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TMDQA! Entrevista: Mundo Bita e uma aula de educação através da música

Conversamos com Chaps Melo, idealizador do fenômeno Mundo Bita, sobre o papel do projeto pra criar uma nova geração de fãs de música.

Mundo Bita
Mundo Bita

Chaps Melo é um dos principais hitmakers do país e talvez você não o conheça.

Não pelo seu nome, mas o simpático cantor e compositor recifense é a voz, o conceito e – eu diria – a alma do bonachão apresentador de circo Bita, do fenômeno da música infantil “Mundo Bita”. Muito além da “Fazendinha” que se tornou até um meme, o projeto tem ampliado seu escopo de atuação com faixas ao lado de grandes nomes da música e versões bem inusitadas de clássicos da MPB.

Como pai de criança pequena, tenho ouvido muito o Mundo Bita. E projetos como a Rádio Bita parecem prezar pela sanidade dos pais ao mesmo tempo que apresentam e educam crianças através da música de modo lúdico.

Trocamos uma ideia com Chaps sobre essa trajetória impressionante e você pode conferir abaixo, no nosso canal do YouTube e no Podcast, em seu player favorito.

Após os vídeos, pode também ler a entrevista em texto se assim desejar.

Divirta-se!

 

 

TMDQA: Antes de tudo, estou muito empolgado de falar com você pois como pai de criança pequena, o Mundo Bita é meio que o “greatest hits” aqui de casa! Imagino que deve ser assim em vários lugares que você vai.

Chaps Melo: Nossa, isso é algo que ouço muito. Inclusive ouço de pais que, depois que as crianças passam da fase de ouvir o Bita, continuam ouvindo. (risos)

TMDQA: O que eu acho mais curioso é que o Bita é um hit por si só. Um tempo atrás, eu estava num uber, em um engarrafamento e minha filha ficou meio nervosa. Do lado do carro tinha uma obra e os pedreiros ao verem a criança começaram a cantar a “Fazendinha”. Parece que virou uma daquelas músicas de conhecimento popular. Como você vê essa música já se tornando parte da cultura pop brasileira? Indo além do que seria uma música infantil.

Chaps Melo: Pra gente é impressionante ao dobro. Quando fizemos a música foi algo tão pequeninho, de pai pra filho, sem uma pretensão de ser sucesso. Foi só por algo carinhoso mesmo. Isso é especial. Hoje vemos o Bita sendo citado em outras obras e isso é maravilhoso. Ver que por mais que foi criado de forma caseira, mambembe, a mensagem a se espalhar é maravilhoso. E tentamos olhar sem o viés comercial da coisa. Vendo que é algo positivo que conversa com as crianças, com as famílias e traz algo bom para as pessoas.

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TMDQA: Acompanhando o projeto dá pra ver que tem fases, evoluções, novos desafios. Me soa – como ouvinte – que são desafios para vocês mesmos. Recentemente vocês lançaram uma versão de “Primavera (Vai Chuva)”, clássico do Cassiano imortalizado por Tim Maia. Esse projeto Rádio Bita é muito legal pois ajuda a fazer a introdução de artistas para crianças. Alguns meses atrás, conversamos com o Alceu Valença e citei o fato que o público dele é plural e que a minha filha o conhece pelo Bita. Como surgiu esse projeto? Como é a recepção de artistas? E é legal que vocês trazem um repertório que não é infantil.

Chaps Melo: Esse projeto surgiu quando convidamos o Milton Nascimento pra cantar uma música do Bita, chamada “Trem das Estações”. Era um sonho chegar ao Milton e foi uma alegria passar um tempo com ele, que virou um padrinho do projeto. E a ideia meio que partiu dele. Ele disse “eu fiz uma de vocês, agora queria ver vocês fazendo uma minha, a ‘Bola de Meia, Bola de Gude’, que sempre pensei nela como uma musica pra criança”. E obviamente ninguém nega um convite do Milton Nascimento! (Risos) E ele entrou no Bita não só na música como na animação como uma amigo de infância do personagem. A partir disso, veio a descoberta de que estamos apresentando a música do Milton para pessoas que ainda não conhecem ele e o público dele está conhecendo a gente. Foi a partir desse projeto que surgiu o Rádio Bita. A seleção é muito baseada em artistas que nos tocaram com sua obra.

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TMDQA: Tanto que soa natural as músicas do Bita junto das do Rádio, elas se completam de um jeito ótimo.

Chaps Melo: Sim, são muitas que fazem parte do meu universo, que eu conheço tanto a ponto de poder brincar com elas. Teve uma vez que o Bituca tava me contando que estava em um show e tinha um pai e uma criança o show todo a criança ficou “Bita, Bita”. E no fim, o Milton perguntou pro filho dele “a criancinha tava falando Bituca?” e ele “não, nessa aí você perdeu” (Risos). Estar com esses artistas engrandecem nosso trabalho, dão uma chancela. Fazer esse com o Milton meio que abriu a porta para conseguirmos outros artistas.

TMDQA: A minha esposa fala que vocês já conseguiram artistas com filhos pequenos como a Pitty e a Ivete e isso deve ser o assunto que os filhos se vangloriam, tipo “pô, minha mãe cantou com o Bita”. Hoje vocês sentem que é mais fácil se aproximar com os artistas? Esse é um projeto de singles ou pensam em um dia reunir em uma coletânea? Quais os próximos passos desse projeto?

Chaps Melo: Eu sou um colecionador de música, amo discos e tenho muita vontade de juntar tudo. Tenho muita vontade de fazer tipo aqueles vinis coloridos de antigamente, saca? Se depender de mim, vai sair. Mas fomos fazendo em formato single, convidando os artistas ao longo do tempo. É algo que está rolando meio ininterrupto.

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TMDQA: E a música infantil faz parte da história da MPB. Desde a “Aquarela” de Toquinho até as músicas do Chico, do Vinicius. Mas houve um momento que virou algo muito mais nichado por um tempo. Você sente que hoje está mudando, ficando mais abrangente? E pra você, qual o papel do Bita nessa história?

Chaps Melo: Eu sempre consumi esse tipo de música, do Chico, do Toquinho e Vinicius. Esses realmente se misturam com a história da MPB e realmente por muito tempo a música infantil ficou muito dominada por shows de TV. A própria Rádio Bita faz um pouco desse resgate. O Mundo Bita em sua essência vem muito disso. Pois antes de tudo, tentamos nos comunicar com a criança sem menosprezar a capacidade de raciocínio dela. Isso foi alvo de críticas no começo, do mercado. De gente falando que era coisa que só ia vender na Vila Madalena, que era coisa de cabeção. (Risos) Mas a música não tem essa barreira. A criança não tem esse filtro e era assim que o pessoal fazia antigamente. Acho que isso que empolga muito os artistas. Agora nós estamos num patamar que os artistas chamam a gente, que é algo especial pra gente.

TMDQA: O Bita já está há algum tempo e vocês já estão vendo as crianças crescendo. Vocês pensam em fazer algo para crianças um pouco maiores? E é curioso como esse é um projeto que daqui a 20 anos muitos que cresceram ouvindo vão passar adiante, tem uma longevidade. É uma sementinha que vai ser redescoberta…

Chaps Melo: A ideia nem é ser redescoberta, é ser uma constância. Eu não gosto dessa coisa de hype, de falarem que o “Mundo Bita é uma febre”, pois isso vem e passa e queremos produzir sempre. A gente se inspira muito no modo como o Mauricio de Souza faz para manter uma produção constante e atual há décadas sempre inovando. Queremos fazer parte da cultura e não só pontuar uma época. É como você falou, a massa jovem vai mudando o gosto muito rápido e com essa produção constante temos a capacidade de alterar, de nos atualizar, de falar com a linguagem de hoje sempre.

Agora, nesse momento, estamos desenvolvendo uma série que traz dramaturgia pra série, que usava só a música como a linguagem. A gente fez um curta para apresentar a história do Bita e fazer a animação era um sonho. Isso vai até expandir a faixa etária do Bita e com a dramaturgia vamos conseguir abordar temas mais complexos também.

TMDQA: Tem algum que é uma obra clássica da música infantil brasileira que você leva como “olha, eu quero chegar nisso”?

Chaps Melo: Certamente, é a do Chico Buarque. O Bita tem uma relação forte com um disco que não é infantil, que é o “Grande Circo Místico’ do Chico e Edu Lobo. O Bita nasceu quando eu ouvia muito esse disco, o personagem é um apresentador de circo por causa desse álbum. Mas de produção infantil, “Os Saltimbancos’ do Chico é imbatível. É um álbum que ouço ainda muito com minhas filhas, toda viagem de carro a gente canta junto. Eu tenho até uma tatuagem dos Saltimbancos!