A cerimônia do Globo de Ouro aconteceu no dia 9 de janeiro e, além de não ter sido televisionada nem no Brasil nem nos EUA, não contou com a presença de nenhum artista de peso.
O boicote teve início em 2021, mas agora ficou evidente que a premiação tem muito menos prestígio do que alguns fãs poderiam imaginar. Esta foi a primeira vez desde 1979 que não houve transmissão da cerimônia.
Quem vota?
A Hollywood Foreign Press Association (HFPA) – Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood -, formada em 1943, é quem vota para escolher os vencedores do Globo de Ouro. O problema? Até o início de 2021, eram apenas 87 pessoas, entre jornalistas e fotógrafos de mais de 50 países, que formavam essa organização sem fins lucrativos.
A título de comparação, para escolher os vencedores do Oscar, são mais de 10 mil pessoas votantes. Cem vezes mais!
Práticas questionáveis
Parte da falta de credibilidade do Globo de Ouro vem de denúncias de corrupção e favorecimento. Pessoas ligadas à indústria cinematográfica acusaram diversas vezes a HFPA de aceitar subornos e presentes de estúdios e plataformas de streaming para beneficiar determinadas produções.
Uma das denúncias mais bombásticas reportou uma viagem luxuosa a Paris oferecida pela Netflix a membros da associação na época do lançamento da série Emily em Paris. O resultado foi uma indicação da série na categoria “Melhor Série de Comédia”, mesmo sendo consenso na crítica que ela não era lá essas coisas.
Music, controverso (para não dizer péssimo) filme dirigido por Sia, também conseguiu uma indicação após forte campanha.
No mesmo ano, a premiação esnobou I May Destroy You e Michaela Coel, criadora e protagonista da série. A produção da HBO foi uma das mais elogiadas em 2021.
Diversidade
Uma reportagem do Los Angeles Times publicada em 2021 revelou que, há pelo menos 20 anos, não havia sequer um negro entre os membros da HFPA. A falta de diversidade na associação foi o principal motivo para muitos gigantes da indústria se afastarem, como a própria Netflix, Amazon e Warner. Artistas também se manifestaram individualmente, como Mark Ruffalo e Tom Cruise (que devolveu seus três troféus).
Pouco depois foi revelado um e-mail no qual Philip Berk, ex-presidente da HFPA, se referia ao Black Lives Matter como um “movimento de ódio racista”.
O reflexo dessa falta de diversidade é óbvio quando se analisa as indicações: em 2021, no ano em que Michaela Coel foi esnobada, foram dez mulheres brancas indicadas nas categorias de “Melhor Atriz” em séries de TV.
Scarlett Johansson foi outra estrela que se posicionou de forma crítica em relação à HFPA. Mesmo tendo sido indicada quatro vezes ao longo de sua carreira, ela já se recusava a participar de entrevistas promovidas pela associação, por causa do tom sexista que os membros costumavam atribuir às perguntas às mulheres.
Depois de tantas críticas e propostas de boicotes, a NBC se recusou a transmitir o Globo de Ouro até que reformas significativas sejam promovidas na associação. A emissora era a responsável pela transmissão desde 1996!
Adequações
Ainda mergulhado nessas polêmicas, o Globo de Ouro já dá os primeiros passos para recuperar o prestígio, pelo menos com o público. Na edição de 2022, houve o feito histórico alcançado por Mj Rodriguez, a primeira mulher trans a receber o prêmio. Ela já havia feito história no Emmy, no ano passado, ao ser a primeira mulher trans indicada em uma grande categoria.
Também foram acrescentados 21 membros na HFPA. Metade dos novos integrantes são mulheres e seis são negros.
As medidas mostram que a associação está correndo atrás do prejuízo e quer que a edição de 2023 volte a contar com o apoio da indústria.