Médico especialista em doenças infecciosas avalia risco de retorno dos shows

O Dr. Amesh A. Adalja, dos EUA, foi convidado pela Billboard para explicar o risco do retorno dos shows no país norte-americano. Veja o que ele disse!

Retorno dos shows pós-COVID
Foto por Okan Caliskan via Pixabay

O retorno dos shows nos EUA e em outros países ao redor do mundo segue levantando muitas dúvidas entre os fãs de música, em especial aqui no Brasil onde ainda tentamos traçar um plano para retomar os eventos.

Na tentativa de responder algumas dessas perguntas, a Billboard conversou recentemente com o Dr. Amesh A. Adalja, um especialista em doenças infecciosas e em preparação para pandemias da Universidade Johns Hopkins, dos EUA, e também fã de música — inclusive tendo ido a shows de grupos como Nirvana Red Hot Chili Peppers.

Um dos primeiros assuntos abordados pela publicação é o polêmico Lollapalooza 2021, que aconteceu em Chicago há pouco tempo e, de acordo com estudos que citamos por aqui, não causou uma proliferação notável do vírus. De acordo com Adalja, isso é explicado pela alta quantidade de pessoas vacinadas no local:

Quanto mais gente vacinada, mais seguros [todos estamos]. Se você é a única pessoa não vacinada em um show com maioria vacinada, você provavelmente está em uma posição muito boa porque é menos provável que você seja infectado.

De fato, o Lolla teve cerca de 90% do seu público de 385 mil pessoas imunizado — uma estatística que pode literalmente ter salvo inúmeras vidas. Ainda assim, o médico ressalta que a vacina “não é uma raquete de matar mosquito”, ou seja, “o objetivo não era prevenir infecções, [mas sim] prevenir hospitalizações e mortes”. Nesse sentido, ele brinca usando uma metáfora musical, as vacinas estão “no topo das paradas”.

Afinal, o retorno dos shows deve acontecer ou não?

De acordo com Amesh, a resposta é sim. Ele explica com detalhes que há um limite para o que bandas e organizadores podem fazer e ressalta que não é justo ficar “contendo” os vacinados por conta dos não vacinados — que, no caso dos EUA, estão assim por escolha própria já que há imunizantes disponíveis para toda a população:

Eu acho que é correto [voltar com os shows]. Eu não tenho problemas com isso. Eles têm que ter consciência dos riscos que podem estar tomando. Alguns shows e bandas têm pedido para o público estar totalmente vacinado — é uma forma responsável de fazê-lo. Eventualmente, chega a um ponto onde há de haver algum aspecto de responsabilidade individual. Nós não podemos ficar contendo os vacinados pelos não vacinados.

Quando os hospitais estão lotados, como estão em partes da Flória, Texas, Louisiana, Missouri, você tem que ser mais cauteloso. Mas se você está em um lugar onde os hospitais não estão ficando superlotados, eu não tenho nenhum problema com esses tipos de shows.

Para as pessoas totalmente vacinadas, eu não acho que exista nenhum grande risco ou preocupação — se eles tiverem um caso raro, vai ser leve. Nós não podemos tentar parar as pessoas de terem casos leves e raros da infecção. Se esse for o caso, então não há um local de saída para essa pandemia porque esse vírus nunca vai embora. Nosso objetivo é prevenir a doença séria.

Reforçando isso, ele acredita que é “previsível” que existam casos a cada evento que acontece e que o foco realmente deve ser no número de “hospitalizações e mortes, não casos”.

E os locais fechados? E as crianças?

Outra grande dúvida diz respeito aos shows fechados. Por enquanto, a grande maioria dos eventos para muitas pessoas têm acontecido em lugares abertos, ou seja, em festivais que ocupam gramados e áreas onde o ar circula melhor. Para o médico, há sim uma maior preocupação no que diz respeito a essa mudança de ambiente:

Há riscos maiores de transmissão quando você tira as coisas de um lugar aberto para um lugar fechado porque as pessoas não podem naturalmente praticar o distanciamento social, a ventilação não vai ser a mesma. Não há luz do sol, umidade — todas essas coisas não vão ser necessariamente replicadas em lugares fechados. As pessoas vão ter que aprender a calcular riscos.

Para algumas pessoas esse risco pode ser que elas escolham não ir a shows em locais fechados. Para outras pessoas, elas podem sim ir a shows em locais fechados dependendo de sua tolerância individual de risco. A melhor forma de tornar esses locais seguros é ter o máximo de pessoas vacinadas.

Por fim, muitos também se preocupam com as crianças, já que muitas das pessoas com menos de 12 anos não estão sendo vacinadas. Amesh garante que a “variante delta provavelmente vai te encontrar se você não for vacinado”, e isso inclui sim as crianças — porém, elas “de forma geral são poupadas das consequências severas da doença”.

Isso não significa, de acordo com ele, que “não acontece”. “Significa que é bem raro que isso aconteça”, ele explica, ressaltando que outras doenças como o influenza têm um risco semelhante para as pessoas desse grupo. Então, como fazer para protegê-las? O médico responde, novamente exaltando a importância da vacina:

A melhor maneira de manter crianças abaixo dos 12 anos protegidas é ter o máximo possível de adultos vacinados. Muitas pessoas que apontam esse problema não percebem que elas estão indo para o acampamento de verão, estão jogando videogames no porão de alguém, estão fazendo várias outras coisas com fatores de risco. O risco de contrair uma infecção de uma pessoa vacinada é muito menor do que o risco que elas têm na vida diária, saindo com amigos que também não estão vacinados.

Tudo esclarecido, então? Você pode conferir essa entrevista completa com Amesh A. Adalja clicando aqui.