Por Nathália Pandeló Corrêa
Olly Alexander leva uma vida dupla há anos. Se dividindo entre a banda com a qual tocou nos principais festivais do mundo e conquistou sucessos e a sua carreira como ator, suas vivências sempre se complementaram. Seja realizando um curta-metragem ousado para o segundo disco do Years & Years ou estrelando um filme embalado pelas canções de Belle & Sebastian, suas criações dialogaram entre si.
Embora o Years & Years tenha capitalizado fortemente no ressurgimento da tendência anos 90 na cultura pop, agora o projeto entra em uma nova fase: anteriormente um quinteto e, nos últimos anos, um trio, a banda se torna projeto solo com a saída amigável do baixista Mikey Goldsworthy e do tecladista Emre Türkmen. Olly segue com o nome Years & Years e já revelou o single “Starstruck”, primeiro gostinho do terceiro disco, que ele pretende lançar ainda em 2021.
O novo álbum foi todo composto em isolamento, durante um período de desafios criativos e de tumulto emocional diante da atual pandemia. Buscando se tornar uma luz no fim do túnel e a convidar para dançar mesmo diante do caos, Olly pode contar nesta fase com a expertise de nomes como Kylie Minogue, que surge em um dos remixes da nova música, e de Sir Elton John, com quem se apresentou no Brit Awards em uma potente releitura de “It’s a Sin”, dos Pet Shop Boys.
A música dá nome à série britânica aclamada pela crítica e da qual Olly Alexander integra o elenco. Criada por Russell T. Davies (Queer As Folk), um dos pioneiros na narrativa LGBT na TV, a minissérie se aprofunda na epidemia de AIDS na Inglaterra nos anos 80.
Diante desse novo momento, Olly Alexander tem muito a esperar do futuro — talvez ele até inclua um show no Brasil com a próxima turnê. O Tenho Mais Discos Que Amigos! conversou por Zoom com o artista sobre esses e muitos outros assuntos. Confira abaixo.
TMDQA! Entrevista Olly Alexander (Years & Years)
TMDQA!: Oi Olly, estou empolgada pra falar com você. Faz alguns anos que eu acompanho sua carreira e, como tantos, te descobri no filme God Help The Girl. E quando o primeiro disco do Years & Years saiu, mostrou um lado totalmente novo seu (pelo menos pra mim). Então queria saber se você sente que cada fase, cada disco do Years & Years é um capítulo da sua própria história à medida que vai evoluindo como pessoa e artista.
Olly Alexander: Sim, com certeza. Uma das melhores partes de ser um artista que lança discos é que você tem tipo esses capítulos bem tangíveis da sua história e quando eu ouço agora, penso sobre como foi fazer aquelas músicas, fazer a turnê do disco, tudo isso. Você tem marcos na sua vida e agora as pessoas chegam pra mim e falam “cresci com a sua música” e eu digo “espera aí, isso foi ontem!” (risos). Eu gosto de constantemente me sentir desafiado e tentar coisas novas, então seria triste ficar sempre igual, sabe?
TMDQA!: Com certeza, e desde então você criou tanta coisa boa, o que nos leva a It’s a Sin, um sucesso estrondoso. Claro que a série é importante por trazer vários tópicos sérios para debate, mas estava pensando que por você fazer parte da comunidade LGBT, talvez o Russell T. Davies seja quase uma instituição na sua vida, no sentido de que quando você estava crescendo, Queer as Folk teve um impacto tão grande. Você acha que o Russell mudou a sua vida, mesmo antes de vocês se conhecerem?
Olly: Acho que sim! Por isso conhecê-lo foi uma experiência quase cósmica, porque senti que algumas estrelas se alinharam na minha vida pra que eu pudesse conhecer o Russell num momento da minha carreira onde já fiz o que fiz pra ele estar pronto pra fazer essa série de TV. Não consigo pensar em uma oportunidade melhor e um projeto mais empolgante de se estar envolvido. Então com certeza eu estava agradecendo minhas estrelas da sorte.
TMDQA!: Ainda nesse tópico, você já teve a oportunidade de conhecer tanta gente brilhante na vida! Só recentemente, Kylie, Sir Elton John… Então falando de Strastruck, você se sente deslumbrado por alguma celebridade atualmente?
Olly: Eu me sinto assim perto de pessoas com quem cresci. Se eram de algum programa de TV quando eu era criança ou algo que eu amava quando era mais jovem, sabe? Eu adoro ser fã das pessoas, os grandes, Beyoncé, Rihanna… eu adoro ser fã das pessoas que admiro, acho legal expressar isso. Mas das pessoas que conheci recentemente, e porque Starstruck está tanto na minha cabeça, é louco pensar como é estar na presença de lendas como Sir Elton John, Kylie Minogue… Aprendi muito só de estar perto deles, e me deram tanto apoio. Ouvi-los falar de suas carreiras e pelo que passaram e como chegaram nesse status lendário, é algo muito legal de se presenciar.
TMDQA!: Essa era minha pergunta, na verdade, se eles te deram algum conselho que você pode aproveitar.
Olly: Eu toquei algumas músicas do meu novo disco pro Elton John e ele deu tanto apoio e foi gentil. Significa muito pra mim ter alguém assim me apoiando. Ele só diz “você precisa continuar fazendo o que você faz, Olly”. Depois que a gente fez a performance nos Brits juntos, ele me ligou e falou “você arrasou, se superou”, e isso foi muito importante pra mim. É uma honra enorme ter esse tipo de conexão com alguém que é tão icônico há décadas.
TMDQA!: E nossa, essa performance foi de arrepiar… Vocês dois juntos…
Olly: Nossa, obrigado!
TMDQA!: É verdade! Mas voltando rapidinho pra It’s a Sin, acho que combina perfeitamente o título vir da música do Pet Shop Boys por causa do momento que a história se passa. Deixando de lado a parte trágica daquela época, você se relaciona de alguma forma com aquele momento no aspecto musical? Porque sei que você é cria dos anos 90, assim como eu, mas você acha que faria um mergulho no pop dos anos 80 como tanta gente tem feito atualmente?
Olly: Sim, eu sempre fui fã de pop e dance music dos anos 80. Acho que foi uma época tão empolgante pra música eletrônica, o dance, o pop, a música em geral. Fazer It’s a Sin me deu a oportunidade de me envolver totalmente com aquela era, e todos nós do elenco ouvíamos playlists dos anos 80 todo dia, a trilha da série tem Kate Bush, Annie Lennox, Sylvester… Eu já tinha ouvido falar do Sylvester, mas descobri muito sobre ele fazendo a série, sobre como ele era uma figura icônica. Então ouvir as músicas daquela época e pensar que você podia estar na pista de dança e saber que você só ouviria de novo aquela música se alguém pegasse o disco e tocasse, a relação com a música era tão especial porque você não sabia quando poderia ouvir de novo. E eu amo essa ideia e sinto falta disso, acho, então adoro me inspirar por isso.
TMDQA!: Estou curiosa com o que você vai trazer pra gente daqui pra frente.
Olly: Ah, que bom! (risos)
Olly Alexander e Years & Years
TMDQA!: Mas falando dessa nova fase: sei que você já explicou o porquê do Years & Years ter virado um projeto solo, mas fiquei curiosa com uma coisa. Você construiu um nome próprio ao longo dos últimos 10 anos, as pessoas já te conhecem como Olly Alexander. Então por que manter o nome Years & Years?
Olly: Bem, eu pensei sobre a possibilidade de ser apenas “Olly Alexander” e lançar músicas. Mas senti que Years & Years é meu bebê e eu não estava pronto pra me despedir dele. O que esse projeto significa pra mim já ganhou uma forma maior do que eu poderia esperar, mas porque eu tinha a bênção de Mikey e Emre, pareceu a coisa certa a se fazer, de continuar essa história com os fãs também. E eu não estava pronto para parar de escrever músicas com Years & Years, eu ainda tinha o que dizer. Então acho que é uma dessas coisas (risos).
TMDQA!: Eu não estou reclamando, viu?
Olly: (risos) Eu sei!
TMDQA!: Você continua daí que a gente continua ouvindo daqui. Agora, sobre esse novo momento, sei que Starstruck foi meio que um produto do isolamento, de certa forma, porque você queria trazer um pouco de alegria e fazer as pessoas dançarem em casa. Mas criativamente, queria saber como você vai desse lugar de falta de esperança – em que muitos de nós ainda vivemos, aliás -, para a alegria, para a dança.
Olly: Sinceramente, é difícil! O processo criativo é difícil de definir, mas senti que estar isolado, estar em lockdown, especialmente nos primeiros dias da pandemia foi bem desafiador. Tentei ser produtivo, mas achei difícil criar qualquer coisa, o que me fez sentir inútil, meio deprimido. Eu acho que sabia que sairíamos disso, e saímos, mas tenho essa ética de trabalho em que… Bom, não lembro a frase exata (risos), mas aquilo de ser 99% de transpiração e 1% de inspiração. Você tem que continuar e eu com certeza estava determinado a terminar esse disco e eu estava escrevendo músicas, que mesmo que fossem ruins, pelo menos eu tinha feito. E aí partia para a próxima, e eventualmente as coisas se encaixaram e voltei a fazer o que amo fazer. Então isso foi o principal, encontrar a alegria no que eu faço. E sou muito sortudo de fazer o que faço, então foi só preciso apreciar isso.
TMDQA!: E como você disso, você construiu tanto ao longo dos anos… Aliás, bem vindo ao clube dos 30! Quando você olha pra trás (se é que você faz isso), você sente que aprendeu algo novo sobre si mesmo – algo que nem fazia ideia quando tudo isso começou?
Olly: Meu Deus! Como você disse, faz 10 anos, então é uma parte grande da minha vida. É um terço da minha vida.
TMDQA!: O que é bem louco.
Olly: Muito louco! E a jornada desse período é tão cheia de altos e baixos, tantas vezes ao longo do caminho eu pensei que algo ia acontecer, não acontecia, era diferente… Fracassos, rejeições, tudo isso, e é tentador olhar pra trás e pensar, “nossa, quanto eu aprendi sobre mim mesmo”, porque eu ainda não sei, ainda estou tentando entender. Mas aprendi a confiar em mim, o que eu nunca fazia antes. Eu ainda acho difícil fazer isso, porque sou ansioso e como todo mundo, sou inseguro, mas acho que ser colocado sob os holofotes faz você construir um pouco de armadura e defesas e descobrir em quem confiar. E confiança na verdade é sobre você mesmo também e se você confia em si mesmo. Então eu acho que agora é uma das coisas mais importantes que aprendi e continuo aprendendo todos os dias.
TMDQA!: Imagino! E falando em tempo, sei que temos que encerrar porque você está muito ocupado atualmente, mas tenho uma última pergunta, e é sobre o futuro. O que podemos esperar? Sei que tem o terceiro disco no horizonte, então queria saber se você pensa em fazer turnê solo com ele e se há chances de vir para o Brasil.
Olly: Ah! Eu quero tanto ir para o Brasil, me divirto tanto aí! A última tatuagem que eu fiz foi no Brasil, essa aqui [levanta a manga da blusa].
TMDQA!: O que é?
Olly: É uma lua da época do Palo Santo. Eu fiz no Lollapalooza, então eu adoraria voltar, assim que for possível. Basicamente estou terminando o disco agora, então as novas músicas vão chegar logo. O álbum ainda este ano, mas sinceramente ainda não sei sobre turnê. Assim que for possível, faremos. É difícil saber quando será, mas espero que seja em breve.
TMDQA!: Dedos cruzados.
Olly: Dedos cruzados!