão com outro clipe da banda: o de “Under Cover of Darkness“, lançado 10 anos depois.
A interessante referência se dá a partir da minutagem 2:04 no vídeo. Ao cantar o verso “Everybody’s singin’ the same song for ten years”, Julian pega o suporte de seu microfone e o arremessa para a direita. Ele faz exatamente o mesmo movimento durante a entrada do refrão de “Last Nite”. Quem pegou, pegou!
O que estava rolando na época?
2001 foi um ano interessantíssimo para o pop. Usher, Christina Aguilera, Mary J. Blige, Jennifer Lopez e mais emplacaram hits que são celebrados até hoje. Novos players também ganharam espaço e mergulharam de cabeça nas rádios, como Alicia Keys e Shakira. Mas e o rock?
System of a Down, Sum 41 e Nickelback ganharam maior popularidade e relevância com suas respectivas roupagens de rock. Mas os alternativos ganharam palco graças a The Strokes e Gorillaz, que, em seus discos de estreia, conquistaram logo de cara um público fiel.
O prestígio na cena alternativa
Apesar de ter falhado em adentrar o Hot 100 da Billboard (se é que essa foi a intenção em algum momento), o primeiro grande hit dos Strokes fez bastante barulho entre os alternativos. De acordo com a Rolling Stone, por exemplo, a banda deu uma chacoalhada no cenário mundial do rock. Ninguém, no início do milênio imaginava a revolução que estava por vir. De repente, “a molecada só queria ouvir ‘Hard To Explain’, ‘Last Nite’ e ‘Someday'”.
A imprensa voltada à música alternativa também destacou o poder dessa canção. De acordo com lista feita pelo NME e pela rádio XFM no final da década de 2000, “Last Nite” é o nono maior “hino indie” da história. A lista, encabeçada por “Live Forever” do Oasis, contempla outras 49 canções, incluindo nomes como Arctic Monkeys, The Smiths, Nirvana, Radiohead e mais.