Texto por Felipe Ernani e entrevista por Tony Aiex
Quando se fala de música eletrônica brasileira, um dos primeiros nomes que vem à mente para muita gente é o Chemical Surf. O duo formado por Lucas e Hugo Sanches já se estabeleceu há algum tempo como referência não só no país, mas mundialmente.
Um dos principais motivos para isso é o lema “RIP Genres” — ou “descanse em paz gêneros”, em tradução livre — que permite que os irmãos explorem diversas direções musicais sem receios. Não à toa, já têm colaborações com nomes que vão de Steve Aoki a Gabriel O Pensador, e inclusive uma recente parceria com Kaskade que evidencia esse conceito ao incluir vocais históricos de Osvaldinho da Cuíca.
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Graças a tudo isso, o ChemSurf tem tido seus lançamentos sempre divulgados por algumas das maiores gravadoras do planeta — novamente, a variedade é a chave, permitindo que eles sejam abraçados por inúmeros nomes em suas versões de estúdio e abrindo caminho para as incríveis performances ao vivo, que não fazem uso ilegal de faixas, gravações ou trechos de músicas de outros artistas.
Isso tudo ficou mais do que evidente com a presença do duo no Tomorrowland da Bélgica, além de um histórico que já inclui passagens por festivais como Lollapalooza, Rock in Rio, Ultra, EDC e por aí vai. Inclusive, no grande evento belga e em outros locais como Ibiza, um novo set com 10 músicas inéditas deixou o RIP Genres ainda mais evidente.
O conceito é levado tão a sério que virou nome da gravadora dos irmãos, que chegou para que eles assumam o papel de produtores e lancem novos e interessantes nomes ao mercado.
Logo abaixo, você pode conferir um papo exclusivo do TMDQA! com o Chemical Surf falando sobre tudo isso e mais um pouco!
TMDQA! Entrevista Chemical Surf
TMDQA!: O nome “RIP Genres” é bem explícito, desejando que rótulos para gêneros musicais descansem em paz e barreiras sejam quebradas quando o assunto é música. Como surgiu essa ideia e como foi colocá-la em prática?
Chemical Surf: É uma expressão particular pra nossa carreira, no sentido que não vamos ficar presos em apenas um estilo de música só porque está na “hype”. Adotamos esse lema em 2013, depois de dez anos de carreira, estávamos enjoados do “vai e vem” de estilos que ficam em alta por um tempo, mas depois perdem a graça e são substituídos. Melhor sentir a música sem se preocupar em qual gênero está inserida.
TMDQA!: Uma das críticas quando falamos sobre iniciativas ecléticas é que não se cria uma identidade justamente pela abordagem em torno de vários lados. Como vocês entendem a criação dessa estética e a consolidação da identidade de vocês?
Chemical Surf: A gente gosta de passear entre os estilos sem perder nossas características, o que faz a gente não perder nossa identidade é justamente produzir, mixar e masterizar todos nossos lançamentos, automaticamente as músicas ficam com a nossa cara, independente do estilo que estamos fazendo. O house e o techno tem vários sub-gêneros que conversam entre si e são os dois estilos que mais nos influenciaram na carreira. Estamos sempre juntando nossas referências pra criar coisas que soam como algo novo pra gente.
Atualmente normalizaram o “ghost producer” na música eletrônica, a maioria dos artistas que crescem na cena acabam pagando outro produtor quando vão repaginar o estilo de som, alguns “ghosts” até recebem salários mensais de grandes estrelas pra manter um fluxo alto de lançamentos, mesmo fazendo incontáveis turnês. Assim, vários “ídolos” acabam virando apenas garotos propagandas das músicas, fazendo marketing, não a música em si. O público provavelmente nunca vai se dar conta, justamente pela blindagem que rola por traz de quem faz isso.
TMDQA!: Os encontros e feats formam uma característica importante da ideia de vocês. Como surgem os convites e como pensam nos nomes com os quais gostariam de colaborar?
Chemical Surf: Cada colaboração surge de uma maneira diferente, as vezes criamos o instrumental pensando diretamente no vocal de alguém que gostamos do timbre de voz ou pensando nos produtores que tenham nos convidado pra collab. Mas também recebemos várias ideias de outros produtores, quando tem algum elemento que nos deixa interessados em trabalhar na música, pedimos os stems e tentamos algo!
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TMDQA!: Por fim, a produção também é um aspecto forte do projeto e vocês não apenas lançam músicas próprias como querem dar vazão a obras de outros artistas com o dedo de vocês em estúdio. Como o conceito se aplica nessa outra face do trabalho?
Chemical Surf: Gostamos de fazer releituras de outras músicas também. Muitas delas fazemos apenas pra tocar em nossas apresentações, outras pra lançar como remix oficial e apresentar novos artistas. Procuramos sempre trazer nossas características para os remixes que trabalhamos. Temos muitas novidades pra soltar até o final do ano, incluindo turnês, parcerias e muita música nova!
TMDQA!: Depois de turnês internacionais nos EUA e a próxima na Europa, acreditam que este conceito de não ter gêneros é atrativo no mercado internacional?
Chemical Surf: Sim, desde que não fuja muito do que está rolando por lá. Nossas músicas são tocadas por artistas de estilos totalmente distintos, vai de Claude Vonstroke a The Chainsmokers, de David Guetta a Joseph Capriati, assim por diante. Assim como nossos lançamentos também abrangem labels distintas como Suara e Defected ou Spinnin’ e Stmpd.